segunda-feira, 14 de maio de 2018

Abolição da escravidão em 1888 foi votada pela elite evitando a reforma agrária, diz historiador


Amanda Rossi
Da BBC Brasil em São Paulo


Em 13 de maio de 1888, há 130 anos, o Senado do Império do Brasil aprovava uma
das leis mais importantes da história brasileira, a Lei Áurea, que extinguiu a
escravidão. Não era apenas a liberdade que estava em jogo, diz o historiador
Luiz Felipe de Alencastro, um dos maiores pesquisadores da escravidão no Brasil.
Outro tema na mesa era a reforma agrária.

O debate sobre a repartição das terras nacionais havia sido proposto pelo
abolicionista André Rebouças, engenheiro negro de grande prestígio. Sua ideia
era criar um imposto sobre fazendas improdutivas e distribuir as terras para
ex-escravos. O político Joaquim Nabuco, também abolicionista, apoiou a ideia. Já
fazendeiros, republicanos e mesmo abolicionistas mais moderados ficaram em
polvorosa.
  Especial 130 anos da abolição: A luta esquecida dos negros pelo fim da
  escravidão no Brasil
"A maior parte do movimento republicano fechou com os latifundiários para não
mexer na propriedade rural", diz Alencastro. Foi aí que veio a aprovação da Lei
Áurea, sem nenhuma compensação ou alternativa para os libertos se inserirem no
novo Brasil livre. "No final, a ideia de reforma agrária capotou".

Nesta entrevista para a BBC Brasil, o historiador fala ainda sobre a origem da
violência do Estado atual contra os negros, afirma que a escravidão saiu da
pauta e passou a ser vista como um passado distante, apesar de não ter acabado
há tanto tempo assim, e critica o uso da palavra "diversidade" para se referir
aos negros. "Falar de diversidade é considerar que os negros são uma minoria,
como nos Estados Unidos. Mas no Brasil eles são a maioria. É muito mais que
diversidade, é democracia".
Alencastro é hoje professor da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. É também
professor emérito da universidade de Paris Sorbonne, onde lecionou por 14 anos,
e autor do livro "O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul".
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - Como entender que o Brasil tenha sido o último país a abolir a
escravidão nas Américas?
Luiz Felipe de Alencastro - O Brasil foi o último porque foi o que mais importou
africanos - 46% de todos que foram trazidos coercitivamente para as Américas.
Esse volume assombroso de africanos que chegou aqui acorrentado era considerado
como uma propriedade privada. Isso cria uma dinâmica em que a propriedade
escrava era muito importante. Muita gente tinha escravos. Nas cidades havia
gente remediada que tinha um ou dois escravos. Os estudos mostram que a
propriedade escrava no Brasil era muito mais difundida que na Jamaica ou no Sul
dos Estados Unidos. Assim, muita gente, e não só os fazendeiros, achava que o
país ia se arruinar se parasse de trazer africanos. Quase tudo dependia do
trabalho escravo e da chegada dos africanos.
  Por que a palavra 'descobrimento' renovou polêmica em Portugal sobre a
  conquista de terras como o Brasil
O Haiti é um caso limite, porque é primeiro país americano que chega à
independência, com uma revolução feita pelos escravos (iniciada em 1791). É a
única insurreição de escravos que chega ao poder no mundo. Já nos outros países
em volta do Brasil, a escravidão não era importante. E era importante no Sul dos
Estados Unidos.
BBC Brasil - Qual a diferença do processo de abolição no Brasil e nos Estados
Unidos, em 1863?
Alencastro - No Brasil, a escravidão não era como nos Estados Unidos. Lá, a
escravidão era regional, no Sul. No restante do país, havia uma economia
agrícola independente e movimentos abolicionistas. Já no Brasil a escravidão era
nacional, no país inteiro, e não havia um setor camponês independente. Por isso,
o abolicionismo não tinha como crescer em regiões circunvizinhas às zonas
escravistas. Como foi nos Estados Unidos? O norte do país, não escravista,
elegeu Abraham Lincoln, do partido republicano, e que era contrário à expansão
do escravismo nos novos territórios dos EUA e buscava uma solução negociada para
extingui-lo nos estados onde ele existia. Isso causou a ruptura dos estados
sulistas com a União. Ocorreu então uma guerra civil para acabar com a
escravidão, uma guerra sangrenta, que traumatiza até hoje o país. Aqui não
existia nenhuma parte do território em que a escravidão fosse ilegal. Então,
mesmo que houvesse 60 escravos no Amazonas na mão de alguns senhores, esse grupo
fechava com o partido escravocrata no Parlamento. Havia uma espécie de união
nacional em torno do tráfico negreiro e da escravidão.

