terça-feira, 16 de maio de 2017

      O engano, a traição e a esquerda:   O prémio "Traidor do Ano"


       por James Petras 



       Enquanto a direita apoia fielmente as políticas e interesses dos seus
       apoiantes da classe dominante, a esquerda tem traído sistematicamente as
       promessas da sua plataforma política e enganado a classe trabalhadora, os
      empregados assalariados, os pequenos negócios e os seus apoiantes
       regionais.
       Inversões históricas têm acontecido em rápida sucessão por parte de
      líderes de esquerda, incluindo maior controle oligárquico sobre a
      economia, dominação política mais ditatorial pelas potências imperiais
      (EUA, UE), aumento de desigualdades e pobreza e apoio "de esquerda" a
      guerras imperiais.
       Em alguns casos líderes de esquerda foram além dos seus oponentes de
      direita ao aprovarem políticas reaccionários ainda mais extremas depois de
      assumir o poder.
       Neste ensaio identificaremos alguns dos vira-casacas de esquerda: Os
       "Campeões da Traição".
       A seguir faremos a revisão das suas inversões políticas e as
      consequências para a sua classe trabalhadora e apoiantes rurais.
       Em terceiro lugar, apresentaremos um estudo de caso do pior traidor "de
       esquerda" do mundo de hoje: Alexis Tsipras, primeiro-ministro da Grécia.
       Na secção final, discutiremos algumas das possíveis explicações para a
      tendência de reversões políticas de líderes de esquerda.
       "Esquerdistas" vira-casaca do princípio do século XXI 
       Há numerosos exemplos de antigos movimentos de guerrilha, regimes de
       esquerda e líderes políticos que obtiveram apoio popular de massa com a
      promessa de transformações radicais de estrutura e que deram meia volta
      para abraçar os interesses dos seus adversários oligárquicos e imperiais.
       Uma geração inteira de radicais, das décadas de 1960 e 1970, começou à
      esquerda e, durante os anos 80 e 90 acabaram em regimes "centristas" e de
      direita – tornando-se até colaboradores da extrema-direita e da CIA.
       Antigos combatentes guerrilheiros, que acabaram como centristas e
      direitas, tornaram-se ministros ou presidentes no Uruguai, Brasil, Peru,
      Equador e Chile.
       O comandante da guerrilha de El Salvador, Joaquin Villalobos,
      posteriormente colaborou com a CIA e proporcionou "aconselhamento" aos
       "esquadrões da morte" do presidente da Colômbia.
       A lista dos traidores do fim do século XX é longa e lúgubre. Suas
      traições políticas provocaram grande sofrimentos à massa dos seus
      apoiantes os quais sofreram perdas sócio económicas, repressão política,
       prisões, torturas, morte e uma profunda desconfiança em relação a
      intelectuais e líderes políticos "de esquerda", assim como às suas
      "promessas".
       O século XXI: Começar à esquerda e acabar à direita 
       A primeira década do século XXI testemunhou uma revitalização de regimes
      e partidos políticos de esquerda na Europa e na América Latina.
       As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), conduzidas pelo
      grande líder camponês Manuel Marulanda, tinham 20 mil combatentes e
      milhões de apoiantes. Em 1999, ela havia avançados para os arrabaldes da
      capital, Bogotá. A realidade hoje é uma inversão dramática.
       Em França, o Partido Socialista adoptou um programa de esquerda e em 2012
      elegeu François Hollande como presidente. Ele prometeu aumentar os
       impostos sobre os ricos para 75% a fim de financiar um programa maciço de
      empregos. Ele prometeu estender a legislação progressista do trabalho e
      defender as indústrias nacionais. Hoje a sua credibilidade está próxima do
      zero.
       Por toda a América Latina, gente de esquerda foi eleita para encabeçar
      governos, incluindo o Brasil, Argentina, Peru, Uruguai, Bolívia,
      Venezuela, Equador e El Salvador. Com a possível excepção da Bolívia e do
      Equador, eles foram removidos pelos seus parceiros ou oponentes de
      direita.
       Em Espanha, Portugal e Grécia emergiram novos partidos radicais de
       esquerda com promessas de acabar com os brutais programas de austeridade
       impostos pela União Europeia e lançar profundas transformações
      estruturais, com orientação de classe. Aqui a história está a repetir-se
      com outra série de traições.
