terça-feira, 5 de novembro de 2013

A Nova Ordem Mundial



Rui Namorado Rosa


Com a publicação deste estudo, acrescentamos um muito importante documento ao
acervo de análises sobre um tema central: a evolução e alteração da correlação
de forças económicas e financeiras no plano global. Alteração que terá
necessariamente repercussões em todos os aspectos das relações internacionais e
nas organizações internacionais, as que integram o “Sistema das Nações Unidas” e
outras. E que porá à prova a sua capacidade de acolher contradições que se
agudizam.

O velho Mundo Ocidental é o retrato do capitalismo decrépito que oprime e agride
os povos em todo o mundo. Mas esses povos não se resignam, levantam a sua voz e
as suas forças e, da Ásia à América, resistem para se libertarem e unirem em
novas solidariedades, senhores dos seus destinos. Este rearranjo, em consonância
com projetos de desenvolvimento e progresso social em cada um deles, é um passo
de um demorado caminho para uma nova ordem mundial.
O diplomata brasileiro Roberto Azevedo assumiu o mandato de Diretor-Geral da
Organização Mundial do Comércio em 1 de Setembro passado. Ao contrário do
Diretor-Geral cessante, antigo Comissário Europeu do Comércio Pascal Lamy de má
memória e oponente convicto ao ingresso da Rússia e da China na OMC, o novo
Diretor-Geral não enjeita alinhar-se com os colegas dos BRICS. A diplomacia
brasileira logrou angariar apoios bastantes entre os estados membros,
comprometendo-se em particular a dar à China e ao continente africano voz e
posições relevantes no seio da OMC, e logrou neutralizar a oposição dos EUA e da
UE. Este facto singular é sintomático das profundas transformações que abalam a
economia e a finança no mundo, mais um sinal da desagregação da velha ordem
mundial.ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS: DE ONDE E PARA ONDEA Organização das
Nações Unidas (ONU) foi estabelecida em 26 de Junho de 1945, tendo como
estatutos a Carta das Nações Unidas, inicialmente subscrita por 51 países,
compreende atualmente 193 estados membros, a quase totalidade dos existentes.
Ficou sedeada em Nova Iorque.
Sob a sua alçada foi sendo constituído um agora vasto “Sistema das Nações
Unidas” - conjunto de programas, agencias, institutos, convenções, etc. -
coordenado por um Conselho Económico e Social. Aí se integram as de vocação mais
diretamente económica e financeira: o Fundo Monetário Internacional e o Banco
Mundial (FMI/BM), criados em 1945 e com suas sedes em Washington; a Organização
Mundial do Comércio (OMC), estabelecida em 1947 (ainda enquanto GATT) com sede
em Genebra; umas e outra no cumprimento e sequência das conferências de Bretton
Woods (1944). O poder económico e militar dos EUA, associado ao privilégio
internacional do dólar, preservado como moeda de referência quase universal para
fins de reserva e pagamento, têm conferido a esta potência a capacidade de
influenciar os acontecimentos e as políticas internacionais muito para além do
que legitimamente caberia a um só país no concerto das nações. Para tal também
tem contribuído ativamente a singularidade de muitas das organizações do
“Sistema das Nações Unidas” estarem sediadas nos EUA e estes deterem a maior
quota do seu financiamento. Estas circunstâncias têm proporcionado uma postura
intervencionista, frequentemente unilateral e por vezes abertamente para além ou
contra a autoridade das Nações Unidas, por parte dos EUA (e seus aliados mais
íntimos). O Conselho de Segurança coletivamente tem permitido, até por vezes
autorizado, intervenções de contestada legitimidade. As guerras do Vietname, a
Guerra do Golfo contra o Iraque, a Guerra dos Balcãs contra a R.F. Jugoslávia, a
agressão e ocupação do Afeganistão, a agressão à Líbia, são casos trágicos de
intervencionismo imperial e de incapacidade das Nações Unidas em proteger a paz
e a soberania de povos que não sejam grandes potencias e não se sujeitem a ser
protetorados. O agravamento da crise financeira e económica mundial denuncia
vícios essenciais do capitalismo que os atuais instrumentos e instituições
internacionais se têm revelado incapazes de enfrentar, atenuar e muito menos
superar. Esta crise também se caracteriza pela ascensão de denominadas
“potências emergentes” - pelo seu potencial económico e demográfico, recursos,
progresso social e capacidade técnica -, a par da erosão do poder económico
relativo das “velhas” potências, o que evidencia uma viragem da correlação de
forças no plano internacional no curso da última década.
