terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Venezuela: derrota eleitoral revolucionária, por agora!






por Carlos Morais

Nom por prevista é menos dolorosa. A derrota eleitoral de ontem na
Venezuela polas forças revolucionárias e de esquerda articuladas no Gran
Polo Patriótico Simón Bolívar [GPPSB], é umha má notícia para o povo
trabalhador venezuelano, mas também para o conjunto dos povos
latino-americanos e caribenhos, e do resto do mundo, como o galego.

O resultado das eleiçons legislativas venezuelanas tem umha dimensom
geo-estratégica polo rol que cumpre o processo revolucionário – tanto a
escala continental como no ámbito global – como um dos mais destacados
referentes anti-imperialistas. Eis a importáncia concedida antes e depois
polos meios de [des]informaçom maciça; primeiro, a gerarem um estado de
opiniom hostil com a Revoluçom – que identificam com umha dessas ditaduras
que os seus proprietários tam bem conhecem, ao questionarem o seu sistema
eleitoral e apresentarem Maduro como um ditador – e agora a avalizarem com
mal dissimulado entusiasmo o resultado e a exigirem celeridade na
aplicaçom do "mandado popular" para iniciar a "Transiçom", de maneira que
se identifique as legislativas de ontem com um plebiscito sobre Maduro e a
continuidade da Revoluçom Bolivariana.

Um conjunto de fatores permitem compreendermos este novo cenário

Sem lugar a dúvidas, a guerra económica que o País padeceu nos últimos
anos, traduzida na sabotagem económica e elétrica que tem provocado um
enorme desabastecimento de produtos básicos e no aumento da inflaçom,
minárom o apoio popular à Revoluçom Bolivariana.

Mas nom só podemos agarrar-nos a este fator para explicarmos a
contundente vitória eleitoral da contrarrevoluçom na Venezuela.

Um processo revolucionário que nom avança inevitavelmente retrocede. O
processo revolucionário chavista e bolivariano nos últimos dous anos tem
estado submetido a um profundo debate entre o setor que hegemoniza o poder
institucional e a base auto-organizada nos partidos, coletivos e
movimentos sociais revolucionários inseridos no PSUV ou com projetos
claramente autónomos como o representando polo Partido Comunista da
Venezuela.

Este debate até agora sempre se saldou com a vitória ideológica do
primeiro, visado na defesa de um modelo nacional de capitalismo de estado,
contrário a avançar no horizonte socialista, mais preocupado por perpetuar
e blindar os privilégios atingidos pola que se denomina corretamente como
boliburguesia, que por implementar um programa e um conjunto de medidas
de choque para solucionar o desabastecimento que desgasta a moral do povo,
e por desenvolver o "Programa da Pátria [2013-2019]" elaborado por Chávez.

A morte prematura de Hugo Chávez em março de 2013 acelerou as
contradiçons internas no movimento bolivariano e a presidência de Nicolás
Maduro nom foi quem nem de atalhar a corruçom, nem a insegurança emanada
da delinquência [ malandros ] e o paramilitarismo com vínculos diretos
com os partidos e dirigentes da contrarevoluçom.

As luitas intestinas, cada vez mais públicas e sonoras, no seio do PSUV e
as ambiçons de Diosdado Cabello por ocupar o Palácio de Miraflores
contribuírom a desenhar um cenário onde o resultado de ontem era mais que
previsível.

Para a casta que ocupa o poder no seio do Estado e do PSUV, e que mantivo
enorme passividade à hora de combater a corrupçom e agiu com enorme
prepotência e petuláncia, o Socialismo nom passa de ser umha palavra de
ordem vazia de conteúdo. O comandante Hugo Chávez foi transformado num
fetiche desprovido do seu projeto genuinamente revolucionário, mas útil
para ganhar eleiçons pola profunda devoçom e legitimidade com que conta
nas entranhas da Venezuela pobre e popular.