       As FARC: Da revolução à rendição 
       Em Junho de 2017 a liderança das FARC desarmou seus combatentes,
       abandonando milhões de apoiantes camponeses em regiões anteriormente sob
      o seu controle. A assinatura das FARC do Pacto de Paz com o regime Santos
      não leva nem à paz nem a um pacto real. Dúzias de activistas já estão a
      ser assassinados e centenas de pessoas de esquerda e camponeses fogem para
      salvar a vida devido aos esquadrões da morte ligados ao regime Santos.
      Verificaram-se assassinatos ao logo do processo de negociação e
      posteriormente. Combatentes da guerrilha que depuseram as suas armas agora
      enfrentam julgamentos em processos farsa  (kangaroo trials),  enquanto
      camponeses que pedem a reforma agrária são expulsos das suas terras.
      Combatentes rasos e militantes das FARC são abandonados na selva com suas
      famílias sem lares, empregos e segurança em relação aos esquadrões da
      morte. As bases militares dos EUA e seus conselheiros permanecem. A
      totalidade do sistema sócio-económico está intacta. Só aos "líderes" da
      guerrilha que estão em Cuba é garantida segurança, duas confortáveis
      poltronas no Parlamento – as quais foram recusadas – e o louvor do governo
      estado-unidense.
       Os líderes e negociadores chefe das FARC, Ivan Marquez e Timoleon
       Jimenez, são claros competidores ao "Prémio Traidor do Ano".
       Presidente Hollande da França: Um colaborador imperial despejado pela
       sanita abaixo 
       O mandato do presidente François Hollande não foi muito além da traição
      da FARC. Ao ser eleito presidente da França em 2012 pelo Partido
      Socialista, prometeu "tributar os ricos" em 75%, estender a aprofundar
      direitos dos trabalhadores, reduzir o desemprego, reviver indústrias em
      bancarrota, impedir a fuga capitalista e acabar com a intervenção militar
      da França em países do Terceiro Mundo.
       Após um breve namoro com a sua retórica de campanha, o presidente
       Hollande avançou violentamente em favor dos negócios e do militarismo,
      contra os seus eleitores.
       Primeiro, ele desregulamentou as relações dos negócios com o trabalho,
      tornando mais fácil e mais rápido despedir trabalhadores.
       Em segundo lugar, reduziu a tributação dos negócios em €40 mil milhões.
       Em terceiro, impôs e depois ampliou um draconiano estado de emergência a
      seguir a um incidente terrorista. Isto incluiu a proibição de greves de
      trabalhadores a protestarem contra a legislação anti-trabalho e a taxa de
      desemprego com dois dígitos.
       Em quarto, Hollande lançou ou promoveu uma série de guerras imperiais no
      Médio Oriente e na África do Norte e Central.
       A França sob François Hollande iniciou o bombardeamento da NATO da Líbia,
      o assassínio do presidente Kadafi, a destruição total daquele país e o
      desenraizamento de milhões de líbios e trabalhadores da África
      sub-saariana. Isto levou a uma inundação maciça de refugiados
       aterrorizados através do Mediterrâneo e para dentro da Europa com dezenas
      de milhares a afogarem-se neste processo.
       O projecto neo-colonial do presidente Hollande administrou a expansão de
       tropas francesas no Mali (desestabilizado pela destruição da Líbia) e na
      República Centro-Africana.
       Como claro promotor do genocídio, Hollande vendeu armas e enviou
       "conselheiros" para apoiar a grotesca guerra da Arábia Saudita contra o
      empobrecido Iémen.
       O presidente Hollande aderiu à invasão mercenária dos EUA na Síria,
      permitindo a alguns dos mais puros jihadistas da França juntarem-se à
      carnificina. Suas ambições coloniais resultaram na fuga de milhões de
      refugiados para a Europa e outras regiões.
       No fim do seu mandato, em 2017, a popularidade de Hollande havia
      declinado para 4%, o mais baixo nível de aprovação eleitoral de qualquer
       presidente na história francesa! O único movimento racional que ele fez
      em todo o seu regime foi não procurar a reeleição.
       Primeiro-ministro grego Alexis Tsipras: "Traidor do ano" 
       Apesar da árdua competição de outros infames traidores da esquerda por
      todo o mundo, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras vence o prémio
      "Traidor global do ano".
       Tsipras merece o título de "Traidor global" porque:
       1) Fez a viragem mais rápida e mais brutal da esquerda para a direita do
       que qualquer dos seus venais competidores.
