terça-feira, 7 de junho de 2016

Hillary Clinton, a Raínha do caos - um livro de Diana Johnstone




Miguel Urbano Rodrigues


Nas eleições presidenciais de 2008 nos EUA, a técnica de vender ao mundo um
presidente foi, desde início, um enorme logro coroado de sucesso.
Ao contrário, os candidatos que parecem estar destinados à disputa eleitoral de
2016, Hillary Clinton e Donald Trump, não só não suscitam qualquer entusiasmo no
mundo como levantam por todo o lado uma indignada interrogação: como é possível?
Neste texto, Miguel Urbano chama a atenção para um livro a lançar esta semana
em Portugal que, «apoiando-se numa documentação exaustiva, apresenta de Hillary
um perfil tão assustador que muitos eleitores norte-americanos podem concluir
que ela é mais perigosa do que Donald Trump.»




São poucos os escritores progressistas norte-americanos cujos livros denunciam a
estratégia de dominação planetária dos EUA como ameaça à Humanidade.

Diana Johnstone é quase uma exceção. Não é marxista nem revolucionária e
acredita nos valores da democracia ocidental. O que critica é o funcionamento da
engrenagem do poder, a ambição, a perversidade, a irresponsabilidade, o
belicismo da elite oligárquica que no seu país controla o sistema e define a sua
relação com o mundo.

Ligada aos Verdes, colaboradora de Counterpunch, especializada em temas
políticos europeus, Diana (81anos) reside em Paris e a maioria das suas obras
foi escrita em França.

O seu último livro, Hillary Clinton Rainha do Caos* tem entre outros o mérito de
chamar a atenção para a ameaça potencial que representa para a Humanidade a
candidata à Casa Branca que será provavelmente a próxima presidente dos Estados
Unidos.

Diana, apoiando-se numa documentação exaustiva, apresenta de Hillary um perfil
tão assustador que muitos eleitores norte-americanos podem concluir que ela é
mais perigosa do que Donald Trump. O multimilionário novaiorquino é um beócio
ignorante, xenófobo, racista, ultra reacionário. Conta com o apoio da
extrema-direita por d
efender projetos tão monstruosos como a construção de um alto muro eletrificado
na fronteira com o México e a
expulsão massiva dos imigrantes ilegais. É uma personalidade megalómana, um
irresponsável.

Mas, inesperadamente, Trump critica a corrida às armas, pretende reduzir o
Orçamento de Defesa, e melhorar as relações com a Rússia e a China. Discorda do
envolvimento dos EUA em novas guerras. Para ele a saída da crise passa pela
economia, pela expansão do comércio.

O escritor australiano John Pielger afirma que Hillary é favorável ao emprego de
armas nucleares táticas em algumas «guerras preventivas». Seria abrir a porta à
destruição da Humanidade.

FAVORITA DO COMPLEXO MILITAR INDUSTRIAL

O livro de Diana Johnstone transcende pelo seu conteúdo e significado os
problemas ligados à eleição presidencial.

Grande parte dos seus sete capítulos é dedicada a iluminar o funcionamento de um
sistema criminoso, montado por uma oligarquia que aspira a modelar o mundo sob a
égide dos EUA. No vértice dessa engrenagem situa-se o Complexo Militar
Industrial. O seu poder nocivo já era tamanho que Eisenhower, há mais de meio
século, no seu discurso de despedida alertou o povo americano para a sua
perigosidade.

O desaparecimento do «inimigo comunista» estremeceu os alicerces da poderosa
indústria que produz armas, considerada pelo sistema base da prosperidade
nacional.

O governo Truman recusou todas as propostas de desarmamento da União Soviética,
que aspirava a uma paz duradoura para reconstruir o país, devastado pela guerra.

A elite do poder estado-unidense decidiu que era imprescindível inventar novos
inimigos e desencadear em cadeia guerras para os destruir.

A estratégia agressiva de dominação universal foi o complemento da política
imposta pela sobrevivência e agigantamento do Complexo Militar Industrial.

