quinta-feira, 16 de março de 2017

 Por uma abordagem objetiva, aberta e contraditória da Revolução Russa



      Apelo-petição em vésperas do 100º aniversário da Revolução de Outubro
      Por uma abordagem objetiva, aberta e contraditória da Revolução Russa
      – Nem óculos "Brancos" sobre Outubro de 1917 nem a repetição de "Livros
      Negros" anticomunistas!



       por Annie Lacroix-Riz, Georges Gastaud e Jean Salem 

      
       Na abordagem do 100º aniversário do 7 de novembro de 1917, tudo se passa
      como se se tratasse – sobretudo para certos meios político-mediáticos,
      caucionados por certos universitários – de apresentar uma versão
      grosseiramente maniqueísta, tingida de encarniçamento anticomunisto,
      anti-bolchevique e anti-soviético.
      Não apenas Outubro não teria sido senão um "golpe" bolchevique
      interrompendo um amável curso democrático iniciado pela revolução russa de
      fevereiro. Não apenas os bolcheviques não teriam tido nenhum papel
       importante em fevereiro de 1917, não apenas o imenso levantamento
       proletário e camponês que a preparou, marcou e deu seguimento em 7 de
      novembro de 1917, não teria tido um caráter autenticamente democrático,
      popular e socialista, não apenas as suas consequências se teriam revelado
      unicamente catastróficas para a Rússia e para a humanidade, mas todo este
      processo se teria desenrolado – bem como a ulterior construção da URSS –
      num contexto puramente russo e quimicamente puro, praticamente livre de
       furiosas intervenções imperialistas, da defesa sangrenta e exacerbada dos
      privilégios pelas classes privilegiadas, do esmagamento brutal da
      revolução operária na Alemanha, seguido da ascensão do fascismo, nazismo,
      franquismo e dos militarismos, do Japão imperial à Europa Ocidental
      (Hungria, Itália, Espanha...)
       Os signatários do presente texto ficam horrorizados ao ver profissionais
       do campo da História misturarem-se no ar viciado deste nosso tempo
       anticomunista, "pós-moderno" e anti-progressista, abordando, sem
      excessivos escrúpulos metodológicos, o tema hiperbolicamente qualificado
      de Outubro russo.
       Os mesmos que evocam com comiseração a demasiado "ingénua" historiografia
      dos tempos recentes e que denunciam os "preconceitos" da conjuntura
      política que se seguiu a Estalinegrado, o 8 de maio de 1945 e o surgimento
      de um poderoso partido comunista em França, não se interrogam um segundo
      sequer sobre a atual configuração política na qual eles desenvolvem a sua
      reflexão "histórica" qualificada de crítica: ofensiva neoliberal; anexação
      para a esfera euro-atlântica dos antigos países socialistas; domínio de
       Berlim sobre a "construção europeia"; subida do Front National e viragem
      para a direita da sociedade francesa; destruição das conquistas sociais do
      Conselho Nacional da Resistência ligadas à ação dos ministros comunistas
       em 1945-47; ressurgimento dos impérios capitalistas disputando a
       hegemonia mundial, arremetida europeia, leia-se global, de diversas
      variedades de extremismo de direita e fundamentalismo religioso;
      degradação da relação de forças entre Trabalho e Capital e a nível
      mundial; diabolização da Federação Russa, que a NATO pressiona nas suas
      fronteiras de Vilnius a Kiev; multiplicação de guerras neocoloniais
      travestidas de "direito de ingerência humanitária" (África, Médio
      Oriente); criminalização das atividades comunistas em antigos países
      socialistas (Polônia, República Checa, Bulgária,...); negacionismo
      histórico caracterizado pelas autoridades japonesas sobre os genocídios
      cometidos na Coreia e na China; investida de grupos neonazis que
      proliferam na esteira dos poderes fascizantes, apoiados pela UE e a NATO
      (Ucrânia Hungria, as antigas repúblicas soviéticas do Báltico)...
       Esta tentativa pseudo-histórica de "varrer" Outubro de 1917 da memória
      coletiva tem objetivamente lugar numa paisagem historiográfica dominada
      pela reação:
         Acrescida complacência com a colonização francesa (por ex. os "aspectos
        positivos da colonização" (sic) que círculos sarkosistas pretendem
        inscrever nos programas escolares),
         Difamação da Revolução francesa, nomeadamente a sua fase jacobina e de
        Robespierre,
         Tendência para reabilitar Vichy e depreciar a resistência patriótica
        (particularmente negando o papel proeminente que desempenharam os
        comunistas),
         Relatos desonestos da História nacional que tanto desvalorizam séculos
        de construção do estado-nação em benefício da historiografia
        euro-politicamente correta, como pretendem ressuscitar um "romance
