quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Pergunta: para derrotar o ultraimperialismo, o modelo chinês pode funcionar melhor para a Rússia?






 Temos vivido numa longa crise sistêmica do capitalismo, que começou em 1975,
com o fim da convertibilidade do dólar em ouro. Não se trata do que aconteceu na
famosa crise financeira em 2008. Trata-se de uma longa crise sistemática do
capitalismo monopolista que começou há 40 anos e prossegue. Os capitalistas
reagiram à crise com várias medidas. +

Samir Amin, economista conhecido mundialmente, explica as causas de a economia
moderna estar em plena decadência, e oferece a receita para nos salvar do
imperialismo global (entrevista exclusiva para Katehon)
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 Posso resumir meu ponto de vista sobre a situação da economia moderna nos
seguintes termos.
 Temos vivido numa longa crise sistêmica do capitalismo, que começou em 1975,
com o fim da convertibilidade do dólar em ouro. Não se trata do que aconteceu na
famosa crise financeira em 2008. Não. Trata-se de uma longa crise sistemática do
capitalismo monopolista que começou há 40 anos e prossegue. Os capitalistas
reagiram à crise com várias medidas.
 O primeiro conjunto de medidas foi reforçar a centralização do controle que os
monopólios exercem sobre a economia. Há uma oligarquia que controla todos os
países capitalistas - EUA, Alemanha, França, Grã-Bretanha e também a Rússia.
 A segunda medida foi converter toda a produção da atividade econômica em
subempreitadas do capital monopolístico. Quero dizer: esses subempreiteiros não
têm nem vestígio de liberdade. A concorrência é só retórica, não há nenhum tipo
de concorrência. O que há é uma oligarquia que está no controle de todo o
sistema econômico. Hoje estamos diante de uma frente de potências imperialistas
que constituíram um imperialismo coletivo, da Tríade.
 A Tríade é EUA, Europa Ocidental e Central e o Japão. Esse grupo de países
tornou-se uma única potência imperialista, cujo líder é os EUA. Esse arranjo
levou ao aprofundamento da crise. A crise atual tem formato de "L". Crises
'normais' tem formato de "U": a economia sobe depois da queda.
 Mas a crise em que estamos hoje é diferente. Não há como sair dessa crise. A
única possibilidade é sair do capitalismo. Não há qualquer outra solução
possível. O capitalismo tem de ser considerado como sistema moribundo. Hoje,
para sobreviver, o capitalismo já tem de recorrer à destruição de tudo e às
guerras.
 Temos alternativa, sim: o socialismo. Sei que o socialismo não está na moda
entre os intelectuais, sei que falar de socialismo não melhora minha
popularidade, mas não há outra solução, só o socialismo.
 A estrada é longa e começa com reduzir o poder da oligarquia, reforçar o
controle pelo Estado e estabelecer um capitalismo de Estado que possa substituir
o capitalismo privado. Não significa que o capitalismo privado não sobreviverá,
mas será subordinado ao controle pelo Estado. E o controle pelo estado deve
servir também de apoio a uma política socialmente progressista. Deve visar a
garantir pleno emprego, serviços públicos, educação, transporte, infraestrutura,
segurança, etc.
A China
 O papel da China é enorme, porque a China é, talvez, o único país de todo o
mundo que tem projeto soberano. Significa que a China está tentando estabelecer
um padrão da indústria moderna, no qual, claro, o capital privado tem grande
papel, mas está sob estrito controle pelo Estado. Simultaneamente, oferece à
cultura uma visão do presente.
 O outro padrão da cultura econômica chinesa tem por base os produtores
familiares. A China caminha sobre duas pernas: segue suas tradições e participa
do mundo multipolar. Os chineses aceitam investimentos externos, mas mantêm a
independência do próprio sistema financeiro. O sistema bancário chinês é
controlado exclusivamente pelo Estado. O yuan só é convertível até certo ponto,
e sempre sob controle do Banco da China. Esse é o melhor modelo com que contamos
hoje para enfrentar o imperialismo dos globalistas.
 É possível que a Rússia esteja andando nessa direção, mas não tanto quanto a
China, porque a Rússia pagou preço altíssimo pela destruição de que foi alvo na
'terapia de choque' de Gorbachev e Yeltsin. Esses governos entregaram a Rússia a
uma oligarquia privada, muito intimamente relacionada com o capitalismo
financeiro internacional dos EUA, Alemanha e outros. Isso reduziu a capacidade
da Rússia para controlar a própria vida. Mas agora a Rússia caminha gradualmente
na direção de restabelecer o controle pelo Estado sobre a economia do país.
 O mundo vive tempos de grave perigo. O imperialismo coletivo de EUA, Europa
Ocidental e Japão é governado pelos EUA. Para conseguir manter o exclusivo
controle que tiveram sobre todo o planeta, os EUA absolutamente não aceitam
independência de outros países. Não respeitam a independência de China e Rússia.
Essa é a razão pela qual estamos na iminência de padecermos em várias guerras,
por todo o mundo.
 Islamistas radicais foram convertidos em aliados do imperialismo, porque são
apoiados pelos EUA com a finalidade de gerar desestabilização. A isso se chama
guerra permanente.
 Creio firmemente que a melhor resposta a isso é o projeto eurasiano. A Rússia
deve unir-se com China, países centro-asiáticos, Irã e Síria. Essa aliança pode
vir a ser muito atraente também para a África e boas partes da América Latina.
Se as coisas andarem nessa direção, o imperialismo estará isolado.*****+
2/9/2016, Samir Amin responde, Katheon
In
PORT.PRAVDA.RU
http://port.pravda.ru/sociedade/curiosas/03-09-2016/41669-derrotar_imperialismo-0/
3/9/2016

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