sábado, 10 de junho de 2017

100 Anos da Primeira Greve Geral no Brasil


Por Fábio Bezerra*





Há exatos cem anos, a classe operária brasileira realizava a sua primeira
experiência de Greve Geral. Em um contexto de extrema exploração, com jornadas
de trabalho que chegavam a 16 horas diárias, ausência de direitos básicos como
intervalo para o almoço, férias e assistência médica, salários defasados, além
da exposição a humilhações morais, castigos físicos e assédio sexual às
operárias, trabalhadores(as) do setor têxtil em São Paulo, em sua maioria
mulheres, iniciaram uma greve no início do mês de junho (09/06) na Fábrica
Cotonofício Crespi, localizada na Mooca, que foi duramente reprimida pela
polícia. Nos dias que se seguiram, outras unidades fabris aderiram ao movimento,
muitas em solidariedade, expandindo-se para outros setores (mobiliário,
panificação, condutores, construção civíl, bebidas entre outros).
A reação das elites oscilou entre a intransigência dos patrões, a 
criminalização dos jornais da época até as batalhas sangrentas, entre operários
e a polícia, que se seguiram nas ruas de São Paulo, principalmente nos bairros
operários da Mooca e do Brás. O ponto culminante se deu entre os dias 9 e 12 de
julho, quando o governo municipal se retirou da cidade devido à escalada de
violência e aos confrontos que levaram à morte, contabilizada oficialmente, de
dois operários, uma criança e um policial (mas as estimativas são de dezenas de
operários mortos).
Após o enterro do ativista espanhol e anarquista José Gimenez Martinez, a Greve
Geral ganhou a adesão em outras cidades da federação, tais como: Rio de Janeiro,
Porto Alegre, Juiz de Fora e diversas cidades do interior paulista, atingindo,
em julho, a participação de mais de 50 mil trabalhadores(as).
O grau de organização proletária e solidariedade alcançou um ponto de
amadurecimento nunca antes visto na recente e ainda jovem trajetória de greves
operárias. Foi criado o Comitê de Defesa Proletária, que reunia lideranças
anarcossindicalistas e socialistas de diversas categorias e que assumiu as
negociações em torno de uma pauta de reivindicações intermediada, junto ao
governo paulista e ao patronato, por uma comitiva de jornalistas.
Durante cerca de trinta dias intensos de manifestações e batalhas de rua,
ocupações de fábricas, barricadas, prisões e a instauração de estado de sítio na
cidade de São Paulo, a maioria das reivindicações foi acatada. Mas a repressão
que se seguiu às lideranças libertárias e aos líderes fabris foi avassaladora.
Ainda em 1917, dezenas de ativistas libertários, em sua maioria italianos e
espanhóis, foram extraditados. Ativistas brasileiros foram presos e deportados
para o Amapá, de onde não se poderia retornar, um verdadeiro degredo. As
gráficas onde funcionavam os jornais anarquistas foram desmontadas e muitos dos
acordos firmados, em fins de julho de 1917, assim que se arrefeceu o movimento,
foram descumpridos.
Apesar de toda a violenta repressão e do ódio da classe burguesa, que saltou aos
olhos nas páginas da imprensa oficial, assim como nas medidas que se seguiram
para coibir o movimento operário, entre elas, a criação da  Delegacia de Ordem
Política e Social (órgão antecessor do DOPS), estava destravado um novo capítulo
da História da Resistência e das Lutas Sociais da classe trabalhadora
brasileira. A burguesia, a partir desse momento, estava diante de um operariado
– ainda incipiente e em formação -, mas que amadurecia rapidamente, na mesma
intensidade e proporção que avançava a exploração e aumentava a carestia,
conquistando sua consciência de classe e organização política enquanto vanguarda
das lutas que viriam a acontecer.
Mais do que o resplandecer da luta de classes no Brasil num novo estágio de
enfrentamento entre o capital e o trabalho, prelúdio de outras tantas lutas e
desdobramentos que determinaram, entre outras coisas, a constituição da CLT nos
anos 1940, a movimentação espontânea, pujante e firme da classe operária nas
jornadas de junho e julho de 1917, também possibilitaram o amadurecimento das
análises sobre a tática e os caminhos a se seguir contra o capital e o domínio
burguês.
A questão de um partido revolucionário que pudesse assumir as tarefas da
organização do proletariado frente às limitações táticas e organizativas do
pensamento anarquista à época, foi colocada para as principais lideranças do
movimento de 1917, influenciadas pela repercussão e simbolismo da Vitoriosa
Revolução Russa de Outubro daquele ano, precipitando, em 1919, a possibilidade
de constituição de um Partido Comunista, que somente, em 25 de março de 1922
seria fundado. Não é por coincidência que, dos nove membros fundadores do PCB,
seis eram de origem libertária.
Passados cem anos, o legado histórico da ousadia e da resistência contra a
barbárie capitalista se mantém mais vivo do que nunca em nossa existência, ainda
mais frente aos ataques da burguesia e seus governos neoliberais, justamente
contra os direitos trabalhistas e a aposentadoria, conquistados com sangue, suor
e lágrimas de milhares de trabalhadores ao longo do tempo.
Seguimos firmes lutando sob novas jornadas de GREVE GERAL, resistindo e
intensificando nossa luta não apenas em memória daqueles que ousaram lutar e
enfrentar o jugo do capital, mas em defesa de nossos direitos e conquistas, os
quais, se usurpados, nos colocarão em um patamar histórico igual ou pior ao que
a classe trabalhadora vivia no início do seculo XX!
Só a luta muda a vida!
 Viva a Heróica Greve Geral de 1917!
 E que venha a Greve Geral de 30 de junho de 2017!
 Nenhum passo atrás, Nenhum Direito a Menos!
*Membro do Comitê Central do PCB

In
PCB
https://pcb.org.br/portal2/14722
9/6/2017

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