segunda-feira, 22 de julho de 2019

A inacreditável eutanásia da produção industrial brasileira






por José Martins, da redação.



Para justificar a aprovação da reforma da Previdência os economistas
brasileiros (do governo e do mercado) não cansavam de dizer que ela era
necessária para que a economia voltasse a crescer. O mesmo argumento,
aliás, que também utilizaram nos casos da reforma trabalhista, teto de
gastos do Orçamento, privatizações de empresas e serviços públicos,
desregulações do mercado, etc.

Por que essas reformas fariam a economia retomar o crescimento?  Por
causa da “explosiva divida pública” do país. Nada mais além disso. Por
causa de um suposto desequilíbrio das contas públicas a economia não
poderia voltar a crescer. É o que eles sempre dizem..

Mas esses economistas ficam muito perturbados quando se compara a
relação divida pública/PIB do Brasil com o que existe no resto do mundo
– principalmente com as economias dominantes, como verificaremos mais
abaixo – e se conclui que essa “explosiva dívida pública” brasileira não
é tão explosiva a ponto de ser um motivo suficiente para paralisar a
produção no país.

O fato é que muita gente acreditou neste lero-lero que a “nova
Previdência” e outras reformas comandadas pelos capitalistas da
indústria e outras classes parasitas do sistema trariam a economia de
volta ao crescimento, à geração de emprego, etc.

É nisso que essas pessoas ingênuas acreditaram. E continuam acreditando.
Mesmo que os próprios patrões e seus economistas desmintam
posteriormente que essas promessas eram falsas.

Como agora, nas últimas semanas, depois de vencerem covardemente mais
uma batalha contra os trabalhadores produtivos no país, eles vêm a
público para dizer com a maior cara de pau do mundo que a *reforma da
Previdência é um passo importante, mas não garante retomada do
crescimento*
<https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/07/16/previdencia-e-passo-importante-mas-nao-garante-retomada-do-crescimento-dizem-economistas.ghtml>.

E o pior, a recuperação prometida ainda vai demorar, dizem eles. Só no
longo prazo, sabe-se lá quando, pode-se imaginar a economia voltando a
crescer acima de 3% ao ano, pelo menos. Só depois de um número infinito
de reformas no sistema.

E não desistem. Continuam com o mesmo lero-lero. Garantem que todas
essas infinitas reformas e apertos fiscais futuros terão o mesmo efeito
dinamizador da atividade econômica das reformas trabalhistas, do teto de
gastos, das privatizações, da Previdência, etc.

“O crescimento econômico requer outras reformas. Há um certo sonho de
que a simples aprovação da reforma da Previdência produziria uma
explosão de investimentos, e o Brasil voltaria a crescer como jamais
cresceu no passado. Isso não é verdade”,  diz o conhecido economista
Affonso Pastore, da USP e Ibre da Fundação Getúlio Vargas.

E explica: “Nós não temos o investimento sendo uma força propulsora. Não
temos também impulso vindo das exportações. E, finalmente, não é
possível usar estímulos fiscais porque o governo está fazendo o
contrário, está fazendo um ajuste. Ele corta gastos. Isso significa que
a recuperação da economia é lenta. Não há como sonhar uma recuperação
muito forte.”

Ele só não explica por que o governo brasileiro continua fazendo esses
idiotas ajustes fiscais e cortando gastos (não os gastos financeiros,
mas os gastos correntes). Desnecessariamente, pelo menos para a produção
real. Como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Como se algum
vestígio dessa desastrosa política fiscal da economia do imperialismo na
periferia do sistema ainda existisse nas principais economias do mundo,
como EUA, Alemanha e Japão.

Para Marcos Lisboa, outra figurinha carimbada da economia do
imperialismo no Brasil, o cenário para a retomada da produção é ainda
mais preocupante. Mesmo, repita-se, depois das reformas trabalhistas,
teto de gastos no Orçamento, privatizações, Previdência, etc.