A constituição, objetivos e meios de novas organizações regionais ou de
cooperação, cuja influência se tem acentuado e começado a influir nas relações e
na ordem internacional, são testemunhos dessa viragem. Temos presentes os BRICS
(Brasil, Rússia, Índia, China e República da África do Sul), a OCS (Organização
de Cooperação de Shangai), a ASEAN (associação de Nações do Sudeste Asiático), a
ALBA, a MERCOSUR, entre as mais evidentes e atuantes.
Estas alterações profundas e de grande alcance apelam quer à determinação quer à
prudência, em vista das grandes tensões e do risco de estas poderem conduzir a
conflitos violentos. A presente crise no Próximo Oriente e particularmente na
Síria oferece um exemplo da multiplicidade de fatores, protagonistas, riscos e
impactos em jogo, e do papel insubstituível dos instrumentos diplomáticos na sua
eventual superação. O “Sistema das Nações Unidas” tem sido e será insubstituível
enquanto fórum e quadro legal e institucional para enquadrar pacificamente as
transformações em curso e seus desenvolvimentos futuros. Porém, ao mesmo tempo,
a ONU deverá ela mesma refletir e acomodar essas mesmas transformações.
A recomposição do Conselho de Segurança é uma dessas questões centrais, pois a
sua constituição necessita refletir a renovada correlação de forças. Por outro
lado, a persistente crise que abala o sistema económico-financeiro mundial
evidencia a urgente necessidade de reformar as correspondentes instituições do
“Sistema das Nações Unidas”, designadamente FMI/BM e OMC. Aqui se compreendendo
a recomposição do cabaz de divisas nacionais e quotas sobre que repousam as
reservas dos bancos centrais (presentemente dólar, euro, libra e yen) e com que
são liquidados e remunerados os fluxos comerciais internacionais de mercadorias
e serviços. A VELHA ORDEM MUNDIAL DA FINANÇANo quadro da constituição do FMI foi
concebido e criado pelos estados membros um instrumento financeiro designado
“Direitos Especiais de Saque” (SDR) tendo em vista apoiar a estabilidade das
taxas de câmbio, como preconizadas pelos acordos de Bretton Woods, e assegurar
liquidez nos pagamentos internacionais. O valor do SDR foi inicialmente (1969)
identificado com 1/35 de onça de ouro, então equivalente a 1 US$. Em julho de
1974, o FMI declarou dissociar o SDR do ouro (na sequencia de ato unilateral dos
EUA relativamente ao dólar no mesmo sentido), e atribuir-lhe um valor
determinado por uma certa combinação ponderada de moedas num cabaz selecionado
de moedas de países membros. Em 1980 esse cabaz foi reduzido a apenas cinco:
dólar, yen, libra, Marco Alemão e Franco Francês. Estava instalado um sistema
dissociado de referências económicas concretas, que em breve daria lugar ao
crescimento desordenado de produtos e fluxos financeiros que são uma das
manifestações da insanidade do sistema capitalista.
Em 2001, com a União Económica e Monetária Europeia, o euro substituiu o Marco e
o Franco. O cabaz de divisas ficou constituído por dólar, euro, yen e libra na
proporção 45: 29: 15: 11 %. Após um reajustamento em 2005 e um outro em 2010,
essa proporção foi revista para: 41,9: 37,4: 9,4: 11,3%. Mas as moedas nacionais
das maiores “potências emergentes” designadas pelo acrónimo BRICS – real, rublo,
rupia, renminbi/yuan e rand – continuam excluídas do cabaz das moedas que
formalmente servem de base às reservas dos bancos centrais. A China tornou-se
entretanto na segunda maior economia mundial, o primeiro maior exportador, o
segundo maior importador, o país com a maior reserva de divisas estrangeiras; e
a sua moeda, o renminbi/yuan, adquiriu larga circulação no seio da ASEAN.
