sábado, 7 de abril de 2018

Greves de professores alastram nos EUA*


 António Santos

Mesmo nos EUA de Trump há trabalhadores em luta, e não são poucos. O movimento
grevista de professores que neste momento alastra em vários Estados é uma
resposta, combativa, quase espontânea, e com grande expressão de massas, à
extrema degradação da situação nas escolas públicas.


A greve dos professores da Virgínia Ocidental que, no mês passado, terminou com
uma estrondosa vitória dos trabalhadores, foi o catalisador das paralisações de
docentes decretadas no Kentucky e no Oklahoma, Estados a que muito em breve se
poderá juntar o Arizona.
Foi no Kentucky que, na sexta-feira passada, a greve começou. Os professores,
que protestam contra cortes draconianos nos planos de pensões públicas,
ultrapassaram os constrangimentos legais que proíbem a greve declarando-se
doentes nesse dia. Igualmente ultrapassados foram os sindicatos federais e
estaduais que, mais ou menos reiteradamente, procuraram demover da greve os
professores. Com efeito, a greve de duração indeterminada, apelidada de
«selvagem» mas que na verdade é apenas espontânea, foi organizada pela Internet
sem o apoio da Associação Nacional de Educação ou da Associação de Educação do
Kentucky. Ainda assim, o Departamento de Educação deste Estado informou que mais
de metade das escolas continuavam fechadas na segunda-feira, dia em que milhares
de professores se manifestaram em frente ao capitólio estadual, em Frankfurt.
Também segunda-feira, o Oklahoma, segundo Estado na lista dos piores salários
docentes nos EUA, deu continuidade ao protesto. Rejeitando a aprovação pelo
Congresso estadual, na quinta-feira passada, de um aumento de 6000 dólares
anuais por trabalhador por oposição aos 10 000 reivindicados, mais de 30 mil
professores deram início a uma greve ilegal que paralisou por completo várias
centenas de escolas. No mesmo dia, cerca de 15 mil professores concentraram-se
junto ao capitólio, na Cidade do Oklahoma, envergando camisas vermelhas e
exigindo mais investimento na educação, manuais escolares novos, turmas mais
pequenas e melhores condições materiais. Neste Estado, o subfinanciamento da
Escola Pública é tão grave que vinte por cento dos estabelecimentos de ensino já
só funcionam quatro dias por semana.
Também no Arizona cresce a pressão para uma greve de professores. Neste Estado,
onde há turmas de 50 alunos e a maioria dos professores precisa de um segundo
emprego para sobreviver, o subfinanciamento da Escola Pública atingiu um ponto
crítico e nunca o fosso entre professores e governador foi tão profundo: o
governador, Doug Ducey, propôs aumentos salariais de um por cento, abaixo da
taxa de inflação de 2,2 por cento ao passo que os professores exigem aumentos
salariais a partir de 20 por cento.
Todos os quatro Estados onde a luta dos professores está mais acesa, Virgínia
Ocidental, Arizona, Oklahoma e Kentucky, são Estados onde Trump e o Partido
Republicano arrancaram vitórias fáceis a Hillary Clinton e ao Partido Democrata.
Estranhamente, a postura dos democratas, que têm insistido em menorizar e
caricaturar os povos destes Estados como estúpidos, racistas e machistas sem
salvação, contribuiu para soltar a luta dos trabalhadores dos freios do partido
do burro, criando o espaço para o que é actualmente o maior e mais progressista
movimento laboral dos EUA.
*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2314, 5.04.2018

In
O DIARIO.INFO
https://www.odiario.info/greves-de-professores-alastram-nos-eua/
7/4/2018

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