sábado, 6 de outubro de 2018

Fascismo e anticomunismo*


 Albano Nunes  

Tal como na década de 30 do século passado, a crise geral do capitalismo traz
consigo a emergência do fascismo. E tal como então a grande burguesia e o
imperialismo apadrinham-no e promovem-no, como têm feito tão frequentemente em
países de todos os continentes, da Ucrânia ao Brasil. O capitalismo na sua fase
monopolista é inconciliável com a democracia, mesmo com a mais esvaziada das
democracias burguesas.


O fascismo é uma criação do capitalismo para intensificar a exploração e salvar
o sistema. É a expressão mais terrorista do poder monopolista. O que está a
suceder é precisamente aquilo para que o PCP vem de há muito alertando: os
sectores mais reaccionários e agressivos da classe dominante jogam cada vez mais
no fascismo e na guerra como «saída» para o aprofundamento da crise estrutural
do capitalismo. Essa a principal razão para que, com expressões muito diversas,
o fascismo esteja a espreitar e a espalhar-se no mundo, da Ucrânia ao Brasil,
dos EUA a Israel, de países da União Europeia às mais diversas ditaduras
impostas a ferro e fogo pelo imperialismo. É cada vez mais evidente que o
fascismo conta com fortíssimas cumplicidades a nível do Estado, onde aliás, como
acontece com a administração Trump, já têm inquietante expressão. E o seu
crescimento seria impossível sem um tratamento mediático esquizofrénico que
tanto esconde como exagera graves manifestações de natureza reaccionária e
fascizante, num comportamento ideológico que tende a banalizar o fenómeno em
lugar de o combater. A verdade é que a extrema-direita e forças fascistas ocupam
já fortes posições em Parlamentos e em governos de vários países da Europa.
A luta contra o fascismo será inconsequente se não identificar o caldo de
cultura que o alimenta: as profundas injustiças e desigualdades geradas pelo
capitalismo, uma situação social em que a polarização da riqueza atingiu um
nível sem precedentes, em que o desemprego, a precariedade e o trabalho sem
direitos se generalizam e os salários estagnaram ou retrocederam para níveis
anteriores a 2007/2008. Uma situação em que as dificuldades e contradições do
sistema de representação liberal burguês favorece a demagogia e uma
radicalização de extrema-direita dita «anti-sistema», e em que – como na União
Europeia - as ingerências e imposições que espezinham as soberanias nacionais,
são exploradas para fomentar o nacionalismo, alimento fundamental do racismo e
do fascismo. É realmente verdade que o neoliberalismo, cuja natureza exploradora
e predadora não cessa de se acentuar, tem o fascismo inscrito nos seus genes. A
sua primeira «experiência» foi no Chile de Pinochet e não faltam estudos bem
documentados a demonstrar (vide Avelãs Nunes) que neoliberalismo e democracia
(mesmo liberal) são incompatíveis.
O fascismo não é uma fatalidade. Mas é um perigo real que é necessário combater
com a maior energia. Um combate em que, como sempre, o PCP está na primeira
linha, coerente com a sua longa história de luta pela Liberdade e pela
construção da unidade antifascista. Essa a razão por que, a pretexto do voto de
princípio dos deputados do PCP no Parlamento Europeu em relação à aplicação do
artigo 7.º do Tratado da UE à Hungria, alguns comentadores encartados (vide
Público,16.09.18) não hesitam em vomitar o seu ódio, não contra o fascismo mas
contra o PCP. Não estamos surpreendidos. Como não nos surpreende o escandaloso
tratamento pela comunicação social dominante da nossa ímpar Festa do Avante!.
Reacção, fascismo e anticomunismo sempre andaram de mãos dadas. É necessário não
o esquecer.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2339, 27.09.2018

In
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/fascismo-e-anticomunismo/
2/10/2018

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