BBC Brasil - Já se disse que as grandes transformações do Brasil ocorreram sem
participação popular, pelas mãos da elite política e econômica. A independência,
a abolição, a República. Mas isso é verdade para a abolição?
Alencastro - José Bonifácio de Andrada, que era uma espécie de primeiro-ministro
logo depois da independência do Brasil, mandou um projeto para a Assembleia
Constituinte, prevendo a abolição progressiva do tráfico e da escravidão. Já
naquele momento, a classe dirigente, o corpo da administração imperial tinham
perfeita noção de que manter o tráfico de escravos criaria um impasse. Porque a
Inglaterra deixara claro que só reconheceria a independência se o Brasil
acabasse com o tráfico. E o governo inglês, nessa época, tinha uma importância
enorme. Era como se fosse a ONU (porque garantia o reconhecimento diplomático
internacional), o FMI (porque emprestava dinheiro para o governo) e a OIT
(porque vetava a importação de africanos, mão-de-obra essencial no Brasil)
juntos, com uma força naval que desde a batalha de Trafalgar (1805) mandava em
todos os mares.
Quando a Inglaterra começou a pressionar mais fortemente, os dirigentes
brasileiros cederam, prometendo acabar com o tráfico a médio prazo. Em 1831 é
votado o fim do tráfico. Porém, sobretudo no Rio, e em menor medida na Bahia e
no Recife, se organizam redes comércio semiclandestino de escravizados
africanos. Só em 1850 , o comércio de africanos acabou de fato. Acabou de uma
vez. Caiu de 60 mil africanos desembarcados em 1849 para 6 mil em 1851. Como?
Porque houve um conchavo entre traficantes e governo. Se amanhã acabar o tráfico
de cocaína na Colômbia, não é porque o consumo de cocaína acabou e de um dia
para o outro os policiais ficaram virtuosos.
BBC Brasil - Que conchavo foi esse?
Os traficantes foram prevenidos antes que o tráfico ia acabar e foram tirando o
dinheiro. Houve uma negociação entre a classe dirigente (a administração
imperial) e a classe dominante (os fazendeiros, as oligarquias regionais). O
governo propôs uma lei de imigração para trazer trabalhadores rurais, uma
estrada de ferro na região cafeeira- porque o transporte era feito em lombo de
mula - e a redução das tarifas de exportação de café.
BBC Brasil - Depois que o tráfico acabou, qual passou a ser a estratégia do
Império?
Alencastro - Quando acaba o tráfico de escravos, acaba a fonte de reprodução
externo do sistema escravista. Depois há a Lei do Ventre Livre em 1871 (que
declarou livres os filhos de mães escravas que nascessem a partir daquela data).
Isso estanca outra fonte de reprodução da escravidão, que é a reprodução
demográfica interna. Dessa forma, houve uma estratégia gradualista para acabar
com a escravidão.
Este gradualismo se resume nesta ideia: a escravidão acaba quando o último
escravo morrer. Essa era a estratégia do Império. Aí ninguém perde dinheiro. Mas
surge então o abolicionismo. É um movimento como as Diretas já!: abolição já!
Não tem que esperar até o último escravo morrer para acabar com a escravidão.
Vamos abolir já, e sem indenização para os proprietários de escravos. Joaquim
Nabuco (político abolicionista) afirmou que o Brasil não tinha dinheiro para
pagar os crimes que cometeu.

