quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O capitalismo em crise     


O que há por trás das opções do gabinete de Trump?

Sara Flounders




O gabinete de Trump será o mais rico de toda a história dos EUA. Não é dizer
pouco, num país onde a condição para ter sucesso em qualquer eleição é ser
milionário, ou ter apoios milionários. O demagogo que ganhou votos “contra o
sistema” rodeia-se de figuras gradas de instituições emblemáticas do sistema, do
Goldman Sachs à ExxonMobil. Os trabalhadores e os cada vez mais numerosos pobres
dos EUA pagarão a factura. Mas tudo isto se passa no quadro de uma profunda
crise sistémica do capitalismo. E quem levantou a voz “contra o sistema” poderá
vir a ver os oprimidos levarem a palavra a sério.


Desde as eleições os media corporativos concentraram-se no gabinete do
presidente eleito e nas nomeações do pessoal da Casa Branca, frequentemente
anunciados por tweets e inconfidências. A disputa entre as facções da classe
governante pela coordenação de vastos ministérios governamentais continua a ser
uma luta viciada, com subterfúgios, filtração de informação, escândalos
repentinos e exposição de factos sujos do passado pessoal.
Enormes interesses estão suspensos em equilíbrio. Os indivíduos nomeados são
esmagadoramente reaccionários e multimilionários. As suas nomeações confirmam
uma nova etapa de guerra total contra a gente pobre e trabalhadora. Esta
escalada pode provocar uma nova fase de luta de classes militante, a partir de
baixo.
Os departamentos que supervisam a educação pública, os cuidados de saúde, a
habitação e a protecção do meio ambiente estão nas mãos de administradores que
visam o desmantelamento e a destruição destas conquistas. As nomeações confirmam
que nenhum sector da classe operária integra a base real de Donald Trump. Os
seus compinchas são esmagadoramente milionários corporativos e operadores de
fundos de cobertura, todos pessoas do seu estrato estreito e privilegiado.
O seu gabinete será o mais rico na história dos Estados Unidos. Preservará as
suas posições e beneficios pessoais apesar dos seus muitos ataques durante a
campanha contra Goldman Sachs e sobre as ligações de Hillary Clinton a Wall
Street. As nomeações de Trump incluem três actuais ou antigos banqueiros de
Goldman Sachs e outros investidores multimilionários, para além de
directores-gerais de grandes corporações.
Cada uma das nomeações de Trump ocupar-se-á de serviços governamentais que
atribuem milhares de milhões de dólares em isenções de impostos para as empresas
privadas.
O gabinete de Trump e o capitalismo
Que dizem as nomeações de Trump sobre o próprio sistema capitalista? Durante
três gerações a classe dominante estado-unidense comprou a paz social no seu
país para fazer guerras no estrangeiro. Mas a decadência do capitalismo, a
desindustrialização, uma economia globalizada e a fuga de capitais que procuram
os salários mais baixos possíveis corroeram as vantagens passadas da classe
operária dos Estados Unidos.
Inclusivamente, antes da eleição de Trump, os Estados Unidos estavam já em
situação desfavorável relativamente a todos os demais países industrializados no
que diz respeito aos padrões mensuráveis de experança de vida, mortalidade
infantil e níveis educativos. O impulso para maximizar os lucros é cada vez mais
impiedoso. Cada vantagem social ganha através de décadas de luta de classes nos
Estados Unidos está sendo atacada.
Durante a campanha eleitoral, Trump acusou repetidamente o Goldman Sachs de
explorar a classe trabalhadora. Não obstante, escolheu o presidente de Goldman
Sachs, Gary Cohn, para dirigir o poderoso Conselho Económico Nacional da Casa
Branca. Nomeou Steven Mnuchin, que trabalhou no Goldman Sachs durante 17 anos,
como secretário do Tesouro. Wilbur Ross, CEO da empresa de banca de investimento
Rothschild Inc., com um valor de $2.5 mil milhões, foi nomeado para dirigir o
Departamento de Comercio.
Um titulo do New York Times de 10 de Dezembro aplaudiu estas opções de gabinete
como “obstinadas”. Tais decisões “difíceis” incluem a multimilionária Betty
DeVos como secretaria do Departamento de Educação. O seu objectivo é prejudicar
a educação pública e dar vales escolares para financiar escolas privadas e
religiosas.
Tom Price como secretário da Saúde e Serviços Humanos quer desfigurar a Lei de
Cuidados de Saúde a Baixo Preço. É co-patrocinador de um projecto de lei para
outorgar aos fetos igual protecção sob a Emenda 14 e é defensor da proibição da
cobertura de saúde e de todos os fundos federais para o aborto.
Jeff Sessions, nomeado como fiscal geral, é um senador republicano de Alabama
cujo objectivo está em impiedosas políticas de imigração. É um defensor racista
do encarceramento massivo, com a justificação de combater as drogas que provocam
dependência.
Andrew Puzder, Secretario do Trabalho, é um Presidente Executivo (P.E.) na
indústria da comida rápida que se opõe a um aumento do salario mínimo federal.
O congressista republicano Mike Pompeo, que instou o Congresso a reestabelecer a
recolha a granel de registos de chamadas telefónicas domésticas, foi nomeado
director da CIA. As escolhas militares de Trump deveriam constituir um alarme
para aqueles que alimentavam a ilusão de que Trump teria uma abordagem menos
ameaçadora que Clinton, que falou de uma “zona de interdição de voo” na Síria,
na expansão da NATO e no cerco militar a Rússia e China.
Ele nomeou o General da Marinha, James “Mad Dog”[“cão raivoso”] Mattis como
Secretario da Defesa, o General John Kelly, reformado da Marinha como Secretario
da Homeland Security e o general reformado Michael Flynn como seu conselheiro de
segurança nacional. Todos estes generais são considerados militaristas
extremistas, mesmo pelos padrões do Pentágono.
O cepticismo perante as alterações climáticas e uma forte aliança com as
indústrias do petróleo e do carvão são as qualificações de Cathy McMorris
Rodgers, para dirigir o Departamento do Interior. Ela apoia a perfuração em
terras do tratado do nativo americano e o acesso a terras federais intactas.
 Scott Pruitt como administrador da Agencia de Protecção Ambiental pede
“liberdade para as empresas estado-unidenses” e o fim das regulamentações.
Para qualquer pessoa preocupada com o meio ambiente, a alteração climática e a
guerra, a nomeação prevista de Rex Tillerson, CEO de ExxonMobil – “big oil” –
como secretário de Estado é especialmente inquietante. A ExxonMobil é a força
mais poderosa na negação da alteração climática e tem investimentos
multimilionários no Médio Oriente, Rússia, China, Venezuela, entre outros.
O caminho a seguir
A feroz luta na classe dominante que está a surgir entre interesses corporativos
em confronto desestabilizará ainda mais o processo político e reduzirá a
confiança na ordem capitalista. O Partido Democrata fará todo o possível para
conduzir o descontentamento para canais eleitorais seguros e controlados. A
escala do assalto à classe operária projectada por estas nomeações despertará
uma resistência sem precedentes dos mais oprimidos. O papel da liderança
revolucionária é ajudar a despertar a resistência da classe operária que luta
pelos seus próprios interesses.
In
O DIARIO.INFO
http://www.odiario.info/o-capitalismo-em-crise/
4/1/2017

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