segunda-feira, 22 de junho de 2015

Em Roma, cooperativa produz alimentos e desenvolvimento social dentro da cidade





Objetivo do projeto também é resgatar laços sociais e incluir socialmente
imigrantes e outros grupos frágeis.


Por Alan Tygel e Mônica Mourão


A Via Tenuta della Mistica fica a 30 minutos do centro de Roma. Da janela do
ônibus, a paisagem se modifica rapidamente ao longo da Via Prenestina. O
concreto denso e a falta de árvores pouco a pouco dão lugar a parques, áreas
livres e uma zona industrial decadente.

Há alguns anos, a prefeitura da cidade reservou uma grande área, antes
abandonada, para usos de interesse social. Além de algumas associações
beneficentes, foi lá que a Cooperativa Agricoltura Capodarco instalou sua
segunda sede, onde desenvolve a chamada “agricultura social”. Os 15 hectares de
terra são cultivados por cerca de 50 pessoas, entre cooperados, voluntários e
trabalhadores em situação socialmente frágil – imigrantes, pessoas com
deficiência e ex-detentos.


A produção mensal pode chegar a 30 toneladas, que são escoadas na própria loja
que fica no local, e através de redes de consumo solidário. Uma das principais
culturas é a do morango, mas a produção, toda orgânica, é bastante
diversificada. Hortaliças como rúcula e alface, ou legumes como abobrinha,
beterraba, feijão e aspargos são cultivados em diferentes épocas do ano, e mesmo
no inverno é possível trabalhar a terra dentro de estufas.


Ele conta que, além da produção de alimentos, a parte social da cooperativa
inclui ajuda a imigrantes sem documentação: “Esta parte social, é nova para
Itália, porque as sociedades com um tipo de desenvolvimento voltado mais para a
urbanização, perderam muito os laços sociais, e uma coesão social da qual a
agricultura era uma grande incentivadora. A agricultura é social por natureza.
Ela inclui, envolve, cria coesão, solidariedade, e isso se perdeu. Mas aqui na
Itália muitas pessoas sentiram a necessidade de recuperar esse aspecto.”

Junto ao trabalho na Cooperativa, Marco integra o Comitê de Amigos do MST na
Itália: “O comitê nasceu em 1996, após o massacre de Eldorado dos Carajás, que
sensibilizou muito a solidariedade internacional. O comitê atua em solidariedade
ao Movimento na Itália de diversas formas: a principal é divulgar na Itália as
grandes lutas do MST. Também acolhemos militantes do Movimento que vêm à Europa.
Além disso, organizamos seminários, boletins informativos e tudo que podemos
fazer para apoiar e ajudar o movimento”, explica.

Entretanto, Marco ressalta que o comitê não serve apenas como mão única da
Itália para o Brasil: “Também achamos que apoiar e divulgar o MST na Itália é
importante para o desenvolvimento social e político da militância e dos
movimentos sociais italianos. Vemos a organização do Movimento, a estrutura, as
batalhas, as propostas e a mística como um estímulo muito importante para os
movimentos italianos também. É fundamental trocar experiências, ideias,
metodologias de luta e trabalho, e produção. Essa é a estrada para construir na
prática um modelo de desenvolvimento mais justo e cuidadoso do meio ambiente e
da classe trabalhadora também”, conta Marco.


Num momento em que a Europa se afunda cada vez mais na crise, e a juventude vaga
sem perspectivas de futuro, o retorno à agricultura tem sido cada mais uma opção
de vida. E na Via Tenuta della Mistica, na periferia da cidade de Roma, onde o
passado está presente em cada esquina, a história segue dando suas voltas, e
buscando reconstruir o futuro. Desta vez, é através da velha agricultura que se
trilham os caminhos para uma cidade mais saudável, justa e solidária.

In
MST
http://www.mst.org.br/2015/06/22/em-roma-cooperativa-produz-alimentos-e-desenvolvimento-social-
dentro-da-cidade.html

22/6/2015

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