Iniciou-se então um ciclo de agressões bélicas que perdura desde meados do
século XX: Coreia, Vietnam, Camboja, Laos, Iraque, Afeganistão, Somália, Iémen,
Líbia. O estado neofascista de Israel foi no Médio Oriente o aliado permanente
do imperialismo estado-unidense.

Diana Johnstone analisa em pormenor os mecanismos utilizados para anestesiar a
consciência dos povos de modo a viabilizar essa estratégia.

As agressões militares são apresentadas como iniciativas humanitárias em defesa
da liberdade e da democracia. A fórmula tem sido repetida com êxito, tendo como
instrumento um sistema mediático manipulado pelo imperialismo.

Campanhas massacrantes de deformação da história precedem as agressões
militares. As «guerras preventivas» são justificadas pela necessidade de
destruir ditaduras e tiranos que oprimem os seus povos e ameaçariam «a segurança
dos EUA». A demonização dos comunistas do Vietnam, de Sadam Hussein, de Khadafi
foi prólogo de intervenções militares que devastaram os países «libertados»,
matando centenas de milhares de pessoas.

HILLARY FAVORITA DO PENTÁGONO

Hillary aprova o famoso comentário da sua íntima amiga Madeleine Albright sobre
o poder das forças armadas dos EUA: «Para que ter toda essa força militar se não
a usamos?»

Apoiou, com entusiasmo por vezes, todas «as guerras preventivas» do seu país.

Na juventude foi admiradora do senador Barry Golwater, o caçador de bruxas,
ideólogo da campanha de perseguição a intelectuais e artistas acusados de filo
comunistas.

Em 1999 foi ela quem convenceu o marido, o presidente Bill Clinton, a iniciar o
bombardeamento da Sérvia pela NATO e a expressar solidariedade com a mafia do
Kosovo. O esfacelamento da Jugoslávia foi aliás o laboratório de «guerras
preventivas» posteriores.

Quando senadora, em 2009, deslocou- se às Honduras para impedir que Cuba fosse
readmitida na OEA. Semanas depois, o presidente Zelaya foi metido em pijama num
avião e expulso do país. Hillary, então secretária de estado, qualificou o golpe
militar de «crise», convidando «todas as partes» a resolver o problema «sem
violência». Posteriormente aprovou a fraude eleitoral que «legitimou» o golpe.
No seu livro de memórias Hard Choices (Escolhas difíceis) define o seu estilo
diplomático como «O poder Inteligente». Esse poder – escreve Johnstone –
significa para ela recorrer a todos os meios possíveis para promover a hegemonia
mundial dos EUA».

Sionista desde a adolescência, afirmou repetidas vezes que é inquestionável o
direito de Israel a assumir-se como «estado judeu».

Hillary defende a tese do «excecionalíssimo americano”. Para ela os EUA são uma
nação predestinada a salvar a humanidade, a «ultima esperança da humanidade». No
cumprimento dessa missão instalaram mais de 600 bases militares em 148 países.

Fiel a essa mundividência qualifica de criminosos os lideres de pequenos países
que não se submetem às exigências de Washington. No que toca a Julian Assange,
Edward Snowden e o soldado Maning, as suas revelações são para ela «ataques aos
Estados Unidos e à comunidade internacional».

Como secretária de estado de Obama, intensificou a ingerência dos EUA nos
assuntos internos de 50 países. Hillary Clinton – escreve Diana – parece estar
totalmente convencida de que o progresso do mundo depende de os EUA dizerem a
toda a gente como se deve comportar desde a oração até ao quarto».

É uma metodista fervorosa e gosta de rezar em público em grupos de estudo da
Bíblia no Prayer Breakfast (Pequeno almoço de oração).A participação nessas
iniciativas, promovidas pela Rede de direita Fraternidade, não é, porém,
gratuita: custa 400 dólares.

