domingo, 14 de outubro de 2018

Temperatura máxima em Wall Street






Fernando Grossman, da redação.



Depois de bater todos os recordes históricos, nos últimos nove anos, e não haver
nenhum sinal evidente que esses recordes possam parar, ainda tem gente mais
inteligente que os chamados homens do mercado e que aparece, de repente, para
alertar a esses indivíduos práticos que as coisas da vida econômica não são tão
simples quanto eles imaginam.
É o caso, por exemplo, de Robert Shiller – professor na Yale University e que,
apesar de ser um ganhador do prêmio Nobel de Economia, é um economista
inteligente. Em palestra nesta sexta-feira (14) em Nova York, disse para uma
plateia de acelerados especuladores que vê “tempos ruins no mercado de ações” à
frente. Uma sensação de que alguma coisa muito ruim está para acontecer
brevemente.
Em entrevista à CNBC TV, em 22 de Agosto, ele já tinha afirmado que o nível
exagerado da recente disparada touro do mercado indica que é hora de vender. O
“mercado touro” pode reverter para o “mercado urso”. Uma nova correção no
mercado de ações.
Na palestra de sexta-feira reforçou essa recomendação, explicando que os
capitalistas (“investidores”) devem ignorar a recente explosão nos lucros das
empresas estadunidenses e focar na valorização de longo-prazo, a qual, segundo
ele, “carrega notícias muito ruins (foreboding news, no original) para o mercado
de ações”.
Shiller é muito conhecido por uma série de formulações e teorias a respeito do
mercado de ações. Mas seu grande prestígio se deve a um interessante indicador
que ele formulou e utiliza para medir a valorização no mercado de ações.
Trata-se da Cyclically Adjusted Price to Earnings ratio [relação Preço/Lucro
Ciclicamente Ajustada], um indicador correntemente conhecido como “Shiller CAPE”
or “Shiller PE”.
Permite analisar a valorização das ações ao longo de um período de dez anos para
suavizar as flutuações no ciclo econômico (business cycle). Atualmente, o
“Shiller CAPE” está em 33,3, seu nível mais elevado desde junho de 2001.
É claro que é difícil detalhar o roteiro completo do próximo choque global. Mas,
indo além das corretas intuições de Shiller, pelo menos algumas coisas a
respeito já podem ser antecipadas com segurança. Uma delas é que essa planetária
queima de capitais será inaugurada com uma monumental desvalorização das ações
da bolsa de valores de Nova York, em Wall Street.
Outra coisa, mais segura ainda, é que a explosão será a maior de todas ocorridas
nos últimos setenta anos. A evolução do índice S&P 500 que mede a da valorização
das 500 maiores empresas dos EUA, mostra com clareza a cena em que essas coisas
ocorrerão. Veja a curva de longo prazo atualizada dessa odisseia capitalista.

Algumas observações. No presente ciclo econômico, o mais longo rali da história
fez com que o índice S&P 500 subisse mais de 335% desde a ressaca encerrada em
Março de 2009. Essa desvairada trajetória de valorização mostra, ao mesmo tempo,
o potencial de destruição de capital que certamente ocorrerá na nova correção
que pode explodir nos próximos trimestres.
Compare-se o que está ocorrendo neste ciclo econômico com os dois anteriores. Em
Maio de 2000, como destacado no gráfico, o S&P 500 já havia alcançado um
fantástico pico recorde de valorização de 1420,60 pontos. Foi aquela coisa
inaudita no pós-guerra que Alan Greenspan, presidente do Fed, na época, chamou
de “exuberância irracional”.
Aquele índice de 2000 foi novamente igualado pelo pico do ciclo posterior, em
Dezembro /2007, às vésperas da explosão da nova crise 2008/2009. É notável,
portanto, que os dois picos daqueles dois ciclos econômicos correspondem (em
2000 e 2007) ao mesmo nível de valorização.
Em outras palavras: apesar da persistência da “exuberância irracional”, a massa
de capital a ser queimada no último período de crise (2008/2009) continuava em
condições politicamente administráveis. De um lado, pela política fiscal e
monetária do Fed e do governo estadunidense; de outro, pelas ações geopolíticas
e militaristas da máquina imperialista comandada pelos EUA (OTAN, União
Europeia, Israel, etc.).
Mas agora, nesta segunda-feira (17 Setembro 2018) o índice S&P 500 alcançava
2888,80 pontos! Exatamente o dobro daqueles picos recordes dos dois ciclos
anteriores. Mais do que irracional, uma exuberância altamente criativa de
destruição de capital.
Primeira comprovação: existe agora uma nova e fantástica massa de capital
acumulada nos últimos nove anos significativamente maior do que nos dois últimos
ciclos periódicos anteriores. Pronta para ser incinerada.
É isso que permite afirmar que esse incêndio no coração do sistema – e a
consequente falência de um número incalculável de bancos e empresas – será o
maior de todos ocorridos nos últimos setenta anos do pós-guerra.
Importante observação: esse incêndio será de difícil contenção através dos
mecanismos imperialistas de regulação e de governabilidade (ultra-imperialismo)
conhecidos e aplicados nos últimos setenta anos. Trata-se de um processo
incontornável de corrosão e enfraquecimento das condições internas fundamentais
da pax-imperialista do pós-guerra.
A atual reestruturação da ordem geopolítica mundial e os conflitos comerciais de
Washington com as principais áreas e economias do resto do mundo são claras
manifestações antecipatórias deste processo de apodrecimento da civilização.

In
CRÍTICA DA ECONOMIA
http://criticadaeconomia.com.br/temperatura-maxima-em-wall-street/
18/9/2018

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