BBC Brasil - Qual foi a participação do movimento abolicionista? E o povo,
participou?
Alencastro - O abolicionismo se acentuou na década de 1880. Há importante
liderança negra. Luís Gama, André Rebouças, José do Patrocínio, que se batiam
nos tribunais e nos jornais. Esses são os heróis. Também há muita gente anônima
que participou. Houve movimentos organizados para dar fuga a escravos, por
exemplo. Aqui em São Paulo, havia o grupo do Antônio Bento, os Caifazes. Havia
um grupo em Recife, que ajudava os escravos a fugirem para o Ceará, onde a
maioria dos municípios já não tinha mais escravos desde 1884, onde os
escravocratas eram minoritários . Já o Rio de Janeiro era a província onde o
escravismo era mais renitente. Em São Paulo, o oeste do Estado já estava
apostando na imigração porque havia muita fuga, e a fuga é uma forma de revolta,
dos escravos comprados no Nordeste. Essas ações acentuaram a crise do
escravismo.
BBC Brasil - Também se falava de reforma agrária, dar terras para os
ex-escravos.
Alencastro - A reforma agrária não estava na pauta da maioria dos
abolicionistas. Foi uma radicalização de uma parte minoritária. André Rebouças,
um engenheiro negro com muito prestígio, tinha um programa para criar um imposto
territorial sobre as fazendas improdutivas e fundar cooperativas de pequenos
camponeses. Nabuco, nos anos 1880, foi porta-voz dessas reinvindicações. Mas no
final, a ideia de reforma agrária capotou.
BBC Brasil - Por quê?
Alencastro - A maior parte do movimento republicano fechou com os latifundiários
para trazer imigrantes que trabalhassem nas fazendas e não mexer na propriedade
rural. Essa virada dos republicanos jogou Nabuco, Rebouças e outros no escanteio
e os fez apoiar a monarquia até o fim. Depois disso, (no livro) "Minha Formação"
(1900), Nabuco renega sua juventude abolicionista e faz uma declaração
monarquista que constitui uma das frases mais infames da história da política
brasileira: "Tenho convicção de que a raça negra por um plebiscito sincero e
verdadeiro teria desistido de sua liberdade para poupar o menor desgosto aos que
se interessavam por ela, e que no fundo, quando ela pensa na madrugada de 15 de
novembro (data da proclamação da República), lamenta ainda um pouco o seu 13 de
maio".

BBC Brasil - O projeto de reforma de Rebouças e Nabuco poderia ter ido para
frente?
Alencastro - A relação de forças não era favorável. Não havia um movimento
camponês a favor da reforma agrária, ou uma base popular lutando pelo o direito
à terra. No final das contas, o Brasil é um dos únicos grandes países
agroexportadores que nunca fez reforma agrária.
BBC Brasil - Além do campo, também havia muita escravidão nas cidades?
Alencastro - Se você somar a proporção de escravos no Rio com Niterói, você tem
uma concentração urbana de escravos que não existiu em nenhum outro lugar no
mundo, só no Império Romano. No Brasil, a escravidão também tinha essa
característica urbana, em uma escala que não ocorreu nas Américas. A escravidão
marcava as cidades. Em 1849, o Rio tinha 260 mil habitantes, 110 mil dos quais
eram escravos. Isso dá 42% da população.
BBC Brasil - Como foi o dia seguinte à abolição? O que aconteceu com os escravos
que se viram livres em 13 de maio de 1888, mas sem compensações, sem apoio do
Estado para começar uma vida nova?
Alencastro - Na sequência da abolição, a mão de obra imigrante vai aumentando.
Muitos ex-escravos ficam fora do mercado de trabalho na zona rural e, em parte,
nas cidades. Mesmo sendo brasileiros, os ex-escravos não tiveram cidadania
plena, porque a sua quase totalidade era analfabeta, e o voto do analfabeto foi
proibido em 1882, ainda no Império. Este ferrolho para excluir os negros livres
e os ex-escravos também atingiu os brancos pobres e analfabetos, como é óbvio.
Até 1985, quando o voto deles foi permitido.
BBC Brasil - A escravidão foi um processo de muita violência. Essa violência
usada contra os negros acabou quando a escravidão chegou ao fim?
Alencastro - A Constituição brasileira de 1824, no art. 179, proibiu punir
crimes com castigo físico. A partir daquele momento, não se podia mais torturar
- a inquisição portuguesa havia institucionalizado a tortura como prova, até a
pessoa confessar. Vem então o Código Criminal de 1830 que especifica no art. 30:
se o condenado for escravo ele não vai para a cadeia, a pena é transformada em
açoite. Isso porque se o escravo fosse para cadeia, causaria uma perda de
mão-de-obra e dinheiro para o seu senhor. Assim, o escravo era açoitado
publicamente, humilhado, torturado. Depois, semanas depois, quando estivesse
reestabelecido (do açoitamento), o escravo voltava a trabalhar. Então, a tortura
foi legal no Brasil até 1888, mas só para os escravos. Quando a abolição ocorre,
a polícia já estava habituada a bater neles. Neles e nos brancos desfavorecidos.
Como no caso do voto do analfabeto citado acima, os mecanismos da repressão
escravista contaminam a sociedade inteira.