       2) Apoiou a subjugação da Grécia aos ditames dos oligarcas de Bruxelas
      quanto a exigências de privatizações, concordando em vender todo o seu
      património nacional, incluindo sua infraestrutura, ilhas, minas, praias,
      museus, portos, transportes, etc.
       3) Ele decretou a mais brutal redução de pensões, salários e salários
      mínimos da história europeia, enquanto aumentava drasticamente o custo de
      cuidados de saúde, hospitalização e remédios. Ele aumentou o IVA (imposto
       sobre o consumo) e impostos sobre importações e sobre o rendimento
      agrícola enquanto "olhava para o outro lado" em relação a impostos de
      evasores ricos.
       4) Tsipras é o único lider eleito a convocar um referendo sobre as duras
      condições da UE, recebe um mandato maciço para rejeitar o plano da UE e
      então dá meia volta e trai os eleitores gregos em menos de uma semana. Ele
      até aceitou condições mais severas do que as exigências originais da UE!
       5) Tsipras reverteu suas promessas de se opor às sanções da UE contra a
      Rússia e retirou o apoio histórico da Grécia aos palestinos. Ele assinou
      um acordo de mil milhões de dólares sobre petróleo e gás com Israel, o
      qual capturou campos petrolífero no offshore de Gaza e na costa libanesa.
      Tsipras recusou opor-se ao bombardeamento da Síria pelos EUA-UE, assim
      como da Líbia, ambos antigos aliados da Grécia.
       Tsipras, como líder do supostamente partido de "esquerda radical" SYRIZA,
      saltou da esquerda para a direita num piscar de olhos.
       A primeira e mais reveladora indicação da sua viragem para a direita foi
      o apoio de Tsipras à continuação da Grécia como membro da União Europeia
      (UE) e da NATO durante a formação do SYRIZA (2004).
       A "esquerda" do SYRIZA balbucia as platitudes habituais que acompanham a
      condição de membro da UE, levantando "questões" e "desafios" vazios
      enquanto fala de "lutas". Nenhuma destas frases "semi-grávidas" faz
       sentido para qualquer observador que entenda o poder que os oligarcas
      dirigidos pelos alemães têm em Bruxelas e sua adesão rígida à austeridade
      imposta pela classe dominante.
       Em segundo lugar, o SYRIZA tem desempenhado um papel menor, na melhor das
       hipóteses, nas numerosas greves gerais e movimentos de trabalhadores e
       estudantes que conduziram à sua vitória eleitoral em 2015.
       O SYRIZA é um partido eleitoral da classe média baixa, conduzido por
      políticos que querem subir na vida e que têm poucas, se é que algumas,
      ligações ao chão da fábrica e às lutas agrárias. Suas maiores lutas
      parecem revolver-se em torno de guerras internas de facção sobre assentos
      no Parlamento!
       O SYRIZA era uma colecção frouxa de grupos e facções briguentas,
      incluindo "movimentos ecológicos", seitas marxistas e políticos
      tradicionais que flutuaram sobre o moribundo e corrupto Partido Socialista
      Pan Helénico (PASOK). O SYRIZA expandiu-se como partido no princípio da
      crise financeira de 2008 quando a economia grega entrou em colapso. De
      2004 a 2007 o SYRIZA aumentou sua presença no Parlamento de 3,5% para
      apenas 5%. Sua falta de participação nas lutas de massa e suas querelas
      internas levaram a um declínio nas eleições legislativas de 2009 para 4,6%
      dos assentos.
       Tsipras assegurou que o SYRIZA pemaneceria na UE, mesmo sua
      auto-designada "ala esquerda", a Plataforma de Esquerda, liderada pelo
       "académico marxista" Panagiotis Lafazanis, prometeu "manter uma porta
      aberta para a saída da UE". Alexis Tsipras foi eleito primeiramente para o
      conselho da municipalidade de Atenas, onde atacou publicamente colegas
      corruptos e demagogos enquanto tomava lições privadas de poder da parte da
      oligarquia.
       Em 2010, o direitista PASOK e o partido de extrema-direita Nova
      Democracia concordaram com um bail-out da dívida ditado pela UE que levou
      a perdas maciças de empregos e cortes de salários e pensões. O SYRIZA, que
      estava fora do poder, denunciou o programa de austeridade e fez elogios
      verbais aos protestos maciços. Esta postura permitiu ao SYRIZA
       quadruplicar sua representação no parlamento, passando a 16% na eleição
      de 2012.
