sábado, 17 de junho de 2017

A esquerda perante a Venezuela



Claudio Katz*    

A ofensiva contra a Venezuela bolivariana jogou uma cartada “de esquerda”, que
teve a adesão de gente respeitável, e de outros que não merecem respeito. Este
notável texto desmonta em profundidade o sentido de tais posições no quadro do
golpe reaccionário em curso. «Se os principais inimigos são a direita e o
imperialismo, vergá-los é sempre uma prioridade. Este princípio elementar deve
ser reafirmado nos momentos críticos, quando o óbvio se torna difuso. Quaisquer
que fossem as críticas a Salvador Allende a batalha central era contra Pinochet.
E a mesma conduta devia adoptar-se frente aos gorilas argentinos de 1955 ou os
sabotadores de Arbenz, Torrijos e os diferentes governos anti-imperialistas da
região. Esta postura implica que, hoje, na Venezuela, se defina uma posição
comum contra a escalada da direita.
 Nos cenários de golpe também é indispensável distinguir os responsáveis pela
crise. Não é o mesmo ser o causador de um desastre ou ser impotente para o
resolver.»

Durante os últimos dois meses a Venezuela afrontou uma onda de violência
terrível. Contam-se já mais de 60 mortos entre escolas saqueadas, edifícios
públicos incendiados, transportes públicos destruídos e hospitais evacuados. Os
grandes meios de comunicação transmitem, em cadeia, só denúncias macabras do
governo. Instalaram a imagem de um ditador em conflito com os democratas da
oposição.
 Mas os dados dos acontecimentos não corroboram este relato, especialmente no
que diz respeito aos mortos. Quando os mortos totalizavam 39, um primeiro
relatório destacou que só 4 eram vítimas das forças de segurança. Os restantes
morreram em assaltos com saque, confusões armadas entre membros das mobilizações
da oposição [1]. Outra avaliação diz que 60 por cento das vítimas eram
totalmente alheias ao confronto [2].
 Estas caracterizações são coerentes com as estimativas que atribuem grande
parte dos assassínios a franco-atiradores ligados à oposição. Investigações mais
recentes destacam que o grosso das vítimas perdeu a vida por vandalismo ou
ajustes de contas [3].
 Existem ainda incontáveis denúncias de incursões de grupos paramilitares
ligados à direita. Também há indícios de um alto grau de violência com protecção
local, nos municípios governados pela oposição [4].
 Estes balanços estão de acordo com a brutalidade fascista que incluiu o deitar
o fogo a pessoas ligadas ao chavismo [5]. Queimar vivo um partidário do governo
é uma prática mais ligada a paramilitares colombianos ou a bandidos que a
organizações políticas tradicionais. Inclusive, alguns analistas dizem que, de
um total de 60, 27 mortos eram simpatizantes do chavismo [6].
 Outros afirmam que no interior das manifestações opositoras actuaram umas
15.000 treinadas como grupos de choque. Utilizaram capacetes, escudos e armas
para criar um clima caótico e instalar «territórios libertados» [7].
 As avaliações apresentadas pela oposição são diametralmente opostas, mas têm
sido refutadas por detalhados relatórios sobre as vítimas [8]. Como ninguém
reconhece a existência de avaliações «independentes», convém julgar o que tem
acontecido de acordo com os antecedentes. Nos distúrbios [guarimba] de 2014
morreram 43 pessoas, na sua grande maioria alheias ao choque político ou à
repressão policial.
 Também se deve avaliar como reagiria a oposição perante um desafio equivalente
a este. Os seus governos acirraram o «Caracazo» de 1989, com centenas de mortos
e milhares de feridos.
 A conjuntura venezuelana é dramática, mas não explica a centralidade do país em
todos os noticiários. Situações de maior gravidade noutros países são totalmente
ignorados pelos mesmos órgãos de comunicação social.
 Desde o começo do ano, na Colômbia foram assassinados 46 líderes sociais, e nos
últimos 14 meses morreram 120. Entre 2002 e 2016 as forças paramilitares
colombianas massacraram 558 dirigentes populares e o número de sindicalistas
assassinados nas últimas duas décadas ascende a 2.500 [9]. Por que é que nenhuma
emissora refere esta continuada sangria no principal vizinho da Venezuela?
 O panorama no México é ainda mais aterrador. Todos os dias um jornalista
incrementa a incontável lista de estudantes, professores e lutadores sociais
assassinados. No clima de guerra social imposto pelas «acções contra o
narcotráfico» desapareceram 29.917 pessoas [10]. Não deveria este nível de
massacre suscitar mais atenção jornalística que a Venezuela?
 As Honduras são outro caso elucidativo. Juntamente com Berta Cáceres foram
despachados outros quinze militantes da esquerda. Entre 2002-2014, o número de
defensores do meio-ambiente assassinados subiu a 111 [11]. A lista de vítimas do
horror ignorado pela imprensa hegemónica podia estender-se aos presos políticos
do Peru. São muito poucos os que conhecem o sofrimento porque passou o dirigente
independentista porto-riquenho Oscar López Rivera, durante os seus 35 anos de
prisão.
 A maioria da população latino-americana desconhece simplesmente as tragédias
correntes nos países governados pela direita. O duplo rasoiro informativo
confirma que o protagonismo nos écrans, nada tem a ver com preocupações
humanitárias.
Modalidades de um golpe
 A cobertura mediática mostra o golpismo da oposição. Como não podem perpetrar
um motim pinochetista, ensaiam processos de destituição centrados numa
deslocação da sociedade. Retomam o tentado em Fevereiro de 2014, para consumarem
um golpe institucional semelhante aos que foram feitos nas Honduras (2009), no
Paraguai (2014) ou no Brasil (2016). Pretendem impor pela força o que
posteriormente validariam nas urnas.