Para ele, todos estes sacos de maldade que eles empurraram pela goela
abaixo dos trabalhadores produtivos nos últimos anos ainda não foram
suficientes. Vejam suas explicações:

“Se não acertar a questão tributária, do comércio exterior e da
infraestrutura, a notícia é ruim. O país chegou na situação em que
chegou por tentativas precipitadas de descobrir um atalho, inventar uma
novidade, desonerar a folhar, dar um crédito do BNDES, dar um estímulo
para um determinado setor. Essas medidas precipitadas é que geraram esse
caos institucional que a gente vive no ambiente de negócios. É preciso
desfazer o que foi feito na última década para que o investimento volte
a crescer e o país volte a gerar mais renda. Essa agenda está demorando
para avançar. E quanto mais demora para andar, piora a estagnação”.

Todos esses economistas da periferia capitalista são perigosos
chantagistas. O Sr. Lisboa é um pouquinho mais que os outros. Continua
jogando todos os males e dificuldades atuais da economia na desgastada
desculpa da “herança maldita” da administração de Guido Mantega na
economia. E aquela ingênua opinião pública acredita piamente nisso.

Todo lero-lero repetido milhões de vezes vira verdade.

Os economistas do mercado são altamente desonestos. Aquilo, por exemplo,
que o Sr. Lisboa chama de “tentativas precipitadas de descobrir um
atalho”, “inventar uma novidade”, “dar um estímulo para determinado
setor”, etc. nada mais é do que tudo que se faz atualmente nas economias
dominantes do sistema. Políticas anticíclicas para evitar, pelo menos
provisoriamente, a queda livre do sistema.

Assim, o relaxamento quantitativo dos famosos “helicópteros de Bernanke”
e todas as políticas monetárias “inventadas” pelos bancos centrais dos
EUA (Fed), da União Europeia, Japão, etc. para evitar uma súbita
paralisação das suas economias, a partir crise global de 2008/2009,
entrariam facilmente nesta lista de “medidas precipitadas” que o Sr.
Lisboa considera desonestamente como a verdadeira razão da estagnação da
economia brasileira.

Além destas políticas monetárias de taxas de juros zero e ampliação
desmesurada do crédito e endividamento das corporações privadas nas
economias dominantes do sistema, o que o Sr. Lisboa e comparsas diriam
das políticas fiscais anticíclicas aplicadas desde a crise de 2008/2009
nestas mesmas economias que comandam a economia do imperialismo na
periferia do mercado mundial?

Observe-se que foram estas políticas de gastos e déficits públicos
recordes nos últimos setenta anos que levaram, até este primeiro
semestre/2019, a uma relação dívida pública/BIB de mais de 100% nos EUA
<https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2019/02/20/interna_internacional,1032192/divida-dos-eua-bate-recordes-sob-a-presidencia-de-trump.shtml>,
de mais de 250% no Japão, Europa (85%) Itália (132%), França (99%),
Espanha (97%), Alemanha (61%).

Há uma mudança na política econômica mundial. Do mesmo modo que o
relaxamento quantitativo na política monetária dos bancos centrais, o
déficit público deixa de ser um problema fiscal nas economias dominantes
quando se trata de impedir que a crise periódica de superprodução do
capital ameaça empurrar a produção e o emprego para o precipício.

Guido Mantega simplesmente imaginava que no Brasil se pudesse fazer
essas políticas econômicas de gente grande. Ignorou, como escrevemos
abundantemente, no mesmo momento que ele as executava, a realidade do
imperialismo que comanda totalitariamente as políticas econômicas
impostas à economias dominadas como o Brasil.

A China, por exemplo, outra grande economia dominada, como o Brasil,
luta neste momento contra essa massacrante realidade imperialista.
Verifica-se que o estoque total de dívidas corporativas, domésticas e do
governo do até recentemente chamado “chão de fábrica do mundo” agora
excede 303% do produto interno bruto do país e representa cerca de 15%
de toda a dívida global. É o que informa nesta semana a Bloomberg News
<https://www.bloomberg.com/news/articles/2019-07-16/china-s-debt-growth-keeps-marching-on-as-economy-loses-pace>.

