terça-feira, 24 de novembro de 2015

As escolas tomadas no Estado de São Paulo












Henrique T. Novaes *

De 2011 a 2013 a juventude chinela viveu a sua “primavera”. Os estudantes chilenos –
e uma parte dos professores – promoveram inúmeras lutas que giram em torno da
desmercantilização da educação: lutas pelo passe livre, “desmunicipalização sem
privatização”, “fim do lucro”, “melhoria das condições de trabalho docente”. Essas
lutas foram feitas através da auto-organização dos alunos e tinham como pilares a
centralidade das assembleias, a revogabilidades dos cargos e a mínima interferência
dos partidos políticos.

Lembremos que a ditadura Pinochet foi pioneira na região no que se refere a
implantação dos princípios neoliberais na educação: cobrança de mensalidades nas
universidades públicas e municipalização do ensino são bons exemplos. Nos anos
2000, com o endividamento das famílias chilenas e o aumento do desemprego de
parcelas da classe média e trabalhadora, elas não conseguem mais pagar as
mensalidades.

Agora chegou a vez da “primavera” dos estudantes paulistas. Os cálculos variam de 80
a 100 escolas tomadas pelos estudantes. No dia de hoje (23/11) a Justiça negou a
reintegração de posse das escolas – solicitada pelo governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin (PSDB). Geralmente considerados “apáticos”, “geração facebook”, os
estudantes secundaristas paulistas mostram novamente a sua indignação. Eles saíram
às ruas em 2013, lutando pelo passe livre. Agora tomam escolas, sua verdadeira
“fábrica”, se auto-organizam em comissões de limpeza, comunicação, alimentação...
para resistir a esta nova investida do governo.

Tive a oportunidade de conversar com parte desses jovens na cidade de Marília nesta
sexta feira. Em cerca de uma hora me falaram sobre o significado do fechamento da
escola, a forma como estão se organizando, a ação truculenta da polícia paulista, a
ajuda de parte dos professores da escola e dos estudantes da Unesp na resistência e
ocupação da escola. Falaram também sobre privatização, desemprego, da escola
desvinculada da vida, e sobre os diretores autocráticos.

A proposta de reorganização paulista faz parte de um grande pacote – que poderíamos
chamar de Neoliberalismo Fase II – que destrói a educação pública, desde a educação
infantil até a pós graduação. Para entender o que está acontecendo no Estado de São
Paulo, é preciso olhar primeiramente a expansão do ensino privado em todos os níveis
educacionais. Alguém tem dúvida que a educação é um das novas fronteiras de
acumulação de capital?

Do ponto de vista dos escombros públicos a “reorganização” faz parte de um pacote
que envolve também as Escolas Técnicas (ETECs), Faculdades de Tecnologia (FATECs) e
Universidades Estaduais. Estas reformas pretendem aumentar o desempenho dos


professores (tríade eficiência, efetividade e ) para diminuir os custos da educação
pública, criar “centros de excelência” nas universidades estaduais, deixando o máximo
possível da educação para as corporações educacionais.

É curioso observar que metade dos jovens paulistas está fora do Ensino Médio. Num
momento que precisamos de mais e mais escolas, o governo do PSDB simplesmente
fecha escolas. Num momento do capitalismo onde tudo é custo, deve-se jogar alunos
como se fosse rebanho de lá pra cá para evitar o “desperdício” e aumentar a
“eficiência” do Estado capitalista. Junto a isso, separar o Fundamental II do Ensino
Médio é um bom negócio dentro da ótica do Estado neoliberal que dá presentes de
grego aos municípios. É bem provável que o próximo passo seja entregar a educação
aos municípios, que evidentemente não tem as condições gerais para gerir a educação.
Aí está um belo exemplo de decadência ideológica da elite paulista, que não tem nada
mais a oferecer a não ser porrada e prisão aos seus jovens. Aguardemos as cenas do
ring estudantes x secretário...




* Docente da UNESP Marília, é um dos organizadores do Livro
“Movimentos Sociais, Trabalho Associado e Educação para além do capital (São Paulo:
Outras Expressões, Vol. I e II)




Nenhum comentário:

Postar um comentário