segunda-feira, 6 de março de 2017

Pacientes latino-americanos são reféns de empresas farmacêuticas


Josué Goge

Sob o pretexto de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, grandes empresas
farmacêuticas aumentam em quase 7 vezes o preço dos medicamentos nos países em
desenvolvimento. Além disso, pressionam até mesmo na política dos países através
do financiamento de campanhas eleitorais presidenciais.

A indústria farmacêutica é uma das maiores do mundo e até mesmo ultrapassa
setores de telecomunicações e a produção de armas. Trata-se de um negócio que
está nas mãos de um número relativamente pequeno de empresas, levando ao
monopólio comercial.
"Estas empresas fortes multinacionais têm grande poder, não apenas no mercado,
mas também na política. Por exemplo, nos EUA elas financiam campanhas
presidenciais, não cedendo a tais grandes indústrias como o setor de petróleo. A
mesma coisa está acontecendo em alguns países da América Latina", disse em uma
entrevista à Sputnik Mundo um economista colombiano com vasta experiência no
estudo da indústria farmacêutica, Álvaro Zerda.

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Sua influência na vida política, por exemplo, dos EUA, pode ser vista nos
requisitos diretos da "não aceitação de certas medidas de controle de preços de
medicamentos". Além disso, no caso de medicamentos comuns sem patentes,
corporações multinacionais criam intencionalmente uma imagem negativa das
concorrentes através da ideia de que são "apenas cópias" de má qualidade.
De acordo com Zerda, na Colômbia, tais medicamentos ocupam 30 a 35% do mercado.
Tais preparados são produzidos por empresas estatais, que têm de enfrentar a
concorrência de mercado com empresas transnacionais.
O economista afirmou que, em seu país, os gigantes da área farmacêutica,
defendidos por "direitos de propriedade" com medicamentos patenteados, nas
últimas duas décadas, monopolizam o mercado, atribuindo o valor desejado aos
seus produtos.
"Estudos mostram que na Colômbia, Equador e Peru há medicamentos que alcançam
até 700% de inflação, sendo sete vezes mais caro que o preço de qualquer
medicamento similar", comentou o especialista.
Pesquisas frisam que cerca de 50 laboratórios possuem patentes na maioria dos
medicamentos consumidos no mundo, muitas vezes essas substâncias são cruciais ao
decidir questões de vida e morte. Uma das maiores críticas a esta indústria é
que ela leva mais em consideração as condições de mercado ao invés de prioridade
sanitárias.
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Na América Latina, "a onda de fundamentalismo de mercado", que começou na década
de 80, criou uma situação de crescimento descontrolado nos preços dos
medicamentos. No entanto, "alguns países, ao observar que essas empresas
transnacionais vão contra o acesso à saúde e os mesmos orçamentos para
estruturas estatais e privadas, tentam regular o mercado".
"No Equador e na Colômbia, foi acordado que o preço de alguns medicamentos de
alta necessidade seja regulamentado no âmbito da taxa de preço que não exceda o
nível médio de sete países com economias comparáveis", frisou Zerda.
Mesmo nesta situação, "esta política ainda é muito fraca e modesta" por causa
das "enormes possibilidades de lobby político de empresas farmacêuticas", disse
o especialista. Sob o pretexto da necessidade de pesquisa e desenvolvimento,
aumentam os preços de seus medicamentos em valores exorbitantes.
"Possuem um espaço bastante amplo para fixar unilateralmente seus preços na
medida que se justificam porque têm que recuperar a inversão destinada à
investigação e desenvolvimento, experimentos clínicos e mais uma ganância
normal. A questão é que ninguém tem acesso ao custo real dos investimentos
farmacêuticos [em suas pesquisas]", disse Zerda.
O especialista relembrou que "até certo momento, houve certo interesse em
declarar medicamentos como bens públicos globais, que são essenciais ao direito
do ser humano à saúde". Isso implica em uma "pesquisa com verba pública que não
necessariamente obedeça as leias de rentabilidade e ganância que, sem dúvida, é
o objetivo destas empresas".
"O presidente da empresa Bayer descaradamente declarou que sua empresa tem como
objetivo não a criação de medicamentos para países pobres, mas os benefícios
econômicos. O problema é que este modelo de pesquisa se baseia em mecanismos de
mercado, rentabilidade, lucro e acumulação, ao invés de saúde pública", concluiu
Zerda.
In
SPUTNIK BRASIL
https://br.sputniknews.com/sociedade/201703067826302-pacientes-latam-refens-empresas-farmaceuticas/
6/3/2017

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