quinta-feira, 2 de julho de 2015

Razões para desconfiar desta "aristocracia"




por Daniel Vanhove

Os dias, as semanas, os meses, os anos passam e assemelham-se...
Poderíamos mesmo acrescentar, séculos passam e também são semelhantes...
São sempre os mesmos que ganham e os mesmos que perdem... De um lado os
que dominam, do outro os dominados. A história parece imutável, a este
nível.

Hoje em dia a principal diferença reside na informação. Em tempos, era
difícil de aceder, agora é superabundante ao ponto de muitos se perderem e
acabarem por tudo misturar... o que nos permite (quase) dizer que estes
não estão melhor informados que antes. A quantidade aí está, sem dúvida,
mas com uma perda de qualidade óbvia... Como qualquer outro produto, neste
mundo "mercantilizado" ao exagero, a informação tornou-se objeto de
consumo...

Há poucos dias, a sra. Lagarde, diretora executiva do FMI, a funcionária
internacional mais bem paga do mundo, com um salário de cerca de 500 mil
dólares por ano (ou seja, quase 32 mil euros/mês) do qual não paga
impostos (!) em conformidade com as artigos 34º e 38º da Convenção de
Viena de 1961 sobre relações diplomáticas, esteve em Bruxelas no quadro
das Grandes Conferências Católicas.

Além de questões que se podem colocar sobre a presença da diretora do FMI
em tais conferências, o mais incrível reside sem dúvida no conteúdo do
discurso feito pela sra. Lagarde. Sem pestanejar, ela asseverou que "todos
ganharão com uma redução das desigualdades excessivas". O público na
conferência "católica" ouviu estas máximas "piedosamente" sem que alguém
tenha tentado infligir a esta senhora o único tratamento que ela merece,
ou seja, lançando-lhe um pastelão ! Perguntamo-nos se estamos a sonhar
(ou antes num pesadelo) ao ouvi tais declarações. E como não reagir!? Que
ela comece, portanto, por rever o seu salário e os da sua comitiva...

A sra. Lagarde enumerou uma quantidade de boas intenções, sugerindo ainda
que: "Nossos estudos mostram que, contrariamente às ideias vulgarizadas,
os benefícios de um aumento do rendimento, vêm dos de baixo e não dos do
topo". Não sabemos em quem ela pensava nestas "ideias vulgarizadas"'...
Quanto a nós, do povo, nós o sabemos há muito e não tínhamos necessidade
que a diretora do FMI viesse com esta tirada. Teria a sra. Lagarde
encontrado a direção certa para cortar no bom sentido? Mas, sinceramente,
haverá um cargo no mundo que mereça aquele pagamento, para não mencionar
todas as vantagens que o acompanham? A resposta deve ser clara: nenhum!
(ver www.lalibre.be/....)

O mais interessante da história é ver com que tenacidade, com que
ressentimento a mesma diretora, tão bem intencionada quando se trata de
dar lições de moral num ambiente "católico", procede de comum acordo com
as altas instâncias internacionais (UE-BCE-FMI, a chamada "Troika") que
puseram a Grécia de joelhos. Viver com 32 mil euros/mês sem pagar impostos
e reivindicar para a Grécia esforços suplementares para os desempregados e
aposentados, que tentam sobreviver com uns 500 € por mês é uma vergonha e
uma impostura que mereceria ser de imediato destituída do cargo e entregar
95% do que tem recebido à custa dos mais pobres que veem tais números e
ficam simplesmente paralisados na sua dramática situação, não sabendo
muitos deles como terminar o mês. Para memória, lembremos que a taxa de
suicídio aumentou de maneira endémica na Grécia após as medidas de
austeridade, defendidas pelas pessoas atacadas de autismo que nos
governam.