BBC Brasil - 4,8 milhões de africanos aportaram como escravos no Brasil. É muito
mais que em qualquer outro lugar no mundo. Nos Estados Unidos, foram menos de
400 mil. Por que a vinda de escravos para o Brasil foi tão grande?
Alencastro - São vários fatores. Do ponto de vista da navegação, há um sistema
de correntes e ventos que aproxima muito o Brasil da África. A viagem de ida e
volta para os portos brasileiros era 40% mais curta do que a dos navios saindo
das Antilhas ou dos Estados Unidos, os quais enfrentavam turbulências na ida e
na volta, quando atravessavam a zona equatorial. O Brasil também tinha
mercadorias que eram trocadas por escravos, como tabaco e cachaça. Outro fator
importante são as conexões do Brasil com os portos africanos. Quando a Corte
portuguesa veio para cá, o Rio de Janeiro se tornou a capital do império
português - isso incluía Angola, Moçambique... Também havia bases mercantis de
interesse brasileiro lá - muito mais associadas ao Brasil do que a Portugal.
Isso os americanos nunca tiveram. O negócio negreiro dos Estados Unidos era
muito mais controlado pelos ingleses.
O terceiro fator é o boom do café, que aumentou muito o tráfico negreiro para o
Centro-Sul do Brasil. Quem estava financiando isso em última instância? O
operário e a classe média inglesa, francesa, russa, que estavam tomando café
mais frequentemente. O café do Brasil não tinha concorrência. A partir de 1840,
o Brasil vira o maior produtor mundial de café - e é o maior até hoje. Não foi
assim com o ciclo do açúcar, que sofria concorrência das Antilhas.
BBC Brasil - Os próprios africanos participaram do comércio de escravos, não?
Alencastro - Os africanos desenvolviam comércio de escravos localizado, limitado
aos circuitos regionais das zonas econômicas africanas. A articulação desse
comércio interno ao comércio Atlântico - que era um dos setores mais dinâmicos
da economia mundial, com companhias formadas, com acionistas investindo pesado -
criou uma demanda de escravos que exacerbou o tráfico interno africano. Também
houve a importação de armas europeias, dando maior impacto aos conflitos
internos, que eram os mecanismos de criação mercantil de escravos. O comércio
atlântico negreiro era um comércio totalmente europeu e brasileiro. Nunca houve
um navio africano vendendo escravo nos portos das Américas.
BBC Brasil - Como a escravidão explica o país e a sociedade que o Brasil se
tornou?
Alencastro - O tráfico negreiro em si explica muita coisa. Explica a unidade
nacional, por exemplo. Quem quisesse se separar do governo do Rio de Janeiro, da
Coroa, já sabia por antecipação que ia sofrer pressão da Inglaterra quando
ficasse independente e teria que acabar com o tráfico. Quem estava melhor
posicionado para moderar a pressão inglesa contra o tráfico transatlântico de
africanos? O governo do Rio de Janeiro. Uma monarquia que tinha corpo
diplomático bem plantado na Europa e era a única representante do sistema
monárquico europeu nas Américas. A unidade nacional brasileira é um fenômeno
inédito nas Américas. Falava-se a mesma língua. Mas da Patagônia até a
Califórnia também se falava a mesma língua, o espanhol e os 4 vice-reinos
espanhóis se fragmentaram virando 19 países.
Mas não é só. O tráfico também explica boa parte da diferença entre o Centro-Sul
e o Nordeste do Brasil. O sucesso do primeiro não é porque teve mais espírito
comercial. É por causa do café, mas também porque a rede negreira fluminense era
mais extensa e mais eficaz na África que a dos negreiros pernambucanos ou
baianos. Por isso, o café pode se expandir tanto.