        nacional" expurgado dos confrontos de classes e da contribuição dos
        comunistas para a Frente Popular, a Resistência, as reformas
        progressistas da Libertação, a recusa das guerras coloniais, a defesa da
        liberdade, da paz, da soberania nacional, da igualdade entre homens e
        mulheres e do progresso social,
         Odiosa amálgama entre o Terceiro Reich e a pátria de Estalinegrado,
        perpetrada nos programas e manuais escolares, sob o nome de "ascensão do
        totalitarismo",
      Em suma, tudo se passa como se determinados círculos que monopolizam a
       edição, os media e boa parte da Universidade, estivessem menos
       preocupados em esclarecer sob um ângulo dialético, dinâmico, e
      eventualmente contraditório, os  Dez Dias que abalaram o mundo  do que
      retrospectivamente dar uma lição aos povos, especialmente à juventude,
      para os afastar para sempre das lutas da classe operária e
      revolucionárias...
       Como se fosse possível um simples "putsch" bolchevique ter podido
      mobilizar milhões de proletários e camponeses, varrer os exércitos brancos
      apoiados por dezoito corpos expedicionários estrangeiros, suscitar um
      extraordinário florescimento cultural, levantar o entusiasmo do movimento
      operário e dos povos dominados, derrotar a "invencível" Wehrmacht e,
      durante mais de sete décadas, pôr no cerne do problema geopolítico global
      a contradição socialismo/capitalismo, a descolonização e a igualdade entre
      homens e mulheres.
       Difamando a seu bel prazer Outubro de 1917, suas causas, seu progresso e
      suas sequelas, procura-se também dar tons cor de rosa ou branquear ao
       máximo o terrível resultado da restauração global do capitalismo que sob
      o nome de "globalização liberal" resultou na liquidação da experiência
      multifacetada da Revolução bolchevique.
       No entanto, os inquéritos de opinião atestam que feita sucessivamente a
      experiência de dois de sistemas sociais antagónicos, os povos do antigo
      campo socialista e mais fortemente ainda os da ex-URSS, continuam a honrar
      Lenine e todos os que permitiram a construção de uma sociedade alternativa
      em termos de ganhos sociais, paz civil, direito ao trabalho, acesso a
      cuidados de saúde e educação, respeito pelas minorias, desenvolvimento das
      culturas nacionais e das línguas, desenvolvimento científico, etc.
       Não deverão os verdadeiros democratas escutar a palavra dos povos ao
      invés de esmagá-los sob o termo pejorativo de "Ostalgia"? Será assim tão
      constrangedor que povos que sucessivamente testaram os dois sistemas
       sociais, e que não esqueceram por essa razão os bloqueios do "socialismo
      real" nos anos 70/80, afirmem apesar disso, depois de ter experimentado a
      restauração capitalista, a "Integração europeia" supranacional e
      neoliberal, a desestabilização sangrenta de países inteiros (Jugoslávia,
      Ucrânia...), a ascensão de extremistas de direita, a pressão militar
      exercida pela NATO nas fronteiras da Rússia, que o socialismo era sem
      dúvida melhor, incluindo os seus defeitos, que a explosão de máfias e das
      desigualdade que lhe sucederam sob a altamente discutível designação de
       "democracia liberal"?
       É por isto que os signatários deste texto, ainda que não tenham
      necessariamente todos os mesmos pontos de vista sobre a história
       russo-soviética, fazem ponto de honra em dizer com força que a Revolução
      de Outubro de 1917 deve deixar de ser lida apenas com o óculos "brancos",
       "termidorianos", contrarrevolucionários, ou mesmo claramente fascizantes
      daquelas e daqueles que em lugar de estudarem o movimento comunista, as
      lutas das classes dominadas e as revoluções populares - incluindo
      frequentemente a Revolução francesa e a Comuna de Paris – as combatem sem
      sequer ter a honestidade intelectual de evidenciar a sua orientação
      partidária.
       Não se trata para nós de exigir uma hagiografia da Revolução russa, mas
      de permitir às gerações jovens abordar o estudo do passado
       dialeticamente,  avaliar a sua complexidade a partir das dinâmicas das
      classes e das relações de forças internacionais da época, tendo em conta
      todos os seus aspectos; e acima de tudo, realizar este estudo sem palas
      anticomunistas nos olhos, sem preconceitos antissoviéticos e, finalmente,
      sem posições políticas contrarrevolucionárias.
       Contra aqueles que tentam já apropriar-se da próxima comemoração de
      Outubro de 1917 na base de evidentes preconceitos antibolcheviques,
      reabramos o debate contraditório, voltemos aos factos e proceda-se à sua