 A direita tem falta da força militar utilizada no passado para recuperar
governos. Mas tenta recriar essa intervenção com escaramuças em frente dos
quartéis, incêndios de esquadras da polícia ou marchas para as sedes militares.
 O seu plano conjuga a sabotagem da economia com a violência nas ruas através de
grupos armados que, diferentemente da Colômbia, atuam anonimamente. Misturam-se
com a ladroagem e aterrorizam os comerciantes [12].
 Estas acções incluem os métodos fascistas patrocinados pelas correntes mais
violentas do antichavismo. Apropriam-se da simbologia insurreccional forjada
pelos movimentos populares e apresentam a sua acção depredadora como uma gesta
heróica. O seu líder, Leopoldo López, não é um inocente político. Qualquer
tribunal que preze o direito tê-lo-ia condenado a prisão perpétua pelas suas
responsabilidades criminais.
 A direita promove um clima de guerra civil para desmoralizar as bases do
chavismo, afectada pela falta de alimentos e remédios. Pressiona explicitamente
uma intervenção estrangeira e negoceia com os bancos credores uma interrupção do
crédito ao país.
 A oposição pretende linchar o presidente Maduro para enterrar o chavismo.
Dirime a sua batalha nas ruas, na conquista da opinião pública e no colapso da
economia. Considera as eleições como uma mera coroação dessa ofensiva.
 Mas encontra obstáculos crescentes. O predomínio da violência nas suas marchas
afasta o grosso dos descontentes e desgasta os próprios manifestantes. Tal como
aconteceu em 2014, a rejeição dos fascistas socava toda a oposição. Além disso,
a permanência de Maduro dissuade a participação nas manifestações. Não
conseguiram entrar nos bairros populares, onde sempre correm elevado risco de
uma confrontação armada adversa [13].
 A grande burguesia venezuelana instiga o golpe com o apoio de Macri, de Temer,
de Juan Santos e Peña Nieto. Incentiva há meses um plano desestabilizador na
OEA. Mas nesse terreno também não conseguiu resultados. As sanções contra a
Venezuela não vingaram devido à oposição de várias chancelarias e ficou
bloqueada a unanimidade que nos anos 60 teve a expulsão de Cuba.
 É também notório o protagonismo golpista dos Estados Unidos, que tentam
recuperar o controlo da principal reserva continental de crude. O Departamento
de Estado procurar replicar as operações do Iraque ou da Líbia, sabendo que
depois de Maduro cair ninguém se recordará onde fica a Venezuela. Basta ver como
os media omitem na actualidade qualquer menção aos países que já sofreram
intervenções do Pentágono. Uma vez liquidado o adversário os noticiários
ocupam-se de outros temas.
 As metas estratégicas do imperialismo não são registadas pelos que salientam o
breve namoro de algum diário ianque com o presidente venezuelano ou as
ambiguidades verbais de Trump [14]. Fingem que esses irrelevantes dados ilustram
a ausência de conflito entre os Estados Unidos e o chavismo. Mas nada dizem
quanto ao facto de a imensa maioria da imprensa atacar Maduro virulentamente,
nem que multimilionário da Casa Branca desmente cada dia o que disse no dia
anterior.
 Trump não é um indiferente nem neutral. Simplesmente, delega na CIA e no
Pentágono a implementação de uma conspiração desenhada através dos planos Sharps
e Venezuela Freedom 2. Essas operações incluem espionagem, deslocação de tropas
e cobertura do terrorismo [15]. Desenvolvem-se de forma silenciosa, enquanto a
grande imprensa desqualifica qualquer denúncia sobre essas preparações.
Questionam especialmente os «exageros da esquerda», para que ninguém moleste os
conspiradores.
 Alguns analistas pensam que a presença da Chevron na Venezuela – ou os
continuados negócios da PDVSA nos Estados Unidos – ilustram uma estreita
colaboração entre os governos [16]. Deduzem dessa relação a ausência de um
cenário golpista. Mas essas conexões não alteram minimamente a decisão imperial
de derrubar o governo bolivariano.
 As actividades das empresas ianques na Venezuela (e das suas congéneres nos
Estados Unidos) persistiram desde o início do processo chavista. Mas tanto Bush,
como Obama e Trump procuraram recuperar o manejamento directo do petróleo. Não
lhes basta uma relação tensa de sócios ou clientes. Pretendem instaurar o modelo
de privatização reinante no México e expulsar a Rússia e a China do seu pátio
traseiro.
A atitude da esquerda
 Se o diagnóstico de um golpe reaccionário é correto, a postura da esquerda não
deveria suscitar divergências. Os nossos principais inimigos são a direita e o
imperialismo, pelo que vergá-los é sempre uma prioridade. Este princípio
elementar deve ser reafirmado nos momentos críticos, quando o óbvio se torna
difuso.
 Quaisquer que sejam as nossas críticas a Salvador Allende a nossa batalha
central era contra Pinochet. E a mesma conduta devia adoptar-se frente aos
gorilas argentinos de 1955 ou os sabotadores de Arbenz, Torrijos e os diferentes
governos anti-imperialistas da região. Esta mesma postura implica que, hoje, na
Venezuela, se defina uma posição comum contra a escalada da direita.
 Nos cenários de golpe também é indispensável distinguir os responsáveis pela
crise. Não é o mesmo ser o causador de um desastre ou ser impotente para o
resolver.
