segunda-feira, 6 de maio de 2019

Insanidade e decadência do imperialismo (1ª parte)




*por Daniel Vaz de Carvalho *

*1 - A esquizofrenia *

Imperialismo, significa o domínio político e económico de uma nação
sobre outras. O imperialismo, fase suprema do capitalismo (Lenine),
encontra-se numa fase senil, de que a esquizofrenia – doença mental
caracterizada pela dissociação entre o pensamento e a realidade – é um
sintoma.

O problema dos mentirosos e da manipulação é que acabam por acreditar no
que dizem, pois até são recompensados por isso. Como os que os
contradizem são marginalizados ou perseguidos, agentes e mandantes
acreditam que o mundo pode ser formatado segundo os seus desejos. É o
fundamento da esquizofrenia imperialista, desligada de uma realidade de
que perdeu o controlo e que derivou em esquizomania, uma patologia que
origina negativismo e reações violentas perante a realidade. Donde as
ameaças, conspirações, sanções, guerras de agressão.

A RTP 3 transmite um programa da CNN designado GPS, segundo o anúncio, é
nesta "Praça Pública Global", que vai compreender o mundo, todos os
dias, com o conhecimento e explicações de Fareed Zakaria.

Este "comentador" considera por exemplo que Trump "não está disposto a
confrontar Putin de forma alguma com qualquer questão". "A grande
questão para Washington é: será que Moscovo se permitirá zombar de outra
linha vermelha dos EUA?" "Os Estados Unidos e a Rússia adotaram posições
incompatíveis. Como na Síria, existe o perigo de que, se Washington não
apoiar suas palavras com ações, daqui a um ano, estaremos a observar a
consolidação do regime de Maduro, apoiado com armas e dinheiro da
Rússia". [1] <#notas>

Recentemente (RTP3, GPS de 20/4
<https://www.rtp.pt/play/p2064/e402518/gps> ) Hillary Clinton, com um
sorriso de vendedora de cosméticos, expôs a lógica imperialista que
defende: "No século XX deparámos com gulags, campos de concentração e
com as piores coisas de que as pessoas são capazes. Por que criamos
organismos como a NATO e a UE, por que aprovámos algo como a Declaração
Universal dos Direitos Humanos? Visto que queremos controlar esses
impulsos e queremos que as pessoas sejam responsabilizadas.

Se deixarmos de querer isso na Arábia Saudita, na Rússia ou em qualquer
outro local estamos a contribuir para que venham ao de cima esses
instintos primitivos. (...) Além disso conseguimos ganhar a Guerra Fria,
porque as pessoas nunca deixaram de querer a liberdade e nunca deixaram
de acreditar na possibilidade de um mundo melhor. Se deixarem,
deixaremos de ser os EUA e abdicaremos do poder e influência que os EUA
têm no mundo."

Esta intervenção tem aspetos curiosos:

1º - A UE é (também) uma criação dos EUA! Não era preciso ir muito longe
para o percebermos, já que se tornou um acessório do belicismo
imperialista. Os países da UE estão subordinados às decisões da NATO que
os EUA comandam, numa relação como que feudal entre suserano e vassalo.
Tal é evidente no cumprimento das sanções aplicadas pelos EUA a outros
países, na agressividade em relação à Rússia, na participação em guerras
que nada têm a ver com os interesses europeus, leia-se, dos povos da
Europa.

2º- Muito sintomático é a ONU não ser mencionada. A Carta da ONU define
os princípios básicos do Direito Internacional, como o direito de cada
povo poder livremente escolher o seu destino sem ingerências externas,
excluir a guerra para resolução de litígios entre países e aplicação de
sanções ou outras ações que provoquem o sofrimento da população.

3º - Quanto a Direitos Humanos os EUA não resistem sequer aos relatórios
da Amnistia Internacional, [2] <#notas> detendo o triste privilégio de
cerca de três quartos dos ditadores em todo o mundo serem apoiados pelos
EUA, sem por isso deixarem de se considerar alfobres de valores
democráticos. [3] <#notas>

4º - Quando HC se refere a campos de concentração devemos incluir:
Guantanamo, as prisões secretas da CIA nos países vassalos; o Plano
Condor com o seu cortejo de horrores na América Latina; os massacres na
Indonésia; os crimes dos "contra" na Nicarágua, em El Salvador, dos
"paramilitares" na Colômbia, dos latifundiários contra o Movimento dos
Sem Terra no Brasil, dos "jihadistas" no Afeganistão para derrubar o
governo progressista afegão; os crimes das milícias apoiadas pela NATO e
aliados na Síria; da destruição da Líbia; etc.