       Tsipras saudou [a entrada] de membros corruptos e conselheiros
      financeiros do PASOK para dentro do SYRIZA, incluindo Yanis Varoufakis,
      que passava mais tempo a andar de motocicleta para bares de luxo do que a
      apoiar nas ruas os trabalhadores desempregados.
       Os "memorandos" da UE ditavam a privatização da economia, bem como cortes
      mais profundos na educação e saúde. Estas medidas foram implementadas em
      ondas de choque desde 2010 até 2013. Como partido da oposição, o SYRIZA
      aumentou suas cadeiras em 27% em 2013 ... uns escassos 3% atrás do partido
      governante Nova Democracia. Em Setembro de 2014, o SYRIZA aprovou o
      Programa Salónica prometendo reverter a austeridade, reconstruir e
      estender o estado de bem-estar social, restaurar a economia, defender
      empresas públicas, promover justiça fiscal, defender a democracia
       (democracia directa, nada menos!) e implementar um "plano nacional" para
      aumentar o emprego.
       Todo o debate e todas as resoluções revelaram-se como uma farsa teatral!
      Uma vez no poder, Tsipras nunca implementou uma única das reformas
      prometidas no Programa. Para consolidar o seu poder como chefe do SYRIZA,
      Tsipras dissolveu todas as facções tendências em nome de um "partido
      unificado" – o que estava longe de ser um passo rumo a maior democracia!
       Sob o controle do "Querido Tio Alexis", o SYRIZA tornou-se uma máquina
      eleitoral autoritária apesar da sua postura de esquerda. Tsipras insistiu
      em que a Grécia permaneceria dentro da UE e aprovou um "orçamento
      equilibrado" contradizendo toda as suas falsas promessas de campanha de
      investimentos públicos para "ampliar o estado de bem-estar social"!
       Um novo bail-out da UE foi seguido por um salto no desemprego de mais de
      50% entre a juventude e de 30% de toda a força de trabalho. O SYRIZA
      venceu as eleições parlamentares de 25 de Janeiro de 2015 com 36,3% do
       eleitorado. Faltando um único voto para assegurar uma maioria no
       parlamento, o SYRIZA fez uma aliança com o partido de extrema-direita
       ANEL, ao qual Tsipras deu o Ministério da Defesa.
       Imediatamente depois de tomar posse, o primeiro-ministro Alexis Tsipras
       anunciou seus planos para renegociar com a oligarquia da UE e o FMI o
      bail-out da Grécia e o "programa de austeridade". Este falso
       posicionamento não podia ocultar sua impotência. Uma vez que o SYRIZA
      estava comprometido a permanecer na UE, a austeridade continuaria e outro
      oneroso bail-out se seguiria. Durante "reuniões internas", membros da
      "Plataforma de Esquerda" do SYRIZA no gabinete ministerial apelaram ao
      abandono da UE, ao repúdio da dívida e a forjar laços mais estreitos com a
      Rússia. Apesar de estarem totalmente ignorados e isolados, eles
      permaneceram como um impotente "sinal esquerdista" no gabinete
      ministerial.
       Com Tsipras agora liberto para impor políticas de mercado neoliberais,
       milhares de milhões fluíram para fora da Grécia e os seus próprios bancos
      e negócios permaneceram em crise. Tanto Tsipras como a "Plataforma de
      Esquerda" recusaram-se a mobilizar a base de massa do SYRIZA, a qual havia
      votado em favor da acção e exigiu um fim à austeridade. O impertinente dos
      media, o ministro das Finanças Varoufakis, simulou um espectáculo com
      grandes gestos teatrais de desaprovação. Estes foram abertamente
      descartados pela oligarquia UE-FMI como travessuras de um impotente
      palhaço mediterrânico.
       Superficiais como sempre, académicos de esquerda canadianos,
       estado-unidenses e europeus estavam amplamente inconscientes da história
       política do SYRIZA, da sua composição oportunista, da sua demagogia
      eleitoral e ausência total da luta de classe real. Eles continuaram a
      palrar acerca do SYRIZA como governo da "esquerda radical" da Grécia e
      cumpriram suas funções de relações públicas. Quando o SYRIZA abraçou
       flagrantemente os cortes mais selvagens contra os trabalhadores gregos e
      seus padrões de vida afectando a vida diária, os bem pagos e distintos
       professores finalmente falaram os "erros" do SYRIZA e serviram a
       "esquerda radical" deste ensopado de oportunistas! Suas grandes excursões
      oratórias à Grécia estavam acabadas e eles voaram para longe a fim de
      apoiar outras "lutas".