Hillary, com frequência, invocava o genocídio de «povos oprimidos» para
justificar as «intervenções humanitárias». Na realidade eram as agressões
militares imperialistas que assumiam um carácter genocida, provocando autênticas
hecatombes. Assim aconteceu no Afeganistão, no Iraque e na Líbia.
Washington recorreu algumas vezes ao Tribunal Penal Internacional, de cuja
jurisdição os EUA aliás se excluíram, para obter a condenação de políticos do
leste acusando-os de genocidas. Manipulado, esse Tribunal de farsa, criado ad
hoc, julgou entre outros o ex-presidente da Sérvia, Milosevic, acusado de crimes
que não tinha cometido, como sublinha Diana Johnstone.

A OBSESSÃO ANTI RÚSSIA

Hillary desenvolveu desde a juventude uma obsessão anti Rússia. O ódio que
sentia pela União Soviética sobreviveu à destruição do regime socialista. Foi
transferido para Putin.

Durante os mandatos do marido como presidente, empenhou-se na defesa de um
projeto de reforma da saúde. Mal concebido e estruturado, fracassou. Ao ser
nomeada chefe do Departamento de Estado, esqueceu rapidamente essa frente de
luta.

Acarinhada pelos neocons e pelos generais e almirantes do Pentágono, desempenhou
então um papel importante em todas as campanhas que precederam agressões
militares desencadeadas pelos EUA em defesa dos «direitos humanos». Ao receber a
notícia de que Kadhafi tinha sido torturado e mutilado, começou – segundo
Johnstone – «a rir em gargalhadas felizes» e exclamou: «Viemos, vimos, ele
morreu».

Apoiou com entusiasmo as provocadoras, grupelho russo das Pussy Riot que em
frente do altar-mor da Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo, bolçaram
obscenidades e, cantando em coro, chamaram «puta» ao patriarca da Igreja
Ortodoxa Russa

Quando as moças foram condenadas pela justiça russa, Hillary assumiu a sua
defesa e em Nova York publicou no Twitter uma foto sua ao lado das Pussy Riot,
de visita à cidade, com uma mensagem: “É ótimo encontrar-me com as fortes e
corajosas jovens das Pussy Riot que recusam que as suas vozes sejam silenciadas
na Rússia».

Autêntica candidata do Pentágono, Hillary acompanhou com paixão os trágicos
acontecimentos da Ucrânia.

Ao saber que Victoria Nuland – «a minha querida porta-voz no Departamento de
Estado», como lhe chamava – fora nomeada para assumir o comando da agressiva
política de Washington na Ucrânia, Hillary congratulou-se com a escolha da
amiga. Posteriormente manifestou-lhe solidariedade ao explodir o escândalo da
sua conversa telefónica com o embaixador dos EUA naquele país, Geoffrey Pyatt.
Discutiam quem deveria ser colocado no poder em Kiev e Noland e desabafou: “A
União Europeia que se foda».

A reação de Hillary ao referendo em que o povo da Crimeia, por maioria
esmagadora, decidiu que a Península voltaria a integrar-se na Rússia foi
intempestiva e grotesca: qualificou Putin de «novo Hitler».

No conflito que levou à secessão das províncias russófonas do Leste da Ucrânia,
Hillary Clinton atribui a Vladimir Putin toda a responsabilidade da guerra civil
que assola o país. Não surpreende tal atitude vinda de quem não esconde a sua
simpatia pelo partido neofascista ucraniano Svoboda.

Na opinião de Diana Johnstone, «o desempenho de Hillary Clinton como secretária
de estado somente foi um grande êxito num aspecto: tornou-a a candidata favorita
do Partido da Guerra».

No seu importante livro esboça bem o perfil da mulher que segundo as sondagens
pode ser o próximo presidente dos EUA.



* Diana Johnstone, Hillary Clinton Rainha do Caos, Editora Página a Página,123
pág., Lisboa 2016 (Queen of caos: The Misadventures of Hillary Clinton, no
original inglês).

In
O DIARIO.INFO
http://www.odiario.info/?p=4037
6/6/2016

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