E toda esta gente que gira entre cimeiras e reuniões especiais para ver
como esgotam ainda mais os que já não tem quase nada, esses indivíduos
arrogantes que se espanejam atrás dos seus mandatos imerecidos, esta
aristocracia de nutridos que abomina cada vez mais os povos não deve
surpreender-se de ver a Europa transformar-se na cor castanha de que eles
afirmam não entender as razões e fazer todo o possível para a combater.
Eles são os primeiros responsáveis e com eles a comunicação social que
controlam e manipulam. Raramente, sem dúvida, o mundo tem enfrentado tanta
exibição de cinismo.

Alguns podem repetir que o grande problema da Europa é imigração.
Realmente é a árvore que esconde a floresta. O grande problema da Europa
(e da globalização em geral) é precisamente estas desigualdades que se
tornaram intoleráveis entre os cada vez mais ricos e os cada vez mais
pobres. Imigração maciça é uma das resultantes. Entre os patrões de
grandes empresas que se concedem salários de uma indecência sem nome estes
funcionários com salários excessivos, nunca responsáveis pelos seus vários
erros, no entanto múltiplos, mas com a renovação dos seus mandatos
assegurada neste jogo de dar e receber entre amigalhaços. Isto, enquanto
os pensionistas, os desempregados, os jovens, os trabalhadores, cujas
condições são precarizadas ao longo dos anos, a contradição é hoje
enorme. Chegará o dia onde a revolta popular virá surpreende-los sob as
suas janelas e eles sem dúvida vão se espantar, vivendo na sua bolha
acética e sombria, feita de diretivas e decretos que não são do interesse
do cidadão...

Atualmente, joga-se o destino da Grécia, os outros povos de países
europeus vizinhos olham e compreendem pouco a pouco como esta aristocracia
organiza-se para despedaçar um país e enriquecer à sua custa. Porque é a
Europa e seus banqueiros que enriquecem sobre as costas da população,
fornecendo empréstimos a juros que noutras circunstâncias seriam
qualificados de usurários...e vem dizer-nos em seguida, para "reduzir as
desigualdades excessivas"...

Que impostura a destes funcionários! Que parasitas! Isto verifica-se
quase todos os dias. Não se estava a ver este jogo de víboras aquando da
nomeação de J.-C. Junckers a seguir ao Sr. Barroso à frente da Comissão?
Belo exemplo para os povos, com efeito nomear para a chefia da Comissão um
dos feitores do paraíso fiscal chamado Luxemburgo! E pensam que a
população não tem memória e não se lembra? Tomam-nos portanto além do mais
por imbecís... Não satisfeitos em ter renunciado há muito a qualquer
probidade, de não terem a mínima integridade pessoal, de estarem muitos
deles metidos em sombrias tramoias e múltiplas fraudes, arrastam-se na
baixeza para obter mais um lugar onde poderão ainda por mais alguns anos
encher os bolsos... Eis a ideia que fazem das populações que pretendem
gerir.

Em 27 de junho, em Montpellier, numa sessão dedicada ao partido Syriza,
um responsável local explicou-nos que o que tinha permitido o sucesso
deste partido "de esquerda", tinha sido o Pasok (partido social-democrata
grego que faz parte do partido dos socialistas europeus e da Internacional
Socialista – pois claro!) já não ser qualificado nem designado há longo
tempo pelos Gregos como um partido "da esquerda". Enquanto noutros países
europeus, os partidos socialistas que levam a cabo em concertação uma
política neoliberal idêntica à da direita, são considerados como sendo de
"esquerda", a confusão reina no seio da população. Para meditar...

[...]

P.S.: Mme. Lagarde, acaba de anunciar que se solicitado pelas instâncias,
se sente pronta para "servir" num novo mandato à frente do FMI, "esta
bela casa", acrescentou... Assim se vê a hipocrisia e a duplicidade no
trabalho quando estes responsáveis confundem "servir" e 'servir-se"...
O original encontra-se em www.legrandsoir.info/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
http://resistir.info/crise/lagarde.html
2/7/2015

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