5º - Parece que o ridículo e a mentira não afetam a classe dirigente dos
EUA. Porém ligar o seu íntimo aliado Arábia Saudita – agente na criação
de grupos islamistas e grande cliente de armamento que comete crimes de
guerra no Iémen – à Rússia, revela uma total dissociação das realidades.

*2 - "O poder e influência que os EUA têm no mundo" postos em causa *

É fácil verificar que as intervenções EUA/NATO apenas têm representado
mais instabilidade a nível mundial e caos social, conflitos
intermináveis e Estados disfuncionais, domínio de máfias e de fascismos.

São investidas largas centenas de milhões de dólares na promoção de
demagogos e gente ignara, cujas políticas transformam os seus países em
meros protetorados do império.

Ao porem de parte o Direito Internacional consignado na carta da ONU,
arrogaram-se o direito de decidirem como os países têm de ser governados
e as pessoas de viver. Arrogam-se o direito de serem acusação, juízes e
executantes da sentença. Simplesmente a acusação é sem provas ou com
provas forjadas que o domínio das seis megaempresas mediáticas difunde
pelo que designam "comunidade internacional".

Por exemplo, que provas credíveis e sujeitas a contraditório existem
evidenciando fraude nas eleições na Venezuela e que Maduro é um ditador?
Que provas existem de que os serviços de segurança venezuelanos são –
como disse um "comentador" – uma PIDE? Zero. È a técnica da mentira
repetida mil vezes.

Para esconder os crimes do imperialismo até o Papa é censurado nesta UE
em que a direita e extrema-direita arvora os valores cristãos para
defender o racismo, a intolerância e a agressividade, limitando-se aliás
a copiar os EUA, em que Marco Rubio defende a política internacional dos
EUA com citações da Bíblia... [4] <#notas> .

Em 6 de abril o Papa disse no Instituto de S. Carlo que a Europa e os
EUA são responsáveis pela morte de crianças na Síria, Iémen e
Afeganistão, acrescentando que os países ricos ocidentais iniciavam os
conflitos vendendo armas para as zonas de guerra, usadas para matar as
crianças e o povo. [5] <#notas>

Os EUA pensam sobre um mundo que não existe. Consideram ter por missão
levar aos países os benefícios da sua civilização e que por consequência
têm direitos sobre esses povos. Quaisquer desvios aos seus modelos são
assumidos como ataques à sua civilização, logo à sua superioridade e ao
seu poder, logo à sua segurança.

Esta visão, pode dizer-se, esquizofrénica, coloca o mundo à beira do
caos provocado pelas características de insanidade do imperialismo nesta
sua fase senil. Vistas as coisas do ponto de vista do materialismo
dialético, o que está em causa não é a segurança dos EUA, mas
simplesmente os lucros das suas transnacionais e a riqueza dos seus
ultra-ricos.

Porém, as ameaças encontram cada vez mais respostas dos países afetados.
Lavrov (ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia) considerou
inaceitáveis as alegações de Mike Pompeo (secretário de Estado dos EUA)
acerca da presença da Rússia na Venezuela.

O representante de Pequim no Chile afirma que Pompeo perdeu a cabeça, ao
atacar os investimentos da China no Chile como "maliciosos e "absurdos".
"Mr Pompeo perdeu a cabeça e foi demasiado longe". "Mr. Pompeo é um
hipócrita, os EUA não fizeram substanciais contribuições para a economia
dos países da América do Sul. Historicamente os EUA trataram os países
da América Latina como o seu "quintal" impondo frequentemente
intervenções militares e sanções." [6] <#notas>

A "ameaça comunista" intoxicou as mentalidades durante décadas e
prossegue. A URSS foi e é apresentada como uma entidade maléfica,
associada ao nazismo. A abertura dos arquivos soviéticos deitou por
terra mentiras baseadas em fantasiosos números historicamente
impossíveis, de pessoas sujeitas a repressão. Claro que aquela
"narrativa" servia para escamotear os crimes do colonialismo,
neocolonialismo e imperialismo, na África, Ásia, América Latina,
praticados por países que alardeavam os mais elevados padrões
democráticos e de direitos humanos.