       Ao aproximar-se o Verão de 2015, o primeiro-ministro Tsipras tornou-se
       ainda mais próximo de toda a agenda de austeridade da UE. O "querido
      Alexis" despediu o ministro das Finanças Varoufakis, cujo histrionismo
      havia irritado o ministro das Finanças da Alemanha. Euclid Tsakalotos,
      outro "radical" de esquerda, substituiu-o como ministro das Finanças, mas
      revelou-se ser um maleável subordinado de Tsipras, desejoso de implementar
      toda e qualquer das medidas de austeridades impostas pela UE sem as
      travessuras.
       Em Julho de 2015, Tsipras e o SYRIZA aceitaram um duro programa de
      austeridade ditado pela UE. Isto rejeitava todo o Programa de Salónica do
      SYRIZA, proclamado no ano anterior. A totalidade da população e os membros
      da base do SYRIZA estavam cada vez mais irados, exigindo um fim à
      austeridade. Apesar de aprovarem um "cinturão de austeridade" para a sua
      base eleitoral de massa durante o Verão de 2015, Tsipras e sua família
      viviam no luxo numa  villa  generosamente emprestada por um plutocrata
      grego, longe das filas da sopa e barracas dos desempregados e pobres.
       O primeiro-ministro Alexis Tsipras implementou políticas merecedoras do
       prémio "Traidor do Ano". A sua estratégia foi dúplice. Em 5 de Julho de
      2015 ele convocou um referendo sobre a aceitação das condições do bail-out
      da UE. Pensando que os seus apoiantes "favoráveis à UE" votariam "Sim",
      ele tencionava utilizar o referendo como um mandato para impor novas
      medidas de austeridade. Tsipras julgou mal o povo: A sua votação foi um
      repúdio esmagador ao duro programa de austeridade ditado pelos oligarcas
      de Bruxelas.
       Mais de 61% do povo grego votou "não" ao passo que apenas 38% votaram a
      favor das condições do bail-out. Isto não se limitou a Atenas. A maioria
      em todas as regiões do país rejeitou os ditames da UE – um resultado sem
      precedente! Mais de 3,56 milhões de gregos exigiram um fim à austeridade.
      Tsipras estava "confessadamente surpreendido" ... e desapontado! Ele
      secretamente e estupidamente pensava que o referendo lhe daria carta
      branca para impor austeridade. Quando os resultados da votação foram
      anunciados afixou a sua habitual cara risonha.
       Menos de uma semana depois, em 13 de Julho, Tsipras renunciou aos
      resultados do seu próprio referendo e anunciou o apoio do seu governo ao
      bail-out da UE. Talvez para punir os eleitores gregos, Tsipras apoiou um
      esquema de austeridade ainda mais duro do que aquele rejeitado no seu
      referendo! Ele cortou drasticamente pensões públicas, impôs maciças altas
      regressivas de impostos e cortou US$12 mil milhões de serviços públicos.
      Tsipras concordou com o infame "memorando Judas" de Julho de 2015, o qual
      aumentavam o regressivo imposto geral sobre o consumo (IVA) para 23%, um
      imposto de 13% sobre alimentos, um aumento agudo nos custos médicos e
      farmacêuticos e de taxas de instrução, além de adiar a idade de reforma em
      cinco anos, para a idade de 67.
       Tsipras continuou a sua violência "histórica" sobre o sofredor povo grego
      ao longo de 2016 e 2017. O seu regime privatizou mais de 71.500
      propriedades públicas, incluindo o património histórico. Só a Acrópole foi
      poupada do leilão em bloco.. por enquanto! O desemprego resultante levou
      mais de 300 mil gregos educados e qualificados a emigrarem. Pensões
      cortadas para 400 euros levaram à desnutrição e a um triplicar de
      suicídios.
       Apesar destas grotescas consequências sociais os banqueiros alemães e o
      regime de Angela Merkel recusaram-se a reduzir os pagamentos da dívida. A
      abjecção de Tsipras não teve efeito.
       Altas agudas de impostos sobre combustíveis agrícolas e transporte para
      ilhas turísticas levaram a manifestações constantes e greves em cidades,
      fábricas, campos e auto-estradas.