Venceu a direita pro-imperialista, a oligarquia que mantivo a Venezuela
como umha neocolónia ianque e o povo na miséria absoluta até 1999, e todo
indica que tentará reverter as conquistas sociais atingidas, desmontar a
arquitetura institucional da Revoluçom Bolivariana e mudar a política
internacional de integraçom Latino-americana e caribenha, a da Pátria
Grande frente o imperialismo ianque. A vitória de Macri na Argentina e a
tentativa de impeachment a Dilma fazem parte desta estratégia de
ofensiva imperialista em que devemos enquadrar a normalizaçom das
relaçons diplomáticas com Cuba e o apoio ao processo de paz na Colômbia.

Situaçom inquietante

Quando escrevo estas reflexons de urgência ainda faltam por assignar 22
representantes ["curules"] da Assembleia Nacional. Atualmente o GPPSB
logrou 46, frente aos 99 do MUD. Se a contrarevoluçom atingir 2 mais,
poderá censurar membros do governo; e se chegar aos 110, poderá promover
referendos, reformas constitucionais, promulgar leis orgánicas que
desmontem a arquitetura institucional bolivariana e mesmo iniciar um
processo para umha nova Assembleia Constituinte.

A contrarevoluçom vai apresentar esta vitória como um plebiscito que
deslegitime a presidência de Nicolás Maduro. Sem lugar a dúvidas, a
instabilidade política e social que vive a Venezuela vai continuar, agora
com umha correlaçom de forças institucional alterada. Nom esqueçamos que a
direita, por primeira vez, já nom questiona os resultados nem a
legitimidade do Conselho Nacional eleitoral, já nem montou guarimbas nos
bairros ricos, nem protestou. Agora a sua estratégia vai centrar-se na
erosom a Maduro, mesmo tentará forçar a convocatória de um referendo para
revogar a Presidéncia da República.

Desafios do chavismo

O chavismo tem dous grandes reptos: recuperar o apoio popular perdido,
ativar esse importante setor da base social chavista desencantada que
ontem votou tapando-se literalmente o nariz, como condiçom indispensável
para gerar as condiçons subjetivas que permitam dirigir e capitalizar umha
contraofensiva contra a reaçom que tentará liquidar as conquistas sociais
mediante privatizaçons e retirada do apoio às Missons.

Mas, simultaneamente, deve promover sem limitaçons um profundo debate
político-ideológico que culmine com a substituiçom e cessamento da
burocracia parasita corresponsável desta derrota. Porém, as resistências
vam ser mui grandes, pois os interesses em jogo som imensos. É mesmo
possível que um setor desta fraçom burocrática procure umha saída
negociada com a contrarevoluçom, umha "transiçom" para assegurar os seus
privilégios em troques de voltar para um modelo de democracia burguesa do
agrado de Washington e o FMI.

Mas afortunadamente nestes 17 anos de Revoluçom Bolivariana um setor mui
importante do povo venezuelano tem atingido um grau importante de
politizaçom e auto-organizaçom, disposto a defender por todos os meios a
sua [a nossa] Revoluçom.

Há que desenvolver o socialismo comunal e bolivariano, dar poderes ao
povo auto-organizado como permite a Constituiçom Bolivariana, ocupar as
ruas e, dos bairros e dos centros e trabalho, fazer frente aos planos da
camarilha da MUD teledirigida polos Estados Unidos.

Nicolás Maduro terá que recorrer novamente a umha Lei Habilitante que lhe
conceda poderes especiais, que lhe permita governar por decreto e ganhar
tempo [seis meses], para recompor o chavismo com o debate pendente que
reclamarom durante anos as correntes revolucionárias no seio do PSUV e as
forças aliadas, e preparar-se para um novo cenário em que a Assembleia
Nacional vai responder às diretrizes da embaixada dos Estados Unidos e nom
aos interesses do povo trabalhador venezuelano.

Vam ser tempos duros. Tem razom Nicolás Maduro quando afirma no seu
discurso reconhecendo a derrota eleitoral que tem de vir "umha nova etapa
da Revoluçom Bolivariana". Sem umha profunda correçom da linha
social-democrata e pactista até hoje hegemónica, sem umha profunda
democratizaçom do PSUV, nom será factível aproveitar esta derrota tática
para a converter num revulsivo que facilite o tam desejado e reclamado
avanço estratégico.
Galiza, 7 de dezembro de 2015

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .


In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/venezuela/derrota_eleitoral_dez15.html
8/12/2015

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