      recontextualização. Numa palavra, evite-se fazer do 100º aniversário de
      Outubro uma forma de vingança póstuma para os "Brancos" e todos aqueles
      que, na nossa época, sonham com um mundo definitivamente adquirido para o
       capitalismo, a integração euro-atlântica, a regressão social, as guerras
      imperialistas e a fascisação política.
       Primeiros signatários:
       Marie-Claude Berge  , professeur d'histoire;  Gwenaël Bidault  ,
      syndicaliste CGT (Sécurité sociale, 22) ;  Jean-Pierre Bilski  ,
      professeur d'histoire (34) ;  Pierre Boismenu  , psychanalyste et
      philosophe :  Danièle Bleitrach  , sociologue (13)   ; Christiane Combe  ,
      professeur de SVT retraité (19) ;  Jean-Pierre Combe  , ingénieur
      polytechnicien (19) ;  René Coucke  , psychanalyste (59) ;  Jean-François
      Dejours  , professeur de philosophie, syndicaliste (59) ;  Jean-Marc del
      Percio  , docteur en sciences politiques, ancien chargé d'enseignement à
       l'IEP de Lyon ;  Aurélien Djament  , mathématicien au CNRS, syndicaliste
      (44) ;  Bruno Drweski  , maître de Conférences HDR, Membre de l'ARAC ;
       Henriette Dubois  , « Nelly » dans la Résistance, ancien agent de liaison
      des FTP de la zone Sud, chevalier de la Légion d'honneur ;  Marianne
      Dunlop  , professeur agrégé de russe ;  Jean-Michel Faure  , professeur
      émérite de sociologie, titulaire d'un doctorat 3ème cycle à l'EHSS sur
      l'Agriculture Russe ;  Vincent Flament  , militant de la solidarité
      internationale, 59 ;  Joëlle Fontaine  , professeur d'histoire retraitée ;
       Benoît Foucambert  , professeur d'histoire, syndicaliste (81) ;
       Marc-Olivier Gavois  , professeur d'histoire ;  Jean-Christophe Grellety
       , professeur de philosophie (33) ;  Jean-Pierre Guelfucci  , militant
      syndical, fils de Résistant   ; Gilda Guibert  , professeur agrégé
      d'histoire (78) ;  Jean-Pierre Hemmen  , directeur de la revue théorique
      Etincelles, fils de Jean Hemmen, Fusillé de la Résistance, ancien militant
      de l'Internationale communiste et des Brigades internationales d'Espagne
      (80) ;  Gisèle Jamet  , professeur d'histoire ;  Edmond Janssen  , éditeur
      (75) ;  Jean-Pierre Kahane  , mathématicien ;  François Kaldor  , avocat
      honoraire ;  Fadi Kassem  , diplômé de Sciences po. Paris, professeur
      agrégé d'histoire (78) ;  Jacques Kmieciak  , journaliste (62) ;  Léon
      Landini,  ancien officier FTP-MOI, grand Mutilé de Guerre, Officier de la
       Légion d'honneur, Médaille de la Résistance, décoré par l'Union
      soviétique (92) ;  Guy Laval  , psychiatre (75) ;  Ivan Lavallée  ,
      universitaire et chercheur en informatique ;  Yves Letourneur  , poète,
      philosophe ;  Thérèse Lévené  , enseignante-chercheure en sciences de
      l'éducation, université de Lille 1, vice-présidente du CNU 70, syndiquée
      au Snesup ;  Olivier Long  , universitaire et peintre ;  Antoine Manessis
       , fils de Résistants, historien ;  Annette Mateu-Casado  , anc.
      documentaliste, fille de combattants antifascistes espagnols ;  Aymeric
      Monville  , éditeur de livres de philosophie et d'histoire (92) ;
       Dominique Mutel  , agrégé d'anglais (62) ;  Jean-Michel Pascal  ,
      ingénieur d'études (75) ;  Anna Persichini,  syndicaliste CGT (Métallurgie
      – 06) ;  Guy Poussy  , conseiller honoraire du Val-de-Marne ;  Pierre
      Pranchère  , ancien maquisard FTPF de Corrèze (dite la « Petite Russie »),
      ancien député ;  Christophe Pouzat  , neurobiologiste (94),  Benoît
      Quennedey  , historien (75) ;  Marie-Noël Rio,  écrivain (Allemagne) ;
       Hervé Sczepaniak  , professeur de lettres ;  Jean-Pierre Sienkiewicz, 
      agrégé de physique, syndicaliste (24) ;  Stéphane Sirot  , historien du
      syndicalisme (59) ;  Romain Telliez  , historien. Université de
      Paris-Sorbonne ;  André Tosel  , professeur émérite de philosophie à
      l'Université de Nice ;  Yves Vargas  , philosophe, fils de Résistant ;
       Maxime Vivas  , écrivain et journaliste.
       Associam-se a este apelo-petição internacional:
       Barbara Flamand  , écrivain, Bruxelles;  Domenico Losurdo  , philosophe
      et historien, professeur émérite à l'Université d'Urbino (Italie) ;  Anita
      Prestes  , professeur à l'Université Fédérale de Rio de Janeiro;  Miguel
      Urbano Rodrigues  , anc. député portugais au Conseil de l'Europe, anc.
      militant antifasciste et anticolonialiste, historien du mouvement
      communiste. 
       Para assinar clique  aqui .
       O original encontra-se em  www.initiative-communiste.fr/... 
In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/russia/apelo_peticao.html
16/3/2017

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