 Esta diferença verifica-se no campo económico. Os erros cometidos por Maduro
são tão numerosos como injustificáveis, mas os culpados pela deterioração actual
são os capitalistas. O governo é tolerante ou incapaz. Não está no mesmo plano.
Os que cometem o erro garrafal de identificar os dois sectores [17] confundem
responsabilidades de índole diversa.
 Os desacertos do governo verificaram-se no câmbio de notas, no inadmissível
endividamento externo ou no descontrolo dos preços e do contrabando. Mas o
desmoronamento da economia foi provocado pelos magnatas que manipulam as
divisas, fazem disparar a inflação, manobram com os bens importados e
desabastecem o provimento de bens básicos.
 O executivo não responde ou atua mal por muitas razões: ineficiência,
tolerância para com a corrupção, conivência com milionários disfarçados de
chavistas. Mas isso não corta o sustento dos grupos privados que recebem dólares
baratos para importar caro. Mas o desmoronamento da produção foi uma acção da
classe dominante para derrubar o presidente Maduro. Desconhecer esse conflito
demonstra um insólito nível de miopia.
 Esta cegueira impede notar outro dado chave do momento: a resistência do
chavismo à investida da direita. Com métodos e atitudes muito questionáveis,
Maduro não se rende. Mantém a verticalidade do PSUV, favorece a proscrição das
correntes críticas e preserva uma burocracia que asfixia a resposta dos de
baixo. Mas diferentemente de Dilma ou de Lugo não se entrega. Situa-se nos
antípodas da capitulação consumada pelo Syriza na Grécia.
 Essa postura explica o ódio dos poderosos. O governo adoptou a excelente
decisão de se retirar da OEA. Abandonou o Ministério das Colónias e concretizou
a ruptura que a esquerda sempre exigiu. Esta decisão deveria suscitar um
contundente apoio que muito poucos explicitaram.
 Como toda a administração acossada pela direita, o governo recorre à força para
se defender. Os comunicadores do establishment denunciam essa reacção com um
pouco usual grau de histeria. Esquecem-se das justificações que habitualmente
dão a governos de outro sinal em situações idênticas. Maduro também foi
questionado pela sua relativa complacência para com os fascistas. Só delimitou
as fronteiras perante a selvajaria opositora.
 Nessa resposta o poder cometeu seguramente injustiças. É o lamentável custo de
qualquer confronto significativo com a contra-revolução. Essas adversidades
estiveram bem presentes em todas as batalhas contra a reacção desde Bolívar até
Fidel. Há que evitar este delicado terreno a auto-indulgência, mas sem repetir
as calúnias propagadas pela oposição.
 Actualmente, Maduro dirige os seus canhões contra a brutalidade da direita e
não contra o povo. Por isso, não fazem sentido as suas comparações com Kadhafi
ou Sadam Hussein. Não cometeu nenhum massacre de militantes de esquerda, nem
participou em aventuras bélicas instigadas pelos Estados Unidos. A analogia com
Estaline é ainda mais ridícula, mas lembra que o espectro de Hitler sobrevoa
muitos opositores, associados a Uribe ou a nostálgicos de Pinochet.
Posturas social-democratas.
 Nos últimos meses também se multiplicaram entre os adversários da direita, os
olhares que culpam o presidente Maduro pelo resvalar da Venezuela. Essas
opiniões repetem a velha atitude social-democrata de sempre se juntar à reacção
nos momentos críticos.
 Questionam a legitimidade do governo com os mesmos argumentos da oposição. Em
vez de acusarem a CIA, os sórdidos ou a OEA, concentram as suas objecções no
chavismo. Adoptam essa postura em nome de um ideal democrático tão abstracto,
como divorciado da batalha por definir que prevalece na direcção do Estado.
 Essa postura manifestou-se em vários pensadores do pós-progressismo ligados ao
autonomismo. Não acusam apenas Maduro pela situação actual. Afirmam também que
reforçou uma liderança autoritária para manter o modelo rentista petrolífero
[18].
 Esta caracterização é muito semelhante à tese liberal que atribui todos os
problemas da Venezuela a políticas populistas, implementadas por tiranos que
malbaratam os recursos do estado. Com uma linguagem mais diplomática o
diagnóstico semelhante.
 Outras posições de sinal idêntico ressaltam em forma mais categórica da
responsabilidade do líder chavista. Além disso, apelam a evitar o «simplismo
conspirativo de culpar a direita ou o imperialismo» pelo drama do país [19].
 Serão as conspirações da reacção imaginárias? Os assassínios, os paramilitares
e os planos do Pentágono são paranóicas invenções bolivarianas?
 Sem responder a estas questões elementares, essa postura também descarta
qualquer comparação com o que aconteceu no Chile em 1973. Mas também explica a
invalidade desta posição. Pressupõe as diferenças entre ambas as situações como
um dado, sem notarem as enormes semelhanças que existem no terreno da sabotagem
ao abastecimento, na irritação conservadora da classe média ou na intervenção da
CIA.
 Os paralelismos objectados com Allende são, em contrapartida, aceites para o
caso do primeiro peronismo, que é visto como um antecedente directo do chavismo.
Mas a parecença está nos anos de estabilidade ou nos momentos prévios ao golpe
de 1955? A preocupação com a escalada de violência sugere que a semelhanças se
refere a este último período. E numa situação desse tipo qual era a prioridade?
Enfrentar o autoritarismo de Perón ou resistir aos gorilas? Os social-democratas
e os pós-progressistas enfatizam a culpabilidade autoritária de Maduro [20]. É
por isso que desdenham do perigo golpista e desvalorizam a necessidade de
preparar alguma defesa contra as provocações da direita.
