sábado, 9 de novembro de 2013

Privatizações geralmente terminam em desastres


6 razões pelas quais privatizações geralmente
terminam em desastres

O professor universitário norte-americano Paul Buchheit dá alguns
exemplos de como o modelo privado não supera o público em diversas
áreas nos EUA

Paul BuchheitSistemas privados estão focados em gerar lucros para as
poucas pessoas bem posicionadas. Sistemas públicos, quando
abastecidos suficientemente por impostos, funcionam para todo mundo
de uma forma igualitária.
Em seguida, as seis razões específicas que mostram o porquê
privatizações simplesmente não funcionam.
1. A motivação por lucro move a maioria do dinheiro para o topo
O administrador do sistema de saúde federal ganhou como salário 170
mil dólares em 2010. O presidente do MD Anderson Cancer Center, no
Texas, recebeu dez vezes mais em 2012. Stephen J. Hemsley, o CEO da
United Health Group (Grupo Único de Saúde), ganhou 300 vezes mais em
um ano, 48 milhões de dólares, a maior parte por causa das ações da
empresa.
Em parte por causa dessas desigualdades, nosso sistema de saúde é o
mais caro do mundo desenvolvido. O preço de cirurgias comuns é de
três a dez vezes mais caro nos Estados Unidos do que na Grã
Bretanha, Canadá, França ou Alemanha.
O sistema de saúde público, por outro lado, que não tem a motivação
por lucros e a competitividade de cobrança, é administrado de forma
eficiente, para todos os americanos elegíveis. De acordo com o
Conselho do Seguro de Saúde Acessível e outras fontes, os custos
administrativos médicos são muito maiores nas empresas privadas do
que no sistema de saúde público.
Mas os privatistas continuam invadindo o setor público. Nosso
governo reembolsa os CEOs de empresas privadas em uma taxa
aproximadamente duas vezes maior do que o que pagamos para o
presidente. No geral, pagamos aos chefes de corporações mais de 7
bilhões de dólares por ano.
Muitos americanos não percebem que a privatização da segurança e
saúde social transferiria muito do nosso dinheiro para mais outro
grupo de CEOs.