O facto de o sistema FMI/BM discriminar os principais países emergentes denuncia
a prevalência da estratégia protecionista e agressiva das velhas potências
hegemónicas no sistema capitalista mundial. Nova-York, Londres, Tóquio,
Frankfurt, Paris, e poucas mais, persistem enquanto “as” metrópoles do comércio
financeiro. COMÉRCIO MUNDIAL: AS NOVAS POTÊNCIAS ECONÓMICAS A Organização
Mundial do Comércio (OMC) é uma organização multilateral com sede em Genebra que
tem por missão promover o livre comércio entre países, a redução das tarifas
aduaneiras e a eliminação de outras barreiras ao comércio internacional. Os
países que aderem à OMC comprometem-se a efetuar e manter reduções nas tarifas
impostas às importações. A Organização fornece um fórum para a resolução de
litígios comerciais entre governos, e tem o poder de aplicar multas em caso de
ocorrência de violações dos acordos comerciais.
No historial das negociações de adesão mais demoradas distinguem-se as da
Rússia, que durou 19 anos, e da China (República Popular da China, não incluindo
Hong–Kong, Macau e Taipei, estas afiliados autonomamente), que durou 15 anos.
Também sintomaticamente, o Irão é atualmente a maior economia mundial ainda fora
desta Organização.
O quadro descrito é inteiramente compatível com denúncias feitas de forte
enviesamento protecionista a favor de interesses industriais e agrícolas do
designado Mundo Ocidental – quadro que promete mudar durante os próximos anos.
Registe-se que, no decurso da vigência de instituições responsáveis pelo
comércio mundial (GATT e depois OMC, de 1948 a 2013), o respetivo cargo de
Diretor-Geral esteve nas mãos de europeus durante 59 dos 65 anos. Porém, facto
relevante, o atual Diretor-Geral da Organização Mundial do Comércio, é o
anterior embaixador do Brasil na OMC, Roberto Azevedo. Ao contrário do
Diretor-Geral cessante, Pascal Lamy, um eurocrata opositor convicto ao ingresso
da Rússia e da China, o novo Diretor-Geral não enjeita alinhar-se com os colegas
dos BRICS. A diplomacia brasileira logrou angariar apoios bastantes entre os
estados membros, comprometendo-se a dar voz aos países em desenvolvimento e
emergentes no seio da OMC, incluindo posição relevante à China, e logrou
neutralizar a oposição dos EUA e da UE.
Roberto Azevedo é desde 1 de Setembro de 2013 o sexto Diretor-Geral da OMC, para
um mandato de quatro anos. Os quatro Adjuntos que nomeou são Yonov Frederick
Agah da Nigéria, Karl Brauner da Alemanha, David Tubarão dos Estados Unidos e Yi
Xiaozhun da China, cuja nomeação é efetiva desde 1 de Outubro. O mundo parece
virar-se do avesso. Esta alteração é significativa. A China teve de aguardar 15
longos anos desde que submeteu a sua candidatura, em 1986, até aceder à OMC, o
que só veio a acontecer em Dezembro de 2001. Teve que relaxar mais de 7000
tarifas, quotas e outras barreiras comerciais, impôs-se tarifas em média mais
baixas do que o Brasil, a Índia e a maioria dos grandes exportadores e – na
opinião de muitos observadores – sujeitou-se à ameaça da concorrência
estrangeira na agricultura e, na indústria. A China manteve, ainda, uma baixa
taxa de câmbio do renminbi.
Porém, de 2002 a 2012, a China exibiu uma das melhores décadas da história
económica mundial. O seu PIB (aferido em US$) quadruplicou e as suas exportações
quase quintuplicaram. Enquanto isso, o investimento direto estrangeiro na China
arrecadou enormes lucros, colhendo retornos de 13,5%.
A admissão da China no seio da Organização Mundial do Comércio não era nada
pacífica para as potências ocidentais que de facto controlavam a Organização. O
então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, ao procurar obter o apoio do
seu Congresso, em 2000, recorreu aos argumentos de que estava convencido e eram
“convenientes” para conseguir convencer os céticos. A admissão da China, disse
ele, seria suscetível de trazer um profundo impacto sobre os direitos humanos e
a liberdade política naquele país; e a adesão à OMC iria acelerar a diminuição
do peso económico do setor estatal o qual seria “uma grande fonte de poder do
Partido Comunista”. Opiniões que foram reforçadas no Ocidente por comentários de
alguns dissidentes chineses. Todavia, as autoridades chinesas não compartilhavam
a crença de Clinton no que ele chamou a mudança extraordinária que a OMC traria
para a China, tanto política como economicamente.