 Mas as consequências dessa atitude só se verificam quando os oligarcas e os
seus bandidos recuperam os governos. O que aconteceu há pouco nas Honduras, no
Paraguai ou no Brasil, nem sequer desperta alertas entre os diabolizadores do
chavismo.
 Também objectam o extrativismo, o endividamento e os contratos petrolíferos.
Mas não explicam se defendem alternativas anticapitalistas e socialistas, face
aos evidentes erros de Maduro. Acontece o mesmo com a sabotagem ao abastecimento
e a especulação. Propõem actuar com mais firmeza contra os banqueiros e os
polvos comerciais? Promovem medidas de confiscação, nacionalização ou o controlo
directo?
 Para a adopção destas iniciativas poderiam conceber pontes com o governo, mas
nunca com a oposição. Os detractores do chavismo olham de esguelha esta
diferença
Convocatórias pós-progressistas
 Na óptica social-democrata foi assinado um urgente apelo à paz assinado por
inúmeros intelectuais. Essa declaração promove o processo de pacificação,
rejeitando igualmente a deriva autoritária do chavismo e a atitude violenta dos
sectores da direita [21].
 O apelo defende um equilíbrio para superar a polarização e recorre a uma
linguagem mais próxima da das chancelarias que da militância popular. Este tom
está de acordo com a implícita adesão a uma teoria de dois demónios. Perante
ambos os extremos propõe passar pela avenida do meio.
 Mas essa equidistância é imediatamente desmentida pela responsabilidade
primordial que atribui ao governo. Sublinha essa culpabilidade não só ignorando
o acosso da direita, enquanto o imperialismo é mencionado de passagem.
 O texto recebeu uma contundente resposta patrocinada pela REDH [Nota do
Tradutor: Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade -
http://www.humanidadenred.org.ve/?tag=redh] assinada por muitos intelectuais.
Essa crítica objecta acertadamente o fascínio pelo republicanismo convencional e
recorda a proeminente gravitação de forças extra-constitucionais nas situações
críticas [22].
 A recaída liberal dos pensadores pós-progressistas recria o que aconteceu com
os social-democratas gramscianos dos anos 80. A inimizade desse grupo para com o
leninismo e a revolução cubana assemelha-se à actual hostilidade para com o
chavismo. Vários subscritores do apelo passaram os dois períodos.
 Mas a vertente social-democrata actual é serôdia e falta-lhe a referência
política que o PSOE espanhol trazia. A deriva social-liberal desse partido
demoliu por completo o imaginário progressista inicial. Essa orfandade talvez
explique o actual reencontro com o velho liberalismo.
 Nalguns casos, esse desaguar coroa a divisão que afectou as diferentes
variantes do autonomismo. As posturas perante o processo bolivariano
desencadearam essa fractura. Os que optaram por se situar na vereda opositora
questionam os que se «aferram ao chavismo» [23].
 Mas este segundo sector amadureceu as insuficiências precedentes e soube
compreender a necessidade de batalhar pelo poder do estado, com perspectivas
afins ao marxismo latino-americano.
 Em contrapartida, o outro segmento continua a navegar na ambiguidade de
generalidades sobre o antipatriarcado e o anti-extrativismo, sem oferecer nenhum
exemplo concreto do que propõe. Ao ficarem absorvidos pelo universo liberal, as
suas enigmáticas vaguidades já não enriquecem o pensamento da esquerda. Entre os
esquecidos da luta de classes e os fascínios pela institucionalidade burguesa,
as suas denúncias do extrativismo convertem-se em pitoresca curiosidade.
Despistes do dogmatismo
 Um discurso convergente com a social-democracia é também propagado com
argumentos sectários. Nesse caso, Maduro é apresentado como um governo corrupto,
intriguista, que consolida um regime ditatorial [24]. Noutras ocasiões essa
mesma legitimidade é descrita com categorias mais indirectas (presidente de
facto) ou sofisticadas (chefe bonapartista).
 Mas estas variantes coincidem no sublinhar a responsabilidade primordial de um
governo autoritário que destrói o país. A sintonia desta abordagem com os
relatos dos media salta à vista. Mas o principal problema não se situa na
retórica, mas na acção prática.
 Todos os dias há marchas da direita e do governo. Os porta-bandeiras do rigor
socialista em qual das mobilizações se integram? Com qual se identificam? Se
pensam que o governo é o inimigo principal deveriam fazer causa comum com a
banditagem dos distúrbios das ruas [guarimbas].
 Em Buenos Aires, por exemplo, convocaram em Maio passado uma manifestação para
exigir a saída de Maduro [25]. Todos os transeuntes que observaram essa
manifestação perceberam claramente quem, imediatamente, ocuparia a presidência
da Venezuela se ao actual mandatário for destituído. Notaram também a total
coincidência deste apelo com as mensagens diariamente pelos noticiários dos
media.
 Não é a primeira vez que sectores oriundos da esquerda convergem tão
nitidamente com a direita. Um antecedente na Argentina sob o kirchnerismo foi a
presença de bandeiras de trabalhadores da agro-soja nas manifestações dos
caçaroleiros. Mas o que foi patético em Buenos Aires pode tornar-se dramático em
Caracas.
 Outras visões equiparam Maduro com a oposição, pensando que debaixo da
mascarada de uma aparente contraposição se escondem coincidências maiúsculas.
Por isso especulam sobre o momento em que essa convergência se tornará explícita
[26].
