segunda-feira, 27 de junho de 2016

O resultado do referendo britânico sobre a saída da UE





por KKE

O resultado do referendo britânico demonstra o descontentamento crescente
da classe trabalhadora e das forças populares com a União Europeia e suas
políticas anti-povo. Contudo, essas forças têm que se desembaraçar das
escolhas dos sectores e forças políticas da burguesia e assumir um
carácter radical e anti-capitalista.

O resultado assinala a dissipação das expectativas fomentadas pelos
partidos burgueses – também na Grécia – de que, com os mecanismos da União
Europeia, os povos europeus prosperariam dentro de sua moldura.

O facto de que a saída de um país da União se tenha constituído em um
debate tão intenso – ainda mais um país com a importância da Grã-Bretanha
– deve-se, por um lado, às contradições internas da UE e às assimetrias de
suas diversas economias, e por outro lado, à confrontação em curso entre
os centros imperialistas, que se agudiza em condições de recessão
económica. Tais fatores reforçam o assim chamado eurocepticismo e dão
origem não somente a tendências secessionistas, mas também de tendências a
modificações nas formas de administração política da UE e da Eurozona.

Os veículos do eurocepticismo reacionário são os partidos nacionalistas,
racistas e fascistas, como o UK Independence Party (UKIP) de Nigel Farage,
a Frente Nacional de Jean-Marie e Marine Le Pen em França, a "Alternativa
para a Alemanha" e organizações similares na Áustria, Hungria e Grécia,
como por exemplo o partido fascista Aurora Dourada, a Unidade Nacional de
Giorgios Karatzaferis e outros. Mas o eurocepticismo também é expresso por
partidos que se rotulam como esquerda, que criticam ou rejeitam a UE e o
Euro, apoiam moedas nacionais e buscam outras alianças imperialistas, numa
estratégia que opera dentro da moldura capitalista.

Essas contradições e antagonismos permeiam as classes burguesas de todos
os Estados membros da União Europeia. Os processos económicos e políticos
que terão lugar tanto na Grã-Bretanha como no resto da União e as
negociações acerca da posição da burguesia britânica nos dias seguintes
ao referendo poderão levar a novos acordos temporários entre a UE e a
Grã-Bretanha. O que se pode ter por certo é que enquanto houver a
permanência da propriedade capitalista dos meios de produção e o poder
burguês, tais desenvolvimentos virão acompanhados por novos sacrifícios
dolorosos para a classe trabalhadora e as forças populares.

O resultado do referendo britânico expõe as outras forças políticas na
Grécia, que glorificaram a participação do país na UE durante anos a fio,
apresentando-a como um processo irreversível ou semeando ilusões acerca
de uma "Europa mais justa e democrática". Também expõe as forças que
consideram que a moeda nacional seja uma panaceia que levará à
prosperidade do povo. A Grã-Bretanha, com sua libra esterlina, adoptou as
mesmas medidas anti-povo e contra as classes trabalhadoras que tiveram
lugar nos outros países da Eurozona. E continuará a adoptá-las fora da
União Europeia, uma vez que seus monopólios seguirão tendo necessidade de
ser competitivos e rentáveis.

É certo que nos próximos dias as vozes e as "lágrimas" multiplicar-se-ão,
tanto por parte do governo SYRIZA-ANEL quanto dos outros partidos
burgueses, sobre a "necessidade de restabelecer a UE", sobre "o descaminho
da UE e a necessidade do retorno às raízes" etc. Contudo, a UE, desde sua
criação, foi e segue sendo uma aliança reacionária das classes burguesas
da Europa capitalista, com o objetivo de sangrar à morte as classes
trabalhadoras e saquear outros países do mundo, no quadro da competição
com os demais centros do imperialismo. Não é, e não será, um arranjo
permanente. A desigualdade e a competição capitalistas e a mudança na
correlação de forças irá, mais cedo ou mais tarde, fazer aflorar as
contradições, que não mais poderão ser superadas por compromissos frágeis
e temporários. Simultaneamente, novos fenómenos e processos de formação de
novas alianças reacionárias frutificarão no terreno do capitalismo.

Os interesses do povo grego, do povo britânico e de todos os povos da
Europa não podem ser abrigados sob "falsas bandeiras". Não podem ser
postos sob as bandeiras dos diversos sectores da burguesia, que
estabelecem suas escolhas e suas alianças de acordo com seus próprios
interesses e com base na maior exploração possível dos trabalhadores. A
necessária condenação da aliança predatória do capital e a luta pelo
desmembramento de todos os países da União Europeia, para ser efetiva, tem
de estar conectada à necessária derrubada do poder do capital pelo poder
dos trabalhadores. A aliança social da classe trabalhadora e as demais
camadas populares, o reagrupamento e o fortalecimento do movimento
comunista internacional são precondições para pavimentar o caminho que
levará a essa esperança.

Gabinete de Imprensa do CC do KKE


24/junho/2016

Ver também:
Sobre a vitória da saída da União Europeia no referendo realizado no
Reino Unido

Nous exigeons un référendum permettant au peuple français de rompre
définitivement avec la dictature européenne!

A versão em inglês encontra-se em inter.kke.gr/... . Tradução de LL.

In
RESISTIR.INFO
http://resistir.info/gb/nota_kke_24jun16.html
24/6/2016

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