quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Jovem brasileiro sonha ser tudo, menos professor




Sputnik

Depois de perder posições em importantes rankings de educação nos últimos
tempos, o Brasil enfrenta agora uma outra tendência preocupante. Pesquisa da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que a
parcela de alunos brasileiros de 15 anos que se interessa pelo magistério é
zero.

Marta Moraes, coordenadora-geral do Sindicato Estadual dos Profissionais de
Educação do Rio de Janeiro (SEPE-RJ), lembra que na década de 50 o magistério
era uma profissão que até a classe média alta procurava, nos anos 70 se tornou
uma forma de ascensão social, muito valorizada e respeitada em termos políticos.
Em termos salariais, a partir da década de 70 e de 80, porém, começou a haver
uma desvalorização, que vem se acentuando cada vez mais.
"Essa pesquisa está confirmando o que o SEPE vem denunciando há muito tempo:
nossa profissão vem sendo desvalorizada a cada ano pelos governos, que afirmam
que educação é prioridade no momento da eleição. Terminada a eleiçãom isso vira
palavra solta ao vento. A gente tem hoje um processo de abandono da profissão e
da própria rede pelos professores. Hoje o Estado perde de quatro a cinco
professores por dia, o que é muito grave. Está havendo um esvaziamento na rede e
nas nossas universidades, porque o jovem hoje não se interessa mais por essa
profissão."
A coordenadora-geral do SEPE lembra que a grande maioria dos professores é
feminina, trabalha 40, 60 horas semanais e ainda enfrenta uma segunda jornada
doméstica para cuidar da família.

"Você tem que trabalhar essa carga absurda, se deslocando de um lado para o
outro. A quantidade de trabalho que as professoras levam para casa é muito
grande. Você não tem políticas salariais para as profissionais de educação. Você
tem políticas de gratificação, políticas que jogam uma escola contra a outra e
que trabalham com uma lógica que não é a do serviço público e educacional, é uma
política visando ao meritocrático", critica.
Marta  cita ainda as péssimas condições de trabalho nas escolas, alunos que
chegam numa situação de absoluto abandono em suas casas, com famílias
dilaceradas.
"Você fica como um médico, psicólogo, mediador de conflitos nas comunidades. É
uma profisão com um desgaste muito grande e que não tem a menor valorização por
parte do governo. O jovem que está iniciando uma carreira quer ver uma carreira
que lhe garanta uma qualidade de vida, além de uma qualidade das condições de
trabalho. A nossa, infelizmente, não tem nenhum desses atrativos. O "Pátria
Educadora" é mais um lema. Todo governo que assume em nível federal, estadual e
municipal fica nisso: o lema é muito bonito, a frase é muito bonita, mas a
política criada muitas vezes é nefasta."
A coordenadora dá como exemplo negativo e de falta de diálogo com o governo a
reforma do ensino médio que, segundo ela, vai mais uma vez prejudicar os alunos.

"É assim que a gente vem sendo tratado: políticas criadas de cima para baixo com
nomes bonitos mas que, na verdade, são políticas que não procuram valorizar nem
o profissional de educação, nem a comunidade escolar e muito menos a educação
como um todo. É lamentável, e a gente não vê uma luz no fim do túnel com relação
a isso."

In
Suputnik
https://br.sputniknews.com/brasil/201612077094365-educacao-magisterio-pesquisa-desestimulo-remuneracao-carreira/
7/12/2016

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