 Esta interpretação contrasta com as batalhas campais entre ambos os sectores
que os restantes mortais registam. É um pouco difícil interpretar os distúrbios,
os assassínios e as ameaças do Pentágono como uma rixa entre duas pessoas
próximas.
A única lógica dessa apresentação é tirar dramatismo ao conflito actual, para o
interpretar como uma simples luta inter-burguesa pela apropriação da renda. Por
essa razão, o totalitarismo de Maduro é visto como um perigo equivalente (ou
superior) à oposição.
 O maior problema dessa abordagem não é a sua despistagem, mas a implícita
neutralidade que propicia. Como todos são iguais, o autogolpe atribuído ao
governo é equiparado ao golpe que a direita procura.
 Mas esta equivalência é obviamente falsa. Na Venezuela não actuam as duas
vertentes reaccionárias, que por exemplo no Médio Oriente corporizam o jiadismo
e as ditaduras. Tampouco prevalece o tipo de contraponto entre trogloditas que
opunham na Argentina Isabel Perón com Videla.
 O choque entre Maduro e Capriles-López assemelha-se ao confronto de Allende com
Pinochet, de Perón com Lonardi ou mais recentemente de Dilma com Temer. Como não
são iguais o triunfo da direita implicaria uma terrível regressão política.
 A neutralidade perante esta disjuntiva é sinónimo de passividade e retrata um
grau de impotência maiúscula face aos grandes acontecimentos. Implica renunciar
à participação e ao compromisso com causas reais.
 Como essa atitude dá por assente que o chavismo acabou, limita todo o seu
horizonte a redigir um balance dessa experiência. Mas o maior fracasso na acção
política nunca afecta os processos inacabados ou frustrados. O pior é a
insignificância perante as grandes gestas.
 Qualquer que seja o questionamento a Maduro, o desenlace na Venezuela define o
destino imediato de toda a região. Se triunfam os reaccionários prevalecerá um
ambiente de derrota e uma sensação de impotência face ao império. O fim do ciclo
progressista será um dado e não um tema de avaliação entre pensadores das
ciências sociais.
 A direita sabe-o, e é por isso que acelera as campanhas contra os intelectuais
que defendem o chavismo. A recente campanha do Clarín [N.de T.: jornal de
direita na Argentina] é uma antecipação da arremetida que preparam numa situação
regional pós-Maduro [27]. Os sectários não registam sequer esse perigo.
Eleições fictícias
 No imediato há duas opções políticas em jogo: a direita exige adiantar as
eleições e o governo convocou uma Assembleia Constituinte. A oposição só está
disposta a participar em eleições que lhe asseguram o primeiro lugar.
 Das 19 eleições realizadas em chavismo, os bolivarianos ganharam 17 e
reconheceram de imediato as duas derrotas. Em contrapartida, a direita nunca
aceitou os resultados adversos. Sempre denunciou alguma fraude ou recorreu ao
boicote. Quando triunfou em eleições parciais exigiu de imediato a queda do
governo.
 Em Dezembro de 2015 obtiveram a maioria na Assembleia nacional e proclamaram o
derrube de Maduro. Tentaram várias medidas não previstas, falsificaram
assinaturas para um referendo revocatório.
Capriles, Borges e López promovem agora eleições fictícias, no meio da guerra
económica e da provocação nas ruas. Desejam eleições tipo Colômbia, onde entre
um voto e outro há centenas de militantes populares assassinados. Pretendem
concorrer às urnas como nas Honduras sob a pressão do assassínio de Berta.
Promovem votações como as que imperam no México entre cadáveres de jornalistas
estudantes e professores.
 Será um erro terrível aliar-se a eleições concebidas para preparar um cemitério
de chavistas. Exigem que Maduro convoque eleições num clima de guerra civil,
coisa que nenhum governo pode aceitar.
 A Venezuela atravessa uma situação parecida à que prevalecia na Nicarágua no
ocaso do primeiro sandinismo. O cerco militar e o boicote ao abastecimento
desgastaram um povo exausto, que votou á direita por simples esgotamento. Nessas
condições as eleições têm um vencedor pré-estabelecido.
 Em contrapartida a comparação com o cenário que rodeou a queda da União
Soviética carece de sentido. A Venezuela não uma potência que afronta a implosão
interna, ao cabo de um longo divórcio do regime com a população. É um vulnerável
país latino-americano acossado pelos Estados Unidos.
 Alguns pensadores desvalorizam o papel do rolo opressivo do imperialismo, para
sugerir que não é o determinante da crise actual [28]. Supõem que as insistentes
denúncias dessa dominação constituem um «dado já conhecido» ou um simples ritual
da esquerda. Mas esquecem que nunca é demais sublinhar o demolidor impacto
exercido pelas agressões do Norte, sobre os governos que Washington inimiza.
 Todo o espectro de ex-chavista que acompanha as reclamações de eleições gerais
confunde democracia com republicanismo liberal. Perderam de vista como o direito
ao autogoverno é sistematicamente obstruído pela institucionalidade burguesa.
 Por esse impedimento a imensa maioria dos regimes constitucionais perderam a
legitimidade. Torna-se cada vez mais evidente que a classe dominante utiliza os
sistemas de votação para consolidar o seu poder. Exerce o seu controlo manejando
a economia, a justiça, os meios de comunicação e o aparelho repressivo. A
democracia real só pode emergir num processo socialista de transformação da
sociedade.
 É certo que Maduro cancelou o referendo revocatório, suspendeu as eleições
regionais e proscreveu opositores. Estas medidas fazem parte de uma reacção cega
face ao acosso sofrido. Mas o líder chavista enfrenta uma hipocrisia de maior
porte, exibida pelos defensores dos atuais regimes eleitorais.