O zelo reformista do então primeiro-ministro chinês Zhu Rongji (1998-2003)
também ajudou a alimentar a visão de um país disposto a correr consideráveis
riscos políticos a fim de criar uma economia mais dinâmica e inserida no mercado
global. Mas Zhu Rongji partilhava as preocupações internas relativas aos
esforços ocidentais para minar o governo do Partido Comunista da China. “Forças
ocidentais hostis continuam a promover a sua estratégia de ocidentalizar e de
vergar o nosso país.” Entretanto, os funcionários do partido incrementaram o
esforço de estimular a criação de células nas empresas privadas; e vários
governos locais cobraram descontos nas folhas de pagamento de empresas privadas,
destinados a patrocinar as atividades das respetivas células.
Os denominados liberais queixam-se, agora, que as empresas estatais ainda
controlam as alavancas da economia, a par do partido. Mas os avanços económicos
e sociais prosseguem ainda avassaladoramente.
Quanto à Rússia conseguiu finalmente aceder a membro pleno da OMC só
recentemente, em Agosto de 2012, após quase duas décadas de persistentes
negociações. A Rússia percorreu essa via-sacra desde 1993, após celebração de
acordos em separado com todos os então 153 Estados-membros, o último dos quais a
Geórgia. Os parceiros da Rússia nos BRICS apoiaram reiteradamente a sua rápida
adesão à OMC, designadamente em declaração conjunta emitida no final da cimeira
de líderes dos BRICS realizada em Sanya, China, em Abril de 2011.
A Rússia, o maior produtor mundial de energia, com um PIB equivalente a US$ 2
milhões de milhões era, até há um ano atrás, a maior economia fora da OMC, e o
seu ingresso na Organização assinala o maior passo na liberalização do comércio
mundial desde o ingresso da China em Dezembro de 2001. Esta adesão é também
percecionada pelas empresas e investidores do resto do mundo como um sinal de
que o sistema político-económico russo estabilizou e se afirma como uma grande
potência respeitada, depois de humilhada, no concerto das nações. PORÉM ELA
MOVE-SE: OS BRICS EM ACÇÃOOs BRICS – rede de cooperação político-económica
estabelecida entre o Brasil, Rússia, Índia, China e República da África do Sul -
são membros assíduos dos G-20, onde são ouvidos como porta-vozes dos países em
desenvolvimento. Os BRICS ameaçam atingir as economias desenvolvidas Ocidentais
em termos de participação no PIB mundial e, conjuntamente, já ultrapassam os EUA
em PIB e muitos outros indicadores económicos. Comandando 25 por cento da área
geográfica do mundo, 44 por cento da população e já 33 por cento do PIB global,
os BRICS são entendidos, pelos países desenvolvidos ocidentais, como um
obstáculo emergente que contraria o seu próprio favor e presente predomínio nas
esferas de interesses globais, concretamente económicos.
É à luz desta tendência que podemos compreender que os cinco países do BRICS
tenham pela primeira vez sido simultaneamente membros do Conselho de Segurança
da ONU em 2011; não terá sido um acaso. Pela primeira vez também, o
Diretor-Geral da OMC que agora iniciou o seu mandato é oriundo dos BRICS; poderá
ser visto como uma ameaça ao status-quo. Nas várias instâncias de intervenção
diplomática, os BRICS têm assumido posição conjunta sobre a reforma do sistema
monetário internacional e sobre vias para estabilizar os preços das commodities
nos mercados mundiais. Quer no âmbito das instituições da ONU quer nas cimeiras
do G20, os BRICS têm procurado abrir uma discussão ampla e franca sobre o papel
dominante do dólar nas finanças internacionais; e particularmente a Rússia e a
China têm manifestado aspirar a que as suas moedas nacionais sejam igualmente
adotadas como divisas de reserva bancária e pagamento internacional.
Negociações realizadas em 2008 e 2010, no âmbito do FMI, acordaram dotar a
generalidade dos países em desenvolvimento com maior poder de voto nessa
instituição, e elevar de 9 para 14% o poder de voto do conjunto dos BRICS -
ainda muito aquém da sua participação de cerca de 30% na produção económica
mundial; enquanto isso, os EUA, que já detêm 17% de direito de voto, contribuem
22% para a produto mundial. Porém, o acordo alcançado em 2010, não foi
implementado ainda, porque o Congresso dos EUA ainda não o aprovou. Quer dizer
que, comparando os BRICS com os EUA, poder económico o poder de voto mantêm-se
escandalosamente invertidos.