2. Privatizações atendem pessoas com dinheiro, o setor público
atende todo mundo
Um bom exemplo é o U.S.Postal Service (USPS, Serviço Postal dos EUA
em tradução livre), que é legalmente obrigada a atender toda casa do
país. O Fedex e o United Parcel Service (UPS, Serviço Único de
Encomendas em tradução livre) não conseguem atender lugares
deficitários. Além de que a USPS é muito mais barata para pacotes
pequenos. Uma comparação online revelou o seguinte por uma entrega
de dois dias de pacotes com tamanhos similares para outro estado:
- USPS – 2 dias US$ 5,68 (46 centavos sem a restrição de dois dias)
- FedEx – 2 dias US$ 19,28
- UPS – 2 dias US$ 24,09
USPS é tão barata, de fato, que a Fedex atualmente usa os Correios
dos Estados Unidos para aproximadamente 30% de suas encomendas por
terra.
Outro exemplo é a educação. Um relatório recente do ProPublica
descobriu que nos últimos vinte anos colégios estaduais de quatro
anos têm atendido uma parte cada vez menor de estudantes de baixa
renda. No nível K-12, estratégias empresariais de redução de custo
são uma das consequências da privatização da educação dos nossos
filhos. Escolas privilegiadas são menos propensas a aceitar alunos
com deficiência. Professores dessas escolas têm menos anos de
experiência e uma taxa de rotatividade mais elevada. Os outros
funcionários possuem planos insuficientes de aposentadoria e seguro
de saúde, e são muito mal pagos.
Finalmente, no que diz a respeito ao sistema de saúde, 43% dos
americanos doentes deixou de ir ao médico ou comprar medicamentos em
2011 por causa dos preços excessivos. Estima-se que mais de 40 mil
americanos morrem todos os anos porque não podem pagar seguro de
saúde.
3. Privatizações tornam necessidades básicas humanas em produtos
Grandes empresas gostariam de privatizar nossa água. Um economista
do Citigroup se orgulhou: “Água, como uma série de ativos, será, em
minha opinião, a mercadoria física mais importante, superando o
petróleo, o cobre, as commodities agrícolas e os metais preciosos.”
Eles querem nossa terra. Tentativas de privatização foram feitas na
administração de Reagan nos anos 1980 e pelo Congresso, controlado
pelos republicanos, nos anos 1990. Em 2006, o presidente Bush propôs
leiloar 300 mil hectares de floresta nacional em 41 estados. O
caminho da prosperidade de Paul Ryan foi baseado em parte na
proposta do republicano Jason Chaffetz’: “Eliminação do excesso de
terras federais, Lei de 2011”, que iria leiloar milhões de hectares
de terra no oeste da América.
Eles querem nossas cidades. Um especialista em privatizações disse
ao Detroit Free Pressque o dinheiro de verdade está em ações
urbanas, como uma “fonte de receita”. Então, o recurso mais valioso
de Detroit era a Water & Sewerage Department (DWSD, Departamento de
Água e Esgoto), que garante 350 milhões de dólares aos bancos,
mantendo a demanda. Bloomberg estima um preço de quase meio bilhão
de dólares, em uma cidade na qual os donos de casa mal conseguem
pagar pelos serviços de água.
E eles querem nossos corpos. Um quinto dos genomas humanos é
propriedade privada através de patentes. Amostras de influenza e
hepatite foram reivindicadas por laboratórios de universidades e
corporações, e por causa disso os pesquisadores não podem usar
formas patenteadas de vida para ajudar nas pesquisas sobre o câncer.
4. Sistema público fomenta uma classe média forte
Parte da mitologia do mercado livre é que os funcionários públicos e
os trabalhadores sindicalizados são aproveitadores, desfrutando de
benefícios que são negados aos trabalhadores do setor privado. Mas
os fatos mostram que funcionários do governo e trabalhadores
sindicalizados não são pagos em excesso. De acordo com o Census
Bureau, funcionários estaduais e municipais compõem 14,5% da classe
trabalhadora dos Estados Unidos e recebem 14,3% da remuneração
total. Membros de sindicatos representam aproximadamente 12% da
classe trabalhadora, mas seus salários correspondem a apenas 10% da
renda bruta, conforme relatado pelo IRS.
O trabalhador do setor privado recebe aproximadamente o mesmo
salário que o funcionário estadual ou municipal. Mas o salário médio
para trabalhadores dos Estados Unidos, dos quais 83% estão no setor
privado, foi 18 mil dólares menor em 2009, com 26.261 dólares. A
desigualdade é muito mais difundida no setor privado.
5. O setor privado tem incentivos para falhar ou absolutamente
incentivo nenhum
A predisposição para falhar mais óbvia é na indústria de prisões
privadas. Alguém pode pensar que essa indústria possui o objetivo
digno de reabilitar e esvaziar gradualmente as cadeias. Mas o
negócio é muito bom. Com cada presidiário gerando até 40 mil dólares
por ano em receitas, o número de presos em instalações privadas
aumentou mais de 1.600% de 1990 a 2009, de 7 mil para mais de 125
mil. A Corrections Corporation of America (Corporação de Correções
da América) se ofereceu recentemente para administrar o sistema de
prisões em todos os estados, garantindo manter 90% das cadeias
cheias.
Privatistas nem têm incentivos para manter a infraestrutura. David
Cay Johnston descreve o estado de deterioração das bases estruturais
da América, com redes negligenciadas pelos monopolistas industriais,
que cortam gastos em vez de prestar manutenções. Enquanto isso, eles
atingem margens de lucros de mais de 50%, oito vezes a média das
corporações.
Quanto à segurança pública, os sinais de alerta para privatizações
não regulamentadas estão se tornando mais claros e mais fatais. A
fábrica de fertilizantes Texas, onde 14 pessoas foram mortas em uma
explosão e incêndio, foi inspecionada pela Occupational Safety and
Health Administration (OSHA, Administração de Segurança e Saúde de
Profissionais) há mais de 25 anos. O Serviço Florestal dos Estados
Unidos, marcado pelo incêndio em Prescott, no Arizona, que matou 19
pessoas, foi forçado a cortar 500 bombeiros por causa dos confiscos.
O desastre nos trilhos de Lac-Megantic, no Quebec, foi consequência
da desregulamentação das ferrovias canadenses. No outro extremo está
o setor público, e o Federal Emergency Management Agency (Fema,
Agência Federal de Cuidados Emergenciais), que resgatou centenas de
pessoas após o furacão Sandy enquanto providenciava alimentos e água
a outros milhões.
A falta de incentive privado para a melhoria das condições humanas é
evidente em todo o mundo. O World Hunger Education Service (Serviço
Mundial de Educação sobre a Fome) afirma que “os sistemas econômicos
nocivos são a principal causa de pobreza e fome.” De acordo com
Nicholas Stern, o chefe economista do Banco Mundial, a mudança
climática é “a maior falha de mercado que o mundo já viu.”
6. Com sistemas públicos, não temos que ouvir devaneios de
“iniciativas individuais”
De volta aos tempos do Reagan, uma declaração impressionante foi
feita por Margaret Thatcher: “Não existe isso de sociedade. Existe
homens e mulheres individuais, e existem famílias.” Mais
recentemente, Paul Ryan reclamou que o apoio governamental “drena as
iniciativas individuais e a responsabilidade pessoal.”
É fácil para pessoas com bons empregos falarem isso.
Iniciativa individual? O apoio público da nossa rede de comunicações
permite aos 10% de americanos ricos manterem sua cota de 80% no
mercado de ações. CEOs contam com estradas, portos e aeroportos para
enviar seus produtos, com FAA e TSA, com a Guarda Costeira e com o
Departamento de Transportações para protegê-los, uma rede nacional
de energia para potencializar suas indústrias, e torres e satélites
de comunicação para conduzir seus negócios online. Talvez o mais
importante para os negócios, mesmo quando se trata de lucros a curto
prazo, seja a pesquisa a longo prazo financiada com dinheiro do
governo. A partir de 2009, universidades ainda recebiam dez vezes
mais financiamentos governamentais para ciência e engenharia do que
financiamentos industriais.
Público supera o privado em quase todos os sentidos. Somente o hype
da mídia de livre mercado mantém muitos americanos acreditando que o
sistema “o vencedor leva tudo” é melhor do que trabalhar junto como
uma comunidade.

In
Controversia
http://www.controversia.com.br/index.php?act=textos&id=16995

Nenhum comentário:

Postar um comentário