 Basta observar como um grupo de bandidos consumou o impeachement no Brasil,
amparados pelos juízes e parlamentares que manipulam o sistema de selecção
presidencial indirecta. À OEA não lhe ocorreu intervir perante essa grosseira
violação dos princípios democráticos.
 O establishment também não se indignou em relação ao colégio eleitoral quando
ungiu Trump, depois de receber vários milhões de votos a menos que Hillary.
Parece-lhes natural a monarquia imperante em Espanha ou em Inglaterra ou as
grosseiras enxaguadelas que rodeiam a manipulação de qualquer eleição no México.
A sacrossanta democracia que exigem para a Venezuela está completamente ausente
em todos os países capitalistas.
As possibilidades da Constituinte
 É evidente que a melhor oportunidade para uma Constituinte transformadora
perdeu-se, há já alguns anos. O actual apelo é puramente defensivo, e tenta
lidar com uma situação exasperante.
 Mas é inútil discutir apenas o que não se fez. Haverá sempre tempo para esses
balanços. Agora, o importante é dirimir em que medida a convocatória pode
reabrir um caminho de iniciativa popular.
 Antes do apelo à Constituinte o governo limitava-se a desenvolver uma
confrontação puramente burocrática entre um poder e outro poder do estado.
Adivinhava-se o choque por cima do Executivo contra o Legislativo ou do Supremo
Tribunal de Justiça com a Assembleia Nacional. Agora, o governo apela ao poder
comunal e há que ver se esse apelo se traduz numa mobilização real.
 Há incontáveis sinais de cansaço e cepticismo dentro do chavismo. Mas ninguém
escolhe as condições em que se trava uma batalha, e o principal dilema anda à
volta da continuação ou do abandono da luta. Os que decidiram não baixar os
braços apostam no ressurgimento do projecto popular.
 Várias correntes da esquerda com posições muito críticas em relação a Maduro
pensam que a actual convocatória poderá desencadear uma reacção das comunas
contra as manipulações burocráticas [29]. Vêem a Constituinte como um
instrumento imperfeito para resolver a disputa com os sectores do chavismo
aburguesado, corrupto e burguês.
 A Constituinte poderá contribuir e, além disso, romper com o empate dos últimos
meses entre os participantes nos distúrbios [guarimbas] e as mobilizações do
governo. Se for encarada de forma adequada poderá romper a frente da oposição,
separando aí os descontentes dos fascistas.
 Mas é evidente que sem medidas drásticas no plano económico-social, a
Constituinte será um ovo vazio. Se não se ataca o desastre produtivo com a
nacionalização dos bancos, do comércio exterior e a expropriação dos sabotadores
não haverá recuperação do acompanhamento popular.
 Os paliativos ensaiados são insuficientes para aumentar a participação dos
organismos de base na distribuição dos alimentos. Há medidas radicais que não
podem ser adiadas.
 Em qualquer alternativa não será fácil reencaminhar a economia, ao cabo de
tantos desacertos no terreno da dívida, da criação de zonas especiais de
investimento ou de tolerância para com a fuga de capitais.
 Chávez fez uma grande redistribuição dos rendimentos com métodos inéditos de
politização popular, mas não conseguiu cimentar o processo de industrialização.
Entrou em choque com os capitalistas opositores e com a burguesia bolivariana
interna, tal como não soube desactivar a cultura rentista, que socava todas as
tentativas de forjar uma economia produtiva. As vacilações em romper com a
estrutura capitalista explicam estes resultados adversos.
 O contexto actual é ainda mais difícil devido aos minguados preços do petróleo
e ao bloqueio que enfrentam os processos de integração regional nesta fase de
restauração conservadora. Mas convém recordar que todos os processos
revolucionários caíram na adversidade e a Constituinte pode contribuir para o
retomar da iniciativa.
 Alguns críticos desse apelo objectam a sua forma sectorial e comunal de
eleição. Afirmam que com esse formato a «assembleia será corporativa e
ilegítima». Também aqui se refere o endeusamento que a direita (quando lhe
convém) faz do constitucionalismo convencional. Essa reivindicação não provoca
qualquer surpresa entre os comunicadores do establishment, mas inquieta os
entusiastas da revolução russa.
 Ao fim de três décadas de regimes pós-ditatoriais, muitos já esqueceram as
duplicidades da democracia burguesa. Convinha recordar como Lenine e Trotsky
defenderam em 1917 a legitimidade dos sovietes, ignorando uma Assembleia
Constituinte que rivalizava com o poder revolucionário.
 A actual conjuntura venezuelana é muito diferente. Mas a revolução bolchevique
não ensinou só a registar os antecedentes sociais, os conflitos de classe e os
interesses em jogo. Também indicou o caminho para superar a hipocrisia do
liberalismo burguês e confirmou que os actos de força contra a reacção são parte
do confronto com a barbárie da direita.
 A esquerda deve definir se converge com a oposição ou se participa na
Constituinte. Há ainda uma terceira opção para um minúsculo auditório, como
mensagens de «sim, não e pelo contrário».
No resto da região a solidariedade é urgente. Tal como aconteceu em Cuba durante
o período especial há que encostar os ombros nas situações difíceis. Espera-se
que muitos companheiros assumam essa tarefa antes que seja tarde.
 A Venezuela não suscita só intensos debates. Também determinou significativos
reagrupamentos de intelectuais que subscreveram apelos contrapostos. Esse
posicionamento foi mais relevante que os controversos detalhes das diferentes
declarações. Consumou-se a divisão das águas.
