quarta-feira, 1 de julho de 2015

Petrobras e os interesses em jogo



"O tamanho da crise que estamos vivendo é proporcional à briga que compramos
para manter o pré-sal sob exploração."

Por Cibele Vieira*
Do Brasil de Fato



Estamos assistindo uma disputa internacional que poderá alterar o eixo de poder
mundial, hoje sustentado, principalmente, pelo controle financeiro e militar.
Quando um país sinaliza que aumentará seu poder bélico ou ameaça comercializar
petróleo e gás em uma moeda diferente do dólar, sofre sanções/intervenções do
EUA, como no caso do Iraque e, atualmente, da Rússia. Vale lembrar que o
petróleo se tornou o lastro informal da moeda norte-americana após a queda do
padrão ouro, os chamados petrodólares.


O capitalismo entrou em uma das suas piores crises em 2008. E, em 2009, os
países “em desenvolvimento” fizeram a primeira reunião do então chamado BRIC
(Brasil, Rússia, Índia, China) e passaram a reivindicar maior participação nas
decisões mundiais.


Ainda em 2007, o Brasil anunciou a descoberta do pré-sal e o plano estratégico
da Petrobras apontava o caminho para o país entrar na lista dos cinco maiores
produtores de petróleo do mundo até 2020. Essa lista teria a Arábia Saudita e os
Estados Unidos, de um lado, e Rússia, China e Brasil, do outro, no BRICS (os
mesmos quatro países, mais África do Sul). Anos depois, em 2013, é oficializado
o Fundo Comum e, em 2014, o Banco do BRICS.


Fica evidente o poder diferenciado deste novo “bloco” de ameaçar a moeda
americana como padrão internacional. O que, somado ao poderio bélico da Rússia,
China e Índia, é capaz de fragilizar os dois eixos de sustentação do poder
norte-americano.


Em 2010, com a lei de partilha, o Brasil sinalizou ao mundo: descobrimos a
maior reserva de petróleo do planeta das últimas décadas, vamos explorá-la por
meio da nossa estatal, usaremos os investimentos para desenvolver a indústria
nacional e destinar grande parte do lucro para o Fundo Soberano (educação e
saúde) e para fortalecer o BRICS.


Alguém tem dúvida que isso geraria uma reação? O tamanho da crise que estamos
vivendo é proporcional à briga que compramos. Estamos no meio do fogo-cruzado
entre a disputa China x EUA.


Também em 2010, o Wikileaks já denunciava o acordo entre o atual senador José
Serra (PSDB-SP) e as petrolíferas privadas para entregar o pré-sal às
multinacionais. Reduzir os investimentos é sinalizar que a Petrobras não será
mais impulsionadora da indústria nacional.


Tirar a Petrobras da operação do pré-sal é abrir mão do controle estatal de
exploração e da tecnologia. Além de fragilizar o Fundo Soberano e o conteúdo
local, que, somado à diminuição da empresa através da venda de ativos, significa
reduzir o poder do Estado brasileiro em intervir na economia de forma
estrutural.


Entramos na briga de cachorro-grande, agora vamos latir e morder ou aceitaremos
voltar a ser vira-lata?



*Cibele Vieira é socióloga (Escola de Sociologia e Política de São Paulo) e
diretora do Sindipetro Unificado de SP e da Confederação Nacional do Ramo
Químico.


In
MST
http://www.mst.org.br/2015/06/30/petrobras-e-os-interesses-em-jogo.html
30/6/2015

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