Efetivamente, os objetivos colonialistas e imperiais sempre estiveram
envolvidos em ações tão execráveis, que tinham de ser mascaradas com os
mais elevados padrões civilizacionais. Na atualidade, trata-se
fundamentalmente de satisfazer a oligarquia capitalista a sua constante
e absoluta necessidade de alargar mercados, aumentar as áreas de
exploração e obtenção de lucros, sem ser constrangida por nenhum outro
poder.

A "ameaça comunista" foi transferida principalmente para a Rússia. A
Rússia é um país capitalista, tudo o que desejou e deseja é ter uma
relação de "parceria" com os EUA, porém a partir do momento em que com
Putin se começaram a avançar políticas de desenvolvimento económico e
intervenção estatal, cessando a propagação de calúnias contra a URSS,
tornou-se um poder, digamos, "alienígena" do império. E o império não
aceita parceiros – ou não pode aceitar – apenas aceita no seu conceito
de suserania, vassalos.

Pior, o segundo partido mais votado na Rússia, a seguir ao de Putin, é o
Partido Comunista, os símbolos soviéticos são preservados e (oh!
horror!) numa recente sondagem 70% dos russos avaliam de forma bastante
positiva o papel do líder soviético Estaline na história do país. [7]
<#notas>

Numa outra sondagem com respostas múltiplas o colapso da URSS é
considerada uma razão para os russos se envergonharem (45%) logo atrás
da maior opção (60%), que considerava maior vergonha a falha da Rússia
em não ter erradicado a pobreza. Respostas que aliás não deixam de estar
relacionadas. [7] <#notas>

Atualmente, os dissidentes soviéticos e a clique neoliberal que conduziu
o país ao caos e à ruína nos anos 90 estão totalmente desacreditados. A
maioria da população olha o Ocidente e em particular os EUA sem qualquer
simpatia. Falhadas as tentativas de infiltração e conspiração, de
encontrar "Guaidós" russos, resta ao Ocidente qualificar Putin como o
líder de uma ditadura, pôr em prática provocações, difundidas pelos
media controlados, criar momentos de tensão e justificar medidas
agressivas e xenófobas, que a extrema direita cavalga.

(continua)

1 - Caitlin Johnstone, CNN And WaPo Demand That Trump Further Escalate
Tensions With Russia, www.informationclearinghouse.info/51369.htm
<http://www.informationclearinghouse.info/51369.htm>
2 - US Provides Military Aid To More Than 70 Percent Of World's
Dictatorships, www.mintpressnews.com/...
<https://www.mintpressnews.com/us-provides-military-aid-70-percent-worlds-dictatorships/232478/>

3 - www.amnistia.pt/wp-content/uploads/2017/06/POL1048002017ENGLISH.pdf
<https://www.amnistia.pt/wp-content/uploads/2017/06/POL1048002017ENGLISH.pdf>

4 - Lawrence Davidson, God and U.S. Foreign Policy,
www.informationclearinghouse.info/51365.htm
<http://www.informationclearinghouse.info/51365.htm>
5 - kalingatv.com/...
<https://kalingatv.com/world/us-europe-responsible-for-children-killed-in-syria-yemen-afghanistan-pope-francis/>

6 - www.rt.com/news/456660-pompeo-lost-mind-china-diplomat/
<https://www.rt.com/news/456660-pompeo-lost-mind-china-diplomat/>
7 - www.rt.com/russia/456690-stalin-rating-historic-maximum/
<https://www.rt.com/russia/456690-stalin-rating-historic-maximum/> , 
www.rt.com/russia/449026-russians-ussr-collapse-shameful/
<https://www.rt.com/russia/449026-russians-ussr-collapse-shameful/>
 

In
RESISTIR.INFO
https://www.resistir.info/v_carvalho/insanidade_1.html
6/5/2019

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