Rompendo esse muro por ora inamovível, em Nova Deli, Março de 2012, na sua
quarta cimeira, o topo da agenda dos BRICS foi ocupado com a criação de um
“Banco BRICS”, a primeira instituição própria de sua iniciativa. Os líderes dos
cinco avançaram essa ideia para afirmar a influência diplomática coletiva das
economias emergentes e suportar o exercício do seu crescente poder económico;
uma iniciativa que deverá reunir recursos para financiar projetos e
infraestruturas nos países em desenvolvimento, e também ser um veículo
facilitador de empréstimos a longo prazo.
As “potências emergentes” aspiram a tornar-se menos dependentes da moeda de
reserva global, o dólar, e a posicionar as suas próprias moedas como divisas de
reserva e de transação no comércio internacional, e já adotaram o propósito de
realizar o comércio entre elas nas suas próprias moedas. Dois acordos, assinados
entre os bancos centrais do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul,
estabelecem que serão facultados empréstimos em moeda própria em apoio ao
comércio entre os cinco. Ao partilharem o comércio nas próprias moedas, os cinco
vão também diversificar suas reservas cambiais. Os BRICS promoverão assim a
convertibilidade e tornarão mais acessível a utilização do real, rublo, rupia,
renminbi/yuan e rand entre si, sem necessidade de recurso ao dólar dos EUA. O
processo político acelerou com a profundidade e persistência da crise
económico-financeira. A quinta cimeira dos BRICS, em Março de 2013, em Durban,
Africa do Sul, decidiu a criação de mais uma estrutura permanente - “Brics
Business Council” – e enunciou uma gama de áreas temáticas e projetos a serem
objeto de desenvolvimento conjugado, incluindo rede de telecomunicações, banca e
seguros, tecnologia e industria, recursos minerais.
Meio ano volvido, em Setembro de 2013, realizou-se em São Petersburgo a sexta
cimeira dos BRICS, na sequência de mais uma cúpula dos G20. Nesta reunião dos
G20 pesaram a denúncia do programa de espionagem global levado a cabo pela
Agência Nacional de Segurança dos EUA, e a intervenção externa na guerra civil
na Síria, muito embora o principal ponto da agenda inicial fosse a crise
financeira e os equilíbrios cambiais. Aí os BRICS propuseram a criação de um
fundo, denominado “Reserva de Contingência”, um instrumento com vista a proteger
os vários países de repercussões negativas das políticas monetárias das
economias avançadas.
Nesta sexta cimeira dos BRICS, estes reafirmaram o propósito de entre si criarem
o seu próprio banco de desenvolvimento e de um fundo de reservas, prestador de
último recurso em contexto adverso de especulação internacional. Foram acordadas
questões gerais e operacionais relativas à sua criação, em conformidade com os
acordos alcançados na antecedente cimeira de Durban, e o capital inicial desse
fundo foi fixado no equivalente a US $100 mil milhões a ser realizado na
seguinte proporção: China 41%, Brasil, Índia e Rússia 18% cada, África do Sul
5%. O grupo também concordou dotar o banco de desenvolvimento com o equivalente
a US$ 50 mil milhões de capital-semente.
A concertação e movimentação dos BRICS desde 2010 têm, pacífica mas
determinadamente, afirmado e procurado o reconhecimento do seu real poder
económico e angariar o correspondente nível de intervenção na comunidade
internacional no seio das instituições do “sistema das Nações Unidas”. Poder
económico que traz consigo vastos recursos produtivos, demográficos e naturais,
e alcança vasta influência diplomática e militar. A ORDEM ECONÓMICO-FINANCEIRA
EM RÁPIDA TRANSFORMAÇÃO A República Popular da China é um protagonista chave na
cooperação estratégica entre os BRICS e entre estes e os países em
desenvolvimento. Isso porque detém um elevado peso político, económico e militar
que contribui para conferir aos BRICS e à OCS capacidade de diálogo e de manobra
que não podem ser suprimidos por quaisquer outros grupos de cooperação ou blocos
político-económicos. As praças de Londres, Luxemburgo, Paris, Frankfurt e
Zurique, todas elas têm pretendido assumir-se como principal centro do comércio
europeu da moeda chinesa. Disputando essa qualidade entre os centros asiáticos
colocam-se Hong-Kong, Singapura, Taipei e Sydney. Habilmente, Pequim tem feito
por atrair um a um todos esses pretendentes ao comércio do renminbi (Rmb)/yuan.
