quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A reescravização dos povos ocidentais



por Paul Craig Roberts [*]

A reescravização dos povos ocidentais está a verificar-se a vários
níveis. Um deles, acerca do qual tenho escrito durante mais de uma década,
decorre da deslocalização de empregos. Os americanos, por exemplo, têm uma
participação decrescente na produção dos bens e serviços que lhes são
comercializados.

A outro nível estamos a experimentar a financiarização da economia
ocidental, acerca da qual Michael Hudson é o perito principal ( Matando
o hospedeiro , Killing the Host). A financiarização é o processo de
remoção de qualquer presença pública na economia e de converter o
excedente económico em pagamentos de juros ao sector financeiro.

Estes dois desenvolvimentos privam o povo de perspectivas económicas. Um
terceiro desenvolvimento priva-o de direitos políticos. As parcerias
Trans-Pacífico e Trans-Atlântica eliminam soberania política e transferem
o governo para corporações globais.

Estas chamadas "parcerias comerciais" nada têm a ver com comércio. Estes
acordos negociados em segredo concedem às corporações imunidade em relação
às leis dos países com os quais elas fazem negócios. Isto é alcançado ao
declarar que qualquer interferência de leis e regulamentos existentes ou
em perspectivas sobre lucros corporativos como restrições ao comércio,
pelo que as corporações podem processar e multar governos "soberanos".
Exemplo: a proibição em França e outros países de produtos de organismos
geneticamente modificados (OGM) seria negada pela Parceria
Trans-Atlântica. A democracia simplesmente substituída pelo domínio
corporativo.

Eu tinha intenção de escrever acerca disto há muito tempo. Entretanto,
outros, tais como Chris Hedges, estão a fazer um bom trabalho na
explicação da captura de poder que elimina governos representativos.

As corporações estão a comprar poder a preço barato. Elas compraram toda
a Câmara dos Representantes (House of Representatives) dos EUA por
apenas US$200 milhões. Isto é o que as corporações pagam ao Congresso para
concordar com a "Via Rápida" ("Fast Track"), a qual permite ao agente
das corporações, o Representante Comercial dos EUA, negociar em segredo
sem a contribuição ou supervisão do Congresso .

Por outras palavras, um agente corporativo dos EUA faz a negociação com
agentes corporativos dos países que serão abrangidos pela "parceria" e
este punhado de pessoas bem subornadas redigirá um acordo que ultrapassa a
lei de acordo com os interesses das corporações. Ninguém a negociar a
parceria representa os povos ou os interesses públicos. Os governos dos
países em parceria incomodam-se em votar a proposta – e serão bem pagos
para votar pelo acordo.

Uma vez em vigor estas parcerias, o próprio governo será privatizado. Já
não haverá mais qualquer sentido em legislativos, presidentes,
primeiros-ministros, juízes.

Tribunais corporativos decidem a lei e determinam as sentenças

É provável que estas "parcerias" venham a ter consequências inesperadas.
Por exemplo: a Rússia e a China não fazem parte dos acordos e nem o Irão,
Brasil, Índia e África do Sul, embora de modo separado o governo indiano
pareça ter sido comprado pelo agronegócio americano e esteja em vias de
destruir seu auto-suficiente sistema de produção alimentar. Estes países
serão depositários de soberania nacional e controle público enquanto a
liberdade e a democracia extinguem-se no ocidente e entre os vassalos
asiáticos do ocidente.

A revolução violenta por todo o ocidente e a completa eliminação do Um
Por Cento é uma outra consequência possível. Uma vez que, por exemplo, o
povo francês descobre que perdeu todo o controle sobre a sua dieta para a
Monsanto e o agronegócio americano, os membros do governo francês que
lançaram a França na servidão dietética aos alimentos tóxicos
provavelmente serão mortos nas ruas.

Acontecimentos desta espécie são possíveis por todo o ocidente quando os
povos descobrirem que perderam todo o controle sobre todo aspecto das suas
vidas e que a sua única opção é a revolução ou a morte.

09/Novembro/2015

O original encontra-se em
sputniknews.com/columnists/20151109/1029803298/us-west-economy-values.html


In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/crise/roberts_09nov15.html
12/11/2015

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