No Brasil, a relação divida pública/PIB subiu de 60,8% em 210 para
míseros 77,2% em março de 2019 (último dado disponível). A relação
divida pública/PIB no Brasil é menor que a média mundial (85%) e muito
menor que no Japão, EUA, França, Itália, etc. Pouco mais elevada que na
Alemanha.

No entanto, é essa falácia de um “explosivo endividamento público
brasileiro” que é usada pelos economistas do imperialismo – capitaneados
no Brasil por gente como os Srs. Lisboa, Pastore et caterva – para
justificar suas inócuas reformas e ajustes fiscais, engessar a economia
e, finalmente, encaminhá-la para o sucateamento puro e simples, para uma
inacreditável eutanásia das forças produtivas nacionais.

Para finalizar, como se materializará no curto-prazo esta eutanásia?
Volta-se à angustiante pergunta inicial: o que se pode esperar da
economia real para os próximos trimestres?

A economista Alessandra Ribeiro, responsável pela área de macroeconomia
da consultoria Tendências, bem mais ingênua politicamente que seus
colegas acima citados, abre o jogo e dá alguns números para o futuro da
massacrada massa trabalhadora no Brasil.

“ A Tendências projeta um crescimento da economia um pouco abaixo de 1%
neste ano. No ano que vem, um avanço de 2%. A economia ganha um pouco
mais de tração a partir de 2021. Nesse cenário, a taxa de desemprego cai
muito gradualmente, ainda estimamos taxa de desemprego em 11% ao final
de 2022. Mas isso não significa que a economia não está gerando emprego.
Está, mas é um trabalho mais informal. Nós esperamos este ritmo de
criação de emprego ganhando mais tração, crescendo ao redor de 1,5% ao
ano, mas com uma mudança na sua composição, de menos informal e mais
formal.”

No começo de 2019 eles previam, computando a aprovação da reforma da
Previdência, que acabou acontecendo, um crescimento de 2,5% para este
ano. Agora, depois da dita cuja aprovada, estão prevendo “um pouco
abaixo de 1%”, como informa a Sra. Ribeiro.

Considerando o histórico pouco recomendável destas previsões do mercado,
não há muito risco de se prever um crescimento real “um pouco abaixo de
zero¨. Na virada do ano a economia brasileira estaria saindo da
estagnação e entrando na depressão.

Neste cenário da empresa da Sra. Ribeiro, que é mais ou menos
compartilhado por todos os economistas do mercado, só dentro de dois a
três anos “a economia ganha um pouco mais de tração”.

O desemprego? Continuará, segundo essa previsão, praticamente no mesmo
nível até final de 2022. Portanto, por mais três anos e meio os
trabalhadores serão obrigados a enfrentar filas cada vez mais
quilométricas para uma mísera vaga de emprego. Informal, diga-se de
passagem, considerando-se os efeitos maléficos mais do que evidentes da
reforma trabalhista sobre os trabalhadores produtivos.

E depois do final de 2022? Isso é um grande mistério. O futuro a Deus
pertence, dirá a Sra. Ribeiro e os inabaláveis economistas do capital e
do imperialismo.

Com essa sublime imprecisão e cinismo perante o mundo real, perante o
sofrimento da classe trabalhadora expulsa da produção, eles estão
prometendo à nação em transe que haverá melhora do crescimento só no
longo prazo. Vai demorar anos e anos…

Que até lá cada um se vire como pode. Eles se esquecem o que dizia lorde
John Keynes, o guru dos economistas de Estado: “no longo prazo todos nós
estaremos mortos”.

Ele se referia, evidentemente, à classe capitalista e todos os demais
parasitas do sistema.

Lorde Keynes se referia às classes proprietárias que ele mesmo
representava e procurava salvar naquele momento de crise catastrófica da
economia mundial da revolta e da revolução dos trabalhadores produtivos
em todo o mundo.

In
CRÍTICA DA ECONOMIA
https://criticadaeconomia.com/2019/07/a-inacreditavel-eutanasia-da-producao-industrial-brasileira/
18/9/2019

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