Quanto mais ampla a dispersão da divisa chinesa, quanto mais amplo o pool da sua
liquidez no estrangeiro, melhor para o seu reforço e difusão internacional.
Notória é a ausência de Nova-York. A competição monetária, desafiando a
hegemonia do dólar, preocupa o governo dos EUA. Mas com Pequim a persuadir, mês
após mês, os maiores mercados a se atrelarem ao comboio do renminbi, muitos
analistas consideram que é só uma questão de tempo até os EUA entrarem também a
bordo. “À medida que o renminbi se desenvolve em outros centros, Nova-York, mais
cedo ou mais tarde, terá de se juntar ao processo de internacionalização”,
afirmou Zhang Ming da Academia Chinesa das Ciências Sociais.Neste mês de Outubro
de 2013, foi anunciado que o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco Popular da
China (BPC) haviam estabelecido um acordo de swap entre as respetivas moedas, a
mais recente de uma série de medidas para estimular o uso global da moeda
chinesa. Este acordo foi estabelecido no contexto do rápido crescimento do
comércio bilateral e do investimento entre a zona euro e a China, visando
garantir a estabilidade dos mercados financeiros (na linguagem do BCE). Num
montante de Rmb 350 mil milhões, equivalente a € 45 mil milhões, será o terceiro
maior swap após outros semelhantes estabelecidos pelo BPC em Hong-Kong e na
Coreia do Sul; e segue-se a acordos semelhantes já estabelecidos com o Reino
Unido, Austrália e Brasil. Tendo estabelecido a referida linha de swap de moedas
com o Banco Central Europeu, o Banco Popular da China concedeu à City de Londres
uma quota de Rmb 80 mil milhões para investir em ativos chineses denominados em
renminbi.
Um comunicado do Banco Popular da China declara, a propósito, que esta
iniciativa deverá ajudar a fornecer liquidez para o desenvolvimento do mercado
do renminbi/yuan na Europa e a promover o seu uso no exterior do espaço chinês,
para além de facilitar o comércio e o investimento estrangeiros. A moeda chinesa
está a tornar-se cada vez mais importante para os investidores, e o volume
diário da sua transação já duplicou no decurso deste ano de 2013.
Também em meados de Outubro de 2013, em Londres, após conversações com o seu
homólogo chinês vice-primeiro ministro Ma Kai, o chanceler britânico George
Osborne anunciou o objetivo de atrair mais comércio do reminbi/yuan para o
mercado Londrino, que atualmente é destino de 41% das trocas cambiais mundiais.
O saber científico-técnico e o poder económico da Republica Popular da China
tem-se afirmado em múltiplas realizações. Para além de avanços em larga escala
nos domínios da educação, investigação científica, inovação e patentes, e de
realizações nos domínios aeroespacial, microeletrónica, telecomunicações,
informática, tenologias industriais, etc., as empresas chinesas contam-se entre
as mais dinâmicas e influentes em todos os ramos e continentes. Elas assumem-se
como entidades empresariais com dimensão técnica, económica, comercial e
financeira, mas de igual modo com dimensão diplomática, norteadas por uma
estratégia sob o comando do governo chinês.
Neste mês de Outubro a SINOPEC – petrolífera chinesa que ocupa a quinta posição
entre as maiores corporações do mundo - tornou-se na segunda empresa da China
continental a adquirir no mercado de obrigações de Londres dívida denominada em
euros, € 550 milhões, enquanto vendendo bonds denominados em dólares, US$ 2,75
mil milhões. Essa emissão segue-se a uma operação semelhante da sua rival
estatal CNOOC que, no mês anterior, fora a primeira empresa chinesa a adquirir
dívida em euros. Ainda em Outubro, a SINOPEC também abordou a corporação
energética espanhola Repsol com vista à aquisição da respetiva participação de €
4,7 mil milhões na Gás Natural, companhia gasista espanhola.
