sexta-feira, 19 de maio de 2017

Em direcção a uma «Primavera Latina» ?


Thierry Meyssan

A inquietação cresce na América Latina : os Estados Unidos e o Reino Unido
preparam aí uma «Primavera», decalcada no modelo das «Primaveras Árabes». É
claro, não se tratará desta vez de espalhar a guerra dividindo para isso as
populações na base de uma linha religiosa —os Latinos são quase todos cristãos—,
mas, antes de utilizar elementos de identidades locais distintivas. O objectivo
seria no entanto o mesmo : não o de substituir uns governos por outros, mas, sim
destruir os Estados para erradicar a mínima possibilidade de resistência ao
imperialismo.
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Com o tempo, inúmeros líderes políticos do mundo reinterpretaram as «Primaveras
Árabes». Aquilo que aparecia como sendo revoluções espontâneas contra governos
autoritários é agora percebido como o que realmente é: um plano anglo-saxónico
de desestabilização de toda uma região do mundo para lá colocar no poder os
Irmãos Muçulmanos. A memória da «Revolta Árabe de 1916», durante a qual Lawrence
da Arábia provocou o levantamento da região contra o Império Otomano fazendo os
Povos sonharem com a liberdade para acabar no final por escravizá-los ao Império
Britânico, mostra que Londres é perita no assunto.
Parece que os Anglo-Saxões preparam uma nova vaga de pseudo-revoluções na
América Latina. Tudo começou com um decreto de Barack Obama, a 9 de Março de
2015, declarando um “estado de emergência” em função da ameaça extraordinária
que a situação na Venezuela faria pesar sobre os Estados Unidos. Este documento
suscitou uma onda de indignação no continente forçando o Presidente dos EUA a
apresentar desculpas aquando de uma cimeira internacional. Mas... o decreto não
foi revogado e os preparativos para uma nova guerra continuam.
Ao contrário do Syrian Accountability Act (Lei de Responsabilização da Síria-
ndT) de George W. Bush (2003), o texto de Obama sobre a Venezuela é um decreto
presidencial e não uma lei. Por conseguinte, o Executivo não tem que prestar
contas dos preparativos ao Legislativo. Se levou oito anos aos Anglo-Saxões para
passar à acção no mundo árabe, em geral, e na Síria em particular, inúmeros
elementos sugerem que lhes bastará menos tempo para lançar um programa de
destruição de América Latina.
Motins irromperam no Brasil, por ocasião dos Jogos Olímpicos, contra a
Presidente Dilma Rousseff. Esta foi destituída na sequência de um processo
parlamentar, legal é certo, mas totalmente contrário ao espírito da
Constituição. Este golpe de Estado foi realizado sob a supervisão do Banco
Central —cujo nº2 era um brasileiro-israelita— por Deputados, dos quais muitos
estão hoje condenados por corrupção. Os Serviços de Segurança do Estado ficaram
estranhamente quietos durante este golpe. É que, durante os Jogos Olímpicos,
eles tinham sido colocados sob a coordenação de ... peritos israelitas.
Actualmente, o novo Presidente, o brasileiro-libanês Michel Temer é, por sua
vez, amplamente contestado.
A situação não é muito melhor no México. O país está de facto já dividido em
quatro. O Norte experimenta um forte crescimento, enquanto o Sul está em plena
recessão. Os dirigentes políticos venderam a companhia petrolífera nacional e
todas as suas reservas, a Pemex, aos Estados Unidos (que, aliás, não têm
necessidade do petróleo do Médio-Oriente). Apenas o Exército parece ainda
acreditar em Pátria.
Explorando os erros económicos do governo, a Oposição venezuelana conseguiu
organizar algumas grandes manifestações pacíficas. Simultaneamente, ela
organizou minúsculas reuniões extremamente violentas no curso das quais polícias
e manifestantes foram mortos. Semeando a confusão, as agências de notícias
internacionais dão a impressão que começou uma revolução contra os chavistas,
que não é o de todo o caso.
Assim, os três principais Estados latino-americanos estão a ser desestabilizados
ao mesmo tempo. Parece que os neo-conservadores norte-americanos
(“neo-cons”-ndT) antecipam uma possível paz na Síria e aceleram os seus
projectos latino-americanos.
Sexta-feira, numa alocução televisionada, o presidente venezuelano Nicolás
Maduro avisou o seu povo contra o projecto anglo-saxónico de «Primaveras
Latinas». Repetida e demoradamente ele citou os precedentes líbio e sírio,
perante uma plateia de intelectuais da região, à qual, Sírio de coração, eu me
associara.
Thierry Meyssan
Tradução
Alva
In
VOLTAIRENET.ORG
http://www.voltairenet.org/article196386.html
19/5/2017

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