BBC Brasil - 130 anos é pouco tempo, só cerca de quatro gerações. Mesmo assim,
parece muito distante. Por que temos a impressão de que a escravidão é um
passado tão longínquo?
Alencastro - Eu conheci gente em Goiás que falava do tempo da escravidão. E há
depoimentos de ex-escravos colhidos no Paraná, nos anos 1950. Por que parece que
é tão longe? Logo depois da abolição o assunto saiu de pauta. Salvo para se
ensinar que a abolição foi uma generosidade da Coroa, do governo, da redentora
princesa Isabel. Daí o motivo do movimento negro ter proposto a troca do 13 de
maio pelo 20 de novembro (Dia da Consciência Negra), da princesa Isabel por
Zumbi - numa luta política significativa. E depois veio também a imigração,
criou-se uma outra história popular que não deixava muito espaço para a história
dos afro-brasileiros.
BBC Brasil - A abolição foi uma farsa?
Alencastro - A abolição teve limites. Mas ela ocorreu, não foi farsa. Seria como
dizer que a República foi uma farsa, que não acabou com a monarquia. A abolição
acabou com a aberração gerada por um quadro institucional e legal que permitia
uma pessoa ter como propriedade outra pessoa e seus descendentes, de maneira
perpétua. A abolição também não foi uma benevolência da princesa ou do governo.
A monarquia já estava caindo, fez uma última manobra e caiu ao tentar captar a
plataforma abolicionista para enfraquecer o movimento republicano
BBC Brasil - O senhor é defensor das cotas...
Alencastro - O meu argumento das cotas é que elas são fundamentais para os
negros, para os índios e para os pobres e os brasileiros em geral. São elas que
vão consolidar a democracia plena no Brasil, com acesso à educação e ao
trabalho.
BBC Brasil - Há quem defenda cotas por renda, não por cor...
Alencastro - A cota social apareceu como um argumento substitutivo dos que não
queriam apoiar a cota racial. Ninguém falava em cota social no Brasil antes do
movimento negro levantar a bandeira da política afirmativa racial - a favor dos
negros e também dos índios, é importante lembrar. Trata-se de uma política
baseada nas estatísticas étnicas dos Estados. Na região amazônica a proporção de
jovens de origem indígena é importante e as cotas favoreceram a entrada deles
nas universidades federais.
O Supremo Tribunal Federal votou unanimemente pela constitucionalidade das
cotas, em 2012. Raras decisões do Supremo são unânimes. Juridicamente, a
situação estava definida: os negros não sofrem descriminação legal, mas há
mecanismos informais que os descriminam e desqualificam de forma óbvia. O censo
de 2010 mostrou que a maioria da população é negra. Esse dado deve ser bem
observado pela maioria dos progressistas e por setores do movimento negro que
consideram a política afirmativa como um instrumento em favor da diversidade. É
muito mais do que isso. É um instrumento em favor da democracia, do
funcionamento do Estado, que favorece o país inteiro. Achar que ela garante a
diversidade é considerar que os negros são uma minoria, como nos Estados Unidos.
Mas no Brasil eles são a maioria.
BBC Brasil - O senhor também defende o ensino de história da África nas escolas.
Alencastro - A maioria das pessoas que chegaram aqui são africanos. É esse o
dado que os professores têm que dar em reunião de pais e mestres, quando
perguntam por que perder tempo com história da África. Ora, porque a África é
mais importante para a formação do povo brasileiro do que a Ásia e boa parte da
Europa e das Américas.

In
BBC
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-44091474
13/5/2018

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