Também neste mês de Outubro, o chanceler britânico George Osborne, de visita à
central nuclear de Taishan, em construção na China, anunciou a intenção de
acolher a futura participação chinesa na construção de centrais nucleares na
Grã-Bretanha. A central de Taishan, uma das maiores centrais nucleares do mundo,
utiliza reatores de desenho Europeu - Areva 1750 MW EPR (European Pressurized
Reactor) - e está a ser construída em parceria entre a empresa francesa EDF e a
chinesa CGNPC - China General Nuclear Power Group. Esta é uma das cerca de 30
novas centrais nucleares que a China tem presentemente em construção ou projeto,
e que virá a ser uma das maiores do mundo. O Reino Unido tem em consideração
reforçar o seu parque electroprodutor com uma réplica tecnológica de Taishan, a
ser construída em Hinkley Point C, Somerset, pelo mesmo consórcio, por cerca de
€ 19 mil milhões.
Além de oferecer uma opção de financiamento para as empresas chinesas que
procuram reduzir a dependência face ao dólar, os mercados de outras divisas
oferecem também outras opções para as empresas que pretendem investir no
exterior. Empresas do sector energético e mineiro, apoiadas pelo estado chinês,
têm sido particularmente agressivas na procura de oportunidades de aquisição e
investimento por todo o mundo, parte da estratégia mais ampla de Pequim em
assegurar uma sólida base de recursos naturais para a sua indústria e
rentabilidade para os seus capitais.Em Portugal, a China Development Bank
atribuiu um empréstimo de € 1000 milhões à EDP em 2012. Esse empréstimo
verificou-se na sequência de compromissos assumidos no âmbito de uma dita
parceria estratégica acordada entre a EDP e a China Three Gorges Corporation,
anunciada no final de 2011. Na altura, o presidente da EDP declarou que aquele
era o primeiro financiamento atribuído por aquele banco a uma empresa não
chinesa fora da China. Entretanto, a China Three Gorges, tendo adquirido 21% do
capital social da EDP, tornou-se no seu maior acionista e prometeu vir a
realizar mais investimentos com a EDP e em Portugal.
Em Setembro de 2013, a Galp Energia e a SINOPEC anunciaram a intenção de
reforçar a parceria já existente entre as duas. A petrolífera chinesa já era
parceira da Galp após ter adquirido em 2012, por € 2,7 mil milhões, 30% do
capital da unidade brasileira detida pela petrolífera portuguesa. Já no início
de 2013, a China National Petroleum Corp (CNPC), outra grande petrolífera
chinesa, anunciou o propósito de entrar no consórcio liderado pela italiana ENI,
constituído para a prospeção e exploração de gás natural no norte de Moçambique
e no qual a portuguesa GALP já participa com 10% do capital. EPÍLOGOA correlação
global de forças político-económicas avança e vai moldando a paisagem política -
com suas feições sociais, culturais, técnicas e económicas – por diversas vias e
por toda a parte. É uma transformação tectónica – tanto particular como coletiva
– tanto material quanto ideológica - que progride com expressão própria em cada
país e abarca o mundo, no sentido de superar o capitalismo decrépito e de
oferecer projetos de um futuro luminoso.
As experiências de construção do socialismo e o ideal comunista foram e são
instrumentos inspiradores destas transformações e, explicita ou implicitamente,
animaram e animam muitos dos seus protagonistas.
A concertação multilateral entre forças sociais e estados, sem abdicar das
convicções e das forças de cada um, é uma chave para a via de superação, tão
pacífica quanto possível, das enormes contradições mundiais entre opressores e
oprimidos e, em particular, será também através do sistema das Nações Unidas que
herdámos que podemos lutar por alcançar o sistema das Nações Unidas dum mundo
novo. 31.10.2013 DOCUMENTAÇÃOhttp://www.unric.org/pt/informacao-sobre-a-onu
http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-os-direitos-humanos/
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http://www.imf.org/external/pubs/ft/exrp/differ/differ.htm
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http://www.wto.org/english/thewto_e/whatis_e/tif_e/org6_e.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_member_states_of_the_World_Trade_Organization
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http://www.ft.com/intl/cms/s/0/236651ca-3185-11e3-817c-00144feab7de.html#axzz2htb8xIa0
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5/11/2013

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