       Em Janeiro de 2017 Tsipras perdeu metade do seu eleitorado. Ele respondeu
      com repressão: asfixiando com gás e espancando gregos idosos que
       protestavam contra suas pensões de pobreza. Três dúzias de sindicalistas,
      já absolvidos pelos tribunais, foram reprocessados pelos promotores de
      Tsipras num vicioso "julgamento espectáculo". Tsipras apoiou os ataques
      dos EUA-NATO à Síria, as sanções contra a Rússia e os acordos de energia e
       militares de mil milhões de dólares com Israel.
       Excepto durante a ocupação nazi (1941-44) e a guerra civil anglo-grega
      (1945-49), o povo grego não havia experimentado um declínio tão
      precipitado dos seus padrões de vida desde o tempo dos otomanos. Esta
      catástrofe ocorreu sob o regime Tsipras, vassalo da oligarquia de
      Bruxelas.
       Turistas académicos de esquerda da Europa, Canadá e EUA têm "aconselhado"
      o SYRIZA a permanecer na UE. Quando as consequências desastrosas dos seus
      "conselhos políticos" se tornaram claros... eles simplesmente voltaram-se
      ao aconselhamento de outras "lutas" com os seus falsos "fóruns
      socialistas".
       Conclusões 
       As traições de líderes "de esquerda" e "esquerdistas radicais" são
      devidas parcialmente às suas práticas comuns como políticos a fazerem
      acordos pragmáticos nos parlamentos. Em outros casos, antigos líderes
       extra-parlamentares e guerrilheiros foram confrontados com isolamento e
       pressão de regimes "de esquerda" vizinhos para submeterem-se a "acordos
      de paz" imperiais, como no caso das FARC. Enfrentando o fortalecimento
      maciço dos exércitos dos oligarcas, abastecidos e aconselhados pelos EUA,
      eles dobraram-se e traíram seus apoiantes de massa.
       O quadro eleitoral dentro da UE encorajou a colaboração de esquerda com
      classes inimigas – especialmente banqueiros alemães, potências da NATO,
      militares dos EUA e o FMI.
       Desde as suas origens, o SYRIZA recusou-se a romper com a UE e sua
      estrutura autoritária. Desde o seu primeiro dia de governo, ele aceitou
      mesmo as dívidas pública e privadas mais comprovadamente ilegais
       acumuladas pelos regimes corruptos do PASOK e da Nova Democracia. Em
       consequência, o SYRIZA foi reduzido a mendigar.
       Inicialmente o SYRIZA poderia ter declarado a sua independência, salvado
       seus recursos públicos, rejeitado dívidas ilegais dos seus antecessores,
      investido suas poupanças em novos programas de emprego, redefinido suas
      relações comerciais, estabelecido uma divisa nacional e desvalorizado o
      dracma para tornar a Grécia mais flexível e competitiva. A fim de romper
      as cadeias de vassalagem e da oligarquia estrangeira que impuseram a
      austeridade, a Grécia precisaria sair da UE, renunciar à sua dívida e
      lançar uma economia socialista produtiva baseada em cooperativas
      auto-administradas.
       Apesar do seu mandato eleitoral, o primeiro-ministro grego Tsipras seguiu
      o caminho destrutivo do líder soviético Mikhail Gorbachov, traindo seu
      povo a fim de continuar debaixo de uma aliança cega de submissão e
      decadência.
       Se bem que vários líderes ofereçam árdua competição para o "Prémio
      Traidor do Ano", a traição de Alexis Tsipras tem sido mais longa, mais
      profunda e continua até os dias de hoje. Ele rompeu mais promessas e
      reverteu mais mandatos populares (eleições e referendos) mais rapidamente
      do que qualquer outro traidor. Além disso, nada excepto uma geração
      permitirá aos gregos recuperar sua esquerda política [NR] . A esquerda tem
      sido devastada pelas mentiras monstruosas e a cumplicidade dos antigos
      "críticos de esquerda" de Tsipras.
       As obrigações de dívidas acumuladas pela Grécia exigirão pelo menos um
      século para terminarem – se o país puder mesmo sobreviver. Sem dúvida,
      Alexis Tsipras é o "Traidor do Ano" por unanimidade!!!

      30/Abril/2017
      [NR] Os preconceitos do autor levam-no a esquecer que não é preciso
       "recuperá-la" pois já existe o  KKE com uma posição firme, coerente e
      combativa. 
       O original encontra-se em  http://petras.lahaine.org/?p=2138 
       Este artigo encontra-se em  http://resistir.info/ .  
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/petras/petras_30abr17.html
16/5/2017

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