terça-feira, 9 de junho de 2015

A mais longa greve dos professores de São Paulo




Numa ação que parece combinada, os dois principais diários de São Paulo - Folha
e Estadão - têm produzido factoides negativos contra os professores.

Altamiro Borges


Nesta segunda-feira (8), a greve dos professores da rede estadual de São Paulo
completará 85 dias. É a mais longa paralisação da história desta combativa
categoria. Neste longo período, os docentes enfrentam a truculência do
governador Geraldo Alckmin (PSDB), que se recusa a negociar, cortou o ponto dos
grevistas e faz constantes ameaças de retaliação. Eles também esbarram na
manipulação da imprensa chapa-branca, nutrida com farta publicidade do governo
tucano. Num primeiro momento, a mídia patronal tentou invisibilizar a greve,
transformando-a numa “não notícia”. Agora ela já partiu abertamente para a
criminalização do movimento, tentando jogar a sociedade contra os grevistas.

Numa ação que parece combinada, os dois principais diários de São Paulo têm
produzido factoides negativos contra os professores. Na quarta-feira passada
(3), por exemplo, o Estadão – nada familiarizado com uma assembleia de
trabalhadores – procurou estimular a cizânia entre os docentes que aprovaram a
continuidade da paralisação. “Os grevistas estavam divididos e foi preciso fazer
duas votações para que se chegasse a uma conclusão... Minutos antes da votação,
seguranças que trabalhariam para o Sindicato dos Professores do Ensino do Estado
de São Paulo (Apeoesp), que lidera a paralisação, entraram em confronto com
professores em frente ao caminhão de som”. Puro jogo de intrigas!

Já a Folha, em matéria publicada no mesmo dia, afirmou que “a continuidade da
greve foi decidida após troca de socos e chutes na assembleia” e garantiu que a
adesão ao movimento está em queda. O autor da “reporcagem”, Fábio Takahashi, não
fez qualquer crítica à postura provocadora do governo tucano. Nem sequer
questionou a ausência de uma proposta de acordo do Palácio dos Bandeirantes. O
clima de terror na redação da Folha, que já demitiu dezenas de trabalhadores e
trata os que ainda estão empregados como escravos precarizados, talvez explique
este tipo de “cobertura jornalística”. Também ajuda a entender a baixíssima
capacidade de resistência dos jornalistas diante dos “companheiros patrões”.

O mesmo repórter, em outra “reporcagem”, já havia afirmado que a greve dos
docentes paulistas foi decretada em 13 de março, “em meio a um ato em defesa de
direitos trabalhistas que reuniu diferentes sindicatos e movimentos sociais e
também serviu de apoio ao governo da presidente Dilma (PT)”. Selecionado pela
direção da Folha para cobrir a paralisação, o jornalista amestrado também
insiste em jogar a sociedade contra os grevistas. “Greve dos professores esfria”
e “os pais já pressionam os diretores para definirem a melhor forma de reposição
das aulas perdidas”, escreveu no final de maio. Todas as suas “reporcagens”
apostam no esvaziamento da greve e escondem o “picolé de chuchu” Geraldo
Alckmin.

O mesmo tipo de “cobertura jornalística” é observado nas emissoras de rádio e
televisão – em alguns casos, de maneira ainda mais hidrófoba –, o que evidencia
que a mídia patronal não tem qualquer tipo de isenção. Historicamente, ela
sempre foi contrária à luta dos trabalhadores. E nem poderia ser diferente.
Afinal, ela explora e humilha centenas de jornalistas e não gostaria de vê-los
se rebelando contra as demissões, os baixos salários e a precarização do
trabalho – a tal “pejotização”. Neste sentido, ela conta com a ajuda de seus
serviçais para estigmatizar e criminalizar a prolongada paralisação dos
professores de São Paulo, divulgando apenas as suas dificuldades e impasses.

In
Carta Maior
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Educacao/A-mais-longa-greve-dos-professores-de-SP/13/33682
8/6/2015

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