 A convocatória social-democrata impugnada pelo texto da REDH foi complementado
por outras respostas contundentes [30]. A delimitação política foi vertiginosa.
 Face à tensão criada pelos vários manifestos, vários subscritores apelaram à
manutenção do diálogo fraternal. Esse respeito é indispensável, mas as reacções
indignadas explicam-se pelo que está em jogo. Se a direita se impuser haverá
muito tempo para lamentos e para seminários de investigação do que aconteceu.
 Como a primeira declaração contém um apelo à paz, muitos pensadores aderiram de
forma espontânea para favorecer o travar da violência. Ao avaliar mais
detidamente o conteúdo do texto, alguns retiraram a sua adesão e outros
mantiveram-na com argumentos defensivos. Ressalvam a sua continuada
solidariedade com o processo bolivariano ou reafirmam discrepâncias com outros
subscritores.
Mas o mais significativo foi a rápida e generalizada reacção que suscitou o
documento antichavista e a grande reacção que provocou a posição
social-democrata. Esta reacção induziu uma súbita convergência de intelectuais
da esquerda e o nacionalismo radical. Se este entrelaçamento se consolida, a
Venezuela terá despertado um reencontro do pensamento crítico com as tradições
revolucionárias da América latina.
12 de Junho de 2017.
Leituras adicionais
Mazzeo, Miguel Venezuela: sobre defecciones y oportunismos, 11/5/2017.
http://www.marcha.org.ar/35517-2/
 Houtart, François La Venezuela de hoy y de mañana, 24/5/2017
http://www.jornada.unam.mx/2017/05/24/opinion/032apol
 Almeyra, Guillermo. Venezuela: la prioridad absoluta
 21-5-2017, http://www.jornada.unam.mx/2017/05/21/politica/019a2pol
 Olmedo, Beluche La Asamblea Nacional Constituyente y la lucha por una salida
obrera, popular y socialista a la crisis venezolana, 15-5-2017,
https://www.aporrea.org/actualidad/a246009.html
 Boron, Atilio. Venezuela: no callar, pero para decir la verdad 17-5- 2017
https://latinta.com.ar/2017/05/venezuela-no-callar-pero-para-decir-la-verdad/17
 Guerrero, Modesto Emilio. La prueba histórica de Maduro Por Guerrero
 8-5-2017, https://www.pagina12.com.ar/36336-encrucijada-venezolana
 Cursio, Pasqualina. ¿Entonces donde están los billetes de 100 bolivares?
20/12/2017. http://www.aoporrea.org/economia/a238881.html
 Cieza, Guillermo. Tres hipótesis para el actual momento que vive Venezuela
Bolivariana 23/11/2016.
 http://www.resumenlatinoamericano.org/2016/11/23tres-hipotesis-para-el-actual-momento-que-vive-venezuela-bolivariana/
 Bacher, Norberto. EL IMPERIALISMO QUIERE ACABAR CON VENEZUELA.,
 23-4-2015, http://redcritica.net/?p=262
 Toledo, Enrique. Comentarios a la Entrevista de Eduardo Lander, 22-4-2017
 https://ladiaria.com.uy/articulo/2017/4/comentarios-a-la-entrevista-de-eduardo-lander/
Notas:
 [1] Teruggi, Marco. Radiografía de la violencia en Venezuela, 14-5- 2017.
http://www.eltelegrafo.com.ec/noticias/columnistas/1/radiografia-de-la-violencia-en-venezuela.
 [2] Siris Seade, Pablo. Las nuevas víctimas de las guarimbas en Venezuela,
20-05-2017, http://www.rebelion.org/noticia.php?id=226887
 [3] Cieza, Guillermo. La derrota política de la derecha venezolana, 7-6- 2017,
www.resumenlatinoamericano.org/2017/06/07/la-derrota-politica-de-la-derecha-venezolana/
 [4] Boron, Atilio. Venezuela sumida en la guerra civil, 26-5-2017,
www.jornada.unam.mx/2017/05/26/opinion/018a1pol Boron, Atilio. La “oposición
democrática” en Venezuela: peor que el fascismo 25-4-2017,
http://www.cubadebate.cu/opinion/2017/04/25/la-oposicion-democratica-en-venezuela-peor-que-el-fascismo/#.WTx8T2g1_IU
 [4] Aznárez, Carlos. La cuestión es impedir que el fascismo se adueñe de
Venezuela, 22-5-2017,
 http://www.resumenlatinoamericano.org/2017/05/22/la-cuestion-es-impedir-que-el-fascismo-se-adueno-de-venezuela-por-carlos-aznarez/
 [5] Pineda, Manu, La mentira como herramienta de guerra en Venezuela,
29/05/2017.
http://www.eldiario.es/contrapoder/mentira-herramienta-guerra-Venezuela_6_648195186.html
 [6] Teruggi, Marco. Análisis del esquema de la ofensiva paramilitar, 24-5-2017,
https://hastaelnocau.wordpress.com/2017/05/24/analisis-del-esquema-de-la-ofensiva-paramilitar/
 [7] Bracci Roa, Luigino. Lista de fallecidos por las protestas violentas de la
oposición venezolana, abril a junio de 2017, 9-6-2017,
 http://albaciudad.org/2017/06/lista-fallecidos-protestas-venezuela-abril-2017/
 [8] Restrepo Domínguez, Manuel Humberto. 46 líderes asesinados evidencian una
política del horror, 22/05/2017. http://www.alainet.org/es/articulo/185633
 [9] TRIAL International, Informe de seguimiento presentado al Comité contra la
Desaparición Forzada, 2-2- 2017
https://trialinternational.org/wp-content/uploads/2017/02/FINAL-InformedeseguimientoCED-MEX2017.pdf
 [10] TelsurTV. Asesinan a Berta Cáceres, líder indígena de Honduras. 3-3-2016.
http://www.telesurtv.net/news/Asesinan-a-Bertha-Caceres-lider-indigena-de-Honduras–20160303-0016.html
 [11] Teruggi, Marco. Llegó la hora Venezuela, 28-5-2017,
http://www.resumenlatinoamericano.org/2017/05/29/llego-la-hora-venezuela/
 [12] Cieza, Guillermo. La derrota política de la derecha venezolana, 7-6- 2017,
www.resumenlatinoamericano.org/2017/06/07/la-derrota-politica-de-la-derecha-venezolana/
 [13] Rodríguez Porras, Simón. Nueve errores de Claudio Katz sobre Venezuela,
11-5-2017.
http://laclase.info/content/nueve-errores-de-claudio-katz-sobre-venezuela/
 [14] Cabrera, Ángel Guerra. Venezuela, situación de peligro, 25-5-2017,
 https://lapupilainsomne.wordpress.com/2017/05/25/venezuela-situacion-de-peligro-por-angel-guerra-cabreram
Luzzani, Telma. El plan destituyente del Pentágono y el secretario de la OEA,
30-3-2017,
https://www.tiempoar.com.ar/articulo/view/65767/el-plan-destituyente-del-penta-gono-y-el-secretario-de-la-oea-por-telma-luzzani
 [14] Rodríguez Porras, Simón. Nueve errores de Claudio Katz sobre Venezuela,
11-5-2017.
http://laclase.info/content/nueve-errores-de-claudio-katz-sobre-venezuela/
 [15] Rodríguez Porras, Simón. Nueve errores de Claudio Katz sobre Venezuela,
11-5-2017.
http://laclase.info/content/nueve-errores-de-claudio-katz-sobre-venezuela/
 [16] Lander, Edgardo. “Sociólogo venezolano cuestiona la “solidaridad
incondicional” de la izquierda latinoamericana con el chavismo, 23-3-2017.
https://ladiaria.com.uy/articulo/2017/3/sociologo-venezolano-cuestiona-la-solidaridad-incondicional-de-la-izquierda-latinoamericana-con-el-chavismo/
 [17] Svampa, Maristella. CARTA ABIERTA AL CAMPO MILITANTE PROCHAVISTA DE LA
ARGENTINA, 5-6-2017, http://www.lateclaene.com/maristella-svampa
 [18] Svampa, Maristella; Gargarella, Roberto. El desafío de la izquierda, no
callar, 8-5- 2017, https://www.pagina12.com.ar/36336-encrucijada-venezolana
 [19] VVAA, LLAMADO INTERNACIONAL URGENTE A DETENER LA ESCALADA DE VIOLENCIA EN
VENEZUELA. 30-5- 2017,
http://www.cetri.be/Llamado-internacional-urgente-a?lang=fr
 [20] VAA. ¿Quién acusará a los acusadores?, 5-6-2017,
http://www.humanidadenred.org.ve/?p=8134
 [21] Svampa, Maristella. CARTA ABIERTA AL CAMPO MILITANTE PROCHAVISTA DE LA
ARGENTINA, 5-6-2017, http://www.lateclaene.com/maristella-svampa
 [22] Rodríguez Porras, Simón. Nueve errores de Claudio Katz sobre Venezuela,
11-5-2017.
http://laclase.info/content/nueve-errores-de-claudio-katz-sobre-venezuela/
 [23] Nuevo MAS, Bajo la consigna “Fuera Maduro” escandaloso acto en Buenos
Aires de un sector del FIT en apoyo a la derecha golpista venezolana,
https://www.mas.org.ar/?p=12538
 [24] Altamira, Jorge. Constituyente “a la Maduro”, 18-5-2017
http://www.po.org.ar/prensaObrera/1458/internacionales/constituyente-a-la-maduro-1
 [25] Bazzan, Gustavo. El reclamo de Atilio Borón a Nicolás Maduro para
“aplastar” a la oposición en Venezuela, 30-5-2017,
https://www.clarin.com/mundo/reclamo-atilio-boron-nicolas-maduro-aplastar-oposicion-venezuela_0_rylWQfs-W.html
 [26] Carcione, Carlos. Las “lecciones” de algunos intelectuales de la
izquierda: ¿Quiénes son los sepultureros del proceso bolivariano?, 16-5-2017,
http://questiondigital.com/las-lecciones-de-algunos-intelectuales-de-la-izquierda-quienes-son-los-sepultureros-del-proceso-bolivariano/
 [27] STALIN PÉREZ BORGES .Movimiento EN LUCHAS: la convocatoria a la Asamblea
Nacional Constituyente es un reto que debemos asumir, 9-5-2017,
https://www.aporrea.org/actualidad/n308188.html
 [28] Giménez, Gustavo. Venezuela: una Constituyente trucha, 11-5-2017,
http://mst.org.ar/2017/05/11/venezuela-constituyente-trucha/
 [29] VVAA. Declaración sobre Venezuela: Intelectuales en solidaridad con el
pueblo bolivariano, 5-6-2017, http://www.barricadatv.org/?p=6842 VVAA.
 [30] LUCHAS y otras organizaciones se pronuncian por una salida democrática,
revolucionaria y socialista a la crisis venezolana
 https://www.aporrea.org/actualidad/n309714.htm

In
O DIÁRIO.INFO
http://www.odiario.info/a-esquerda-perante